Você viajaria em um ônibus que não tivesse cinto de segurança? Que seu banco estivesse solto? Que em uma das janelas tivesse sido colocado um papelão no vidro quebrado? Ou em que o banheiro estivesse inutilizável?
Leia mais:
Ônibus que caiu em ribanceira estava a 122km/h no momento do acidente
Identificadas as nove vítimas do acidente com ônibus de Passo Fundo
Provavelmente quando você pensa dessa maneira não. Mas na necessidade e na falta de alternativa passageiros que embarcaram em ônibus da empresa Reunidas, em diferentes datas, mostraram a realidade que encontraram nos veículos em que trafegaram.
Evandro Rodrigues exibiu, em um vídeo postado numa rede social, um ônibus que estava com poltronas sem cintos de segurança e com uma delas solta. Morador de Ijuí, no Rio Grande do Sul, ele costuma fazer o mesmo percurso do ônibus que caiu na BR-282, em Alfredo Wagner, porém no sentido inverso, de Florianópolis a Posadas. Em 2014 ele fez a viagem com seu filho de 12 anos e gravou o vídeo.
Segundo Evandro, após a viagem ele entrou com um processo no Tribunal de Justiça de Santa Catarina, que julgou como improcedente seu pedido por danos morais:
"Tentei processo judicial, por Florianópolis, alertando a situação e os riscos. Não obtive sucesso.", relatou em e-mail. "Lamento pelos falecidos. Espero que algo seja feito. Não quero ser a próxima vítima do descaso, nem eu, nem meu filho, nem ninguém!"
Veja abaixo o vídeo feito por Evadro Rodrigues:
Juliane Trein passou por situação semelhante quando viajou de Dionísio Cerqueira para Florianópolis no dia 28 de dezembro de 2014. O ônibus que utilizou não tinha cinto de segurança e uma das janelas estava quebrada, com um pedaço de papelão para proteger. Conforme ela mostra em uma das fotos o banheiro estava muito sujo.
Foto: Juliane Trein / Divulgação
Cleria Maria Adler postou um comentário no Facebook em que relatou ser obrigada a utilizar os ônibus dessa empresa, porque é a única que atende o trajeto que ela faz no Oeste catarinense.
"Posso assegurar e afirmar, cada vez que viajo, ou meu marido, só tem caco de ônibus rodando. Teve vezes que trocamos três vezes de ônibus, um pior que o outro.... uma vez o ônibus veio de Chapecó a Blumenau sem freios. Os motoristas falam para a gente que tem vergonha da empresa em que trabalham", desabafou Cleria.
Janaina Damasco Umbelino é categórica ao afirmar que "para quem já pegou o ônibus da empresa Reunidas, essa é uma tragédia anunciada". Em seu relato no comentário do Facebook, ela diz ter passado por algumas situações na linha que faz o trajeto de Francisco Beltrão, município ao sul do Paraná, a Florianópolis.
Em uma das vezes, durante os 10 anos em que relata ter utilizado o transporte, se surpreendeu com a falta de cinto de segurança. Pelo Código de Trânsito Brasileiro, o equipamento é um item obrigatório, mas uma resolução do CONTRAN (Nº14/98) isentou microônibus e ônibus produzidos até 1º de janeiro de 1999 de tê-los.
"A obrigatoriedade do cinto segurança é uma lei nacional para todos os motoristas, certo? No entanto me surpreendi quando, num desses episódios, tivemos que trocar de ônibus e veio um sem cinto de segurança. Fui até o escritório da ANTT, na Rodoviária de Florianópolis, e o responsável para atender as reclamações me explicou que os ônibus fabricados antes de 1999 são isentos dessa obrigatoriedade, e é claro, na troca foi um ônibus desse período que nos foi dado", escreveu Janaina.
O advogado da empresa, Vinícius Marins, disse que está acompanhando as reclamações dos passageiros, mas que neste momento a empresa não está focada nestas reclamações, e sim em atender os pacientes que ainda estão internados nos hospitais e as famílias das vítimas do acidente em Alfredo Wagner. Em um momento posterior, a empresa garantiu que vai se manifestar sobre outros casos.