Conhecidas pela rivalidade na tradição popular, Pelotas e Rio Grande uniram-se em um movimento capaz de afastar diferenças partidárias e até mesmo históricas. Ao lado das outras 21 cidades da região, mais de cem lideranças municipais se juntaram para tentar destravar a paralisada duplicação da BR-116.
– Essa pauta transcende qualquer disputa partidária porque se trata de uma demanda que não é de Pelotas e nem de Rio Grande. É do Estado, seja para salvar vidas ou para fomentar a economia – diz o prefeito de Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer (PT).
O movimento nasceu no segundo semestre de 2016, quando prefeitos perceberam que o repasse de verba para o projeto encurtara. Mesmo com a movimentação local junto ao governo federal, o projeto recebeu previsão de orçamento para 2017 bem inferior ao que seria suficiente para dar ritmo à obra – somente R$ 74 milhões.
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Em fevereiro, as reivindicações até então isoladas tornaramse movimento regional graças a impulso externo: um evento sem qualquer relação com o projeto de infraestrutura. Um almoço no Palácio da Alvorada, em Brasília, oferecido pela primeira-dama Marcela Temer para prefeitas do país motivou Paula Mascarenhas (PSDB), de Pelotas, a endereçar uma carta ao presidente Michel Temer.
– Quando recebi o convite, pensei: "eu vou, mas vou levar uma pauta". E qual a pauta mais importante para a região? Claro que é a BR-116. De alguma forma, isso reacendeu o movimento – recorda.
Em três páginas, a prefeita enumerou a importância da duplicação para as exportações brasileiras e o risco de perda de recursos públicos caso não se retome as obras. Paula não encontrou Temer, mas pediu que Marcela entregasse o documento ao marido.
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O acontecimento na capital federal movimentou empresários que integram o conselho econômico da prefeitura de Pelotas e chefes municipais da região.
Em uma semana, marcaram a primeira reunião oficial do grupo de trabalho – com quórum superior a 30 pessoas, faltaram cadeiras para que todos sentassem.
– Montamos um grupo sem bandeira política. Não queremos ser protagonistas, mas unificadores do movimento e de todos os interessados na conclusão da obra – argumenta o prefeito de Jaguarão, Favio Telis (PMDB), presidente da Associação dos Municípios da Zona Sul (Azonasul).
Desde então, o movimento, batizado de Juntos pela 116, discute estratégias em um grupo no WhatsApp e busca apoio pelo Facebook. Além de prefeitos, estão envolvidos entidades empresariais, representantes de universidades, policiais rodoviários, brigadianos, militares, vereadores e, mais recentemente, deputados e senadores.
O grupo pede o remanejo no orçamento da União para que o governo federal destine mais R$ 140 milhões para o projeto neste ano – valor suficiente para liberar cerca de 90 quilômetros de pista duplicada para o trânsito.
Neste mês, a reivindicação foi levada ao governador José Ivo Sartori. Na segunda-feira, foi a vez de uma audiência pública na Assembleia Legislativa, que mobilizou um comboio de sete ônibus para Porto Alegre. Mais uma vez, não houve espaço para que todos se sentassem.
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