Depois de passar a noite em vigília no protesto que bloqueia a BR-101 em Três Cachoeiras, no Litoral Norte, mais de cem caminhoneiros seguem na rodovia na manhã desta sexta-feira. Com cartazes de apoio de associações do município de 11 mil habitantes, o grupo impede apenas a passagem de caminhões em ambos os sentidos da via.
O trânsito de outros veículos está liberado. Durante a tarde de quinta-feira, a categoria chegou a bloquear totalmente a passagem de veículos no sentido Santa Catarina-Rio Grande do Sul, o que causou congestionamento de mais de um quilômetro. À noite e na manhã desta sexta-feira, apenas a passagem de caminhões era impedida. No entanto, os veículos carregados com cargas hospitalares tiveram acesso liberado.
Os caminhoneiros que permanecem no protesto afirmam que não vão liberar a rodovia até que o governo apresente uma proposta de redução no preço do óleo diesel, maior gargalo da profissão atualmente.
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- Vamos resistir. Se eu tiver de passar 30 dias aqui, vou ficar. Do jeito que a coisa está não conseguimos mais trabalhar - afirmou Reginaldo Petri, 51 anos, caminhoneiro há 33.
Mesmo apoiando o movimento e à espera da redução do diesel, o caminhoneiro Adriano Trennepohl, 40 anos, afirma que se sentiu intimidado por manifestantes. Ele foi coagido a parar no município na terça-feira, quando levava uma carga de móveis para Itajaí (SC).
- Eu tinha que levar produtos para a inauguração de uma loja de colchões, mas perdi o prazo. Eles poderiam liberar a passagem de caminhões pelo menos alguns minutos por dia - relatou Trennepohl.
Por volta das 6h30min, houve exaltação de nervos no bloqueio. Um dos motoristas começou a discutir com o grupo que impedia a passagem dos caminhões no local.
- Sou empregado, preciso passar. Fui sequestrado e jogado aqui nesta cidade - gritou o homem ao grupo.
- Pode passar, tá liberado, ninguém te obrigou a ficar aqui - respondeu outro.
Aulas foram canceladas na cidade
A manifestação está localizada no quilômetro 25 da rodovia. Além dos motoristas às margens da BR-101, mais de quatro mil caminhoneiros estão no município, com os veículos estacionados pelas ruas.
Conhecida como cidade dos caminhoneiros, por possuir cerca de 700 moradores que seguem a profissão, Três Cachoeiras se transformou em base para o movimento e símbolo de resistência no Rio Grande do Sul. As principais ruas estão tomadas por caminhões, faixas informam o apoio de professores, mulheres e agricultores ao protesto, e a prefeitura ofereceu alimentação aos manifestantes. Cerca de mil refeições foram servidas ao meio-dia e à noite de quinta-feira no salão paroquial da cidade, preparada por voluntários.
Nesta sexta-feira, a prefeitura organiza mais um almoço.
- Não há família sem relação com ao menos um motorista de caminhão na cidade. Por isso, estamos acolhendo e oferecendo conforto aos manifestantes - informou o prefeito Nestor Sebastião, após acompanhar o jantar servido na quinta-feira.
Devido ao grande número de caminhões na cidade, a prefeitura decidiu cancelar aulas em três colégios nesta sexta-feira, que somam 1,7 mil alunos. O argumento do secretário de Educação, Marco Antônio Policarpo, é que o deslocamento dos estudantes ficou inviável.
PRF informará placas dos caminhões parados na BR-101 à AGU
Na quarta-feira, a Justiça Federal deferiu um pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) que pedia a liberação do trânsito na BR-101, bloqueado desde o dia anterior. A liminar determina também a desobstrução dos acostamentos da rodovia, que teria de ser feita a partir das 8h de quinta-feira.
A Justiça ainda autorizou o acionamento da Força de Segurança Nacional para a liberação da rodovia, caso haja necessidade. Segundo a liminar, o acionamento pode ser feito por um oficial de Justiça, pela AGU ou pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).
A 1ª Vara Federal de Capão da Canoa também estabeleceu multa de R$ 5 mil por hora para os motoristas que desobedecerem a decisão, além do enquadramento na infração prevista no artigo 174 do Código de Trânsito Brasileiro, de manifestação em via pública sem autorização.
A PRF está anotando as placas dos caminhões parados sobre a pista e repassará as informações à AGU. Até a noite de quinta-feira, a polícia não havia se pronunciado sobre a possibilidade de acionamento da Força de Segurança Nacional nesta sexta-feira.
A tropa, cujo efetivo não foi informado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) por "questão de segurança", está de prontidão, mas só deverá agir mediante pedido da PRF.
Desde o início dos protestos promovidos por caminhoneiros, pelo menos 19 ações foram ajuizadas na Justiça Federal do Estado pedindo a liberação de rodovias. Entre os autores estão a Advocacia-Geral da União (AGU), o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do RS (Sindilat/RS) e a empresa BRF S/S.
*Zero Hora