Daniel Gesswein Silveira nem se estressa mais. Pegar tranqueira em boa parte do deslocamento para o trabalho faz parte da rotina do administrador de 34 anos. Morador do bairro Vila Nova, em Novo Hamburgo, ele sai de casa todos os dias às 6h30min e utiliza a BR-116, rodovia que está passando por obras e que frequentemente registra acidentes, o que causa congestionamento.
Daniel trabalha em uma fábrica de plástico às margens da BR-386, em Montenegro, e faz diariamente um trajeto de 50 quilômetros, dos quais 25 quilômetros são pela BR-116. Depois, ele utiliza a BR-448, conhecida como Rodovia do Parque, e a BR-386. Para não se atrasar, ele sai de casa cerca de uma hora antes do que precisa estar no serviço.
— Sempre é uma dificuldade, principalmente na BR-116, sempre tem muita tranqueira. Tenho de pensar que eu preciso sair no mínimo 15 minutos antes do tempo normal de trajeto para poder chegar até o meu trabalho, é bem complicado — afirma Daniel.
Tem vezes que nem saindo mais cedo Daniel consegue evitar o atraso. A reportagem de GZH acompanhou o seu deslocamento na manhã desta segunda-feira (18).
No caminho, ainda na BR-116, um corpo foi encontrado próximo ao pórtico de Novo Hamburgo. Em razão disso, houve congestionamento, o que obrigou Daniel a reduzir a velocidade e ficar quase 10 minutos no modo "arranca e para".
— Pelo menos uma, duas vezes na semana eu costumo pegar algum acidente, algum problema, uma faixa bloqueada, alguma coisa sempre acontece — conta Daniel.
O administrador percorreu uma curta distância até ter de voltar a colocar o pé no freio. O motivo foi o congestionamento diário em São Leopoldo, na ponte sobre o Rio dos Sinos. No trecho, há diminuição de quatro para duas faixas, o que afunila o trânsito e gera cerca de três quilômetros de lentidão todos os dias. Uma das obras mais aguardadas — e que está com a conclusão atrasada — busca ampliar as faixas no trecho, com a construção de quatro novas pontes, duas em cada sentido. Enquanto não ficam prontas, o motorista precisa ter paciência.
Daniel chegou no trabalho mais de uma hora depois de ter deixado sua residência: a parada em São Leopoldo aumentou em 15 minutos seu percurso. Chegou 10 minutos atrasado.
— O meu gerente já tá sabendo que pode acontecer (o atraso). A gente tenta se programar um pouquinho antes para sair de casa, mas às vezes a nossa programação acaba não dando certo porque aparece algum outro tipo de empecilho na rodovia — conta Daniel.
Diminuição de movimento em comércio
Os transtornos na BR-116 no Vale do Sinos causam impactos para pessoas que trabalham nos trechos em obras. No cruzamento da RS-240 com a BR-116, na Vila Scharlau, em São Leopoldo, a construção de dois viadutos alteram o movimento na região e geram congestionamento nas duas rodovias.
Antes do início dos trabalhos, a tranqueira já era habitual na região. Mas as máquinas e britas dificultam a mobilidade para quem circula ao redor. Simone Kunzler diz que não esperava que a obra tivesse tanto impacto no seu negócio.
— Quando eu aluguei o ponto não existia obra. Passaram-se 30 dias e “explodiu” aqui na frente, fiquei sem estacionamento. O pessoal acha dificultoso vir até a loja porque tem trânsito, é ruim chegar até aqui. Ela passou de sucesso, que deveria ser, em grande prejuízo, sem o retorno financeiro que eu esperava. Estou profissionalmente, pessoalmente e emocionalmente abalada — desabafa a mulher.
Simone afirma que o faturamento médio nos últimos meses não tem sido suficiente para cobrir o aluguel do estabelecimento. Ela conta que a loja praticamente só funcionou durante o período que a rodovia está em obras. Nos 10 meses de existência, o faturamento médio foi de R$ 16 mil. Isso representa apenas 26% da projeção inicial de Simone, de R$ 60 mil mensais.
Dnit prevê conclusões a partir do próximo mês
A entrega das pontes estava prevista inicialmente para fevereiro de 2022, há mais de dois anos. Já os viadutos deveriam estar prontos no último mês de dezembro. Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), os principais problemas no Vale do Sinos devem ser resolvidos em breve. O colunista de GZH Jocimar Farina informou que o órgão pretende concluir as obras dos novos viadutos da Scharlau ainda em abril.
Para maio é estimada a finalização da terceira faixa de tráfego entre o Rio dos Sinos e o acesso para o bairro Scharlau. Já a liberação das quatro novas pontes na região deverá ocorrer até o fim de junho.
Outra dor de cabeça aos motoristas, as obras no asfalto devem seguir ocorrendo ao longo da Região Metropolitana. No trecho de Novo Hamburgo, que tem causado bloqueios parciais na rodovia, os trabalhos devem durar até maio. Mas as intervenções deverão continuar ocorrendo até Porto Alegre.