"If it is yellow, let it mellow. If it is brown, flush it down (Se for amarelo, deixe que se misture. Se for marrom, puxe a descarga)". Com esse trocadilho sem sonoridade em português, nosso anfitrião Pete nos recebeu na casa alugada em Green Point, próximo ao estádio da Copa de 2010 na Cidade do Cabo, no final da tarde de 7 de fevereiro. Com o Dia Zero (Day Zero, quando a cidade poderá ficar totalmente sem água) se aproximando, Pete foi enfático:
— Banhos de 90 segundos, no máximo, para quando precisar lavar o cabelo, uma vez por semana. Fora isso, 60 segundos são suficientes.
Digo que costumo lavar o cabelo todos os dias.
— Desculpe, mas você não vai poder fazer isso aqui, lady.
E prosseguiu com um sorriso motivador:
— Aqui, cabelo sujo é sinal de consciência ambiental.
Havia uma semana que a Cidade do Cabo estabelecera o limite de 50 litros de água por dia por pessoa. Pela recomendação oficial, isso é possível, por exemplo, usando de três a cinco litros para tomar banho, apenas uma pia cheia para lavar a louça a cada 24 horas, dar uma descarga por dia, e ligar a máquina uma vez por semana, em ciclo econômico.
Em museus, parques e atrações turísticas, há no máximo uma pia funcionando nos banheiros. Na Table Mountain, uma das sétimas maravilhas naturais do mundo, torneiras secas em um dia de sol escaldante. É preciso dar um jeito com lencinhos umedecidos e álcool gel. Nas áreas mais pobres há relatos de racionamento até para a merenda escolar.
Não é de hoje que os sul-africanos convivem com essa escassez. Embora a seca atual seja uma das piores da história, várias áreas do país costumam passar meses sem chuva. Por isso, a população aprende a não desperdiçar.
Com consciência, os moradores da Cidade do Cabo conseguiram postergar de abril para julho o Day Zero. Nos oito dias que passamos lá, entre cinco adultos e três crianças (sete anos, três anos e um ano e 11 meses) constatamos que é possível, sim, tomar banho em 60 segundos e que o líquido indispensável à vida pode, sim, um dia acabar.