Entre os fenômenos astronômicos que têm sido temas de pesquisas e debates recentes destacam-se as tempestades solares. Em parte, essa curiosidade sobre o assunto se deve ao histórico evento de Carrington, ocorrido em 1º de setembro de 1859, quando uma das maiores tempestades solares geomagnéticas já registradas provocou consequências na Terra, como a destruição de telégrafos.
Para entender, do ponto de vista científico, o que são tempestades solares, GZH entrevistou Gabriela Carvalho Silva, doutoranda em astronomia e pesquisadora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), e Juliano Moro, pesquisador do Laboratório Sino-Brasileiro para Clima Espacial.
O que são tempestades solares?
As tempestades solares são produtos de reações que ocorrem no núcleo do Sol. Essas reações liberam grande quantidade de energia via fusão nuclear (união de dois átomos de um elemento para formação de um átomo de um terceiro elemento mais pesado) e ejetam partículas como prótons e elétrons, que são atraídas e acumuladas em campos magnéticos.
A grande concentração de prótons e elétrons em um campo magnético pode desencadear a tempestade solar, que se caracteriza como uma grande explosão com liberação de partículas superaquecidas.
— O Sol está constantemente lançando partículas carregadas no espaço, para todas as direções. Elas compõem o que chamamos de vento solar e esse fenômeno não é, intrinsecamente, perigoso para nós — explica a pesquisadora Gabriela Carvalho.
A tempestade solar também pode ser definida como o crescimento abrupto e de curta duração da quantidade de partículas presentes no vento solar — emissão contínua de partículas provenientes da coroa solar, que é o envoltório luminoso que se costuma ver durante os eclipses solares—, altamente energéticas e aceleradas a níveis comparáveis à velocidade da luz.
Como se forma uma tempestade solar?
As tempestades solares, também chamadas de tempestades geomagnéticas, se formam quando uma erupção solar — explosão na superfície do Sol ocasionada por mudanças no seu campo magnético — provoca o aumento da densidade das partículas liberadas pela estrela e eleva a radiação eletromagnética.
Nesse processo, as erupções solares provocam a ejeção de massa coronal, que é responsável pela formação da tempestade geomagnética.
De que forma a tempestade solar é percebida na Terra?
De acordo com o pesquisador Juliano Moro, quando uma tempestade solar se aproxima da Terra, o fenômeno é percebido porque provoca um distúrbio temporário na magnetosfera do planeta — região da Terra localizada a uma altura de cerca de 100 mil metros e que se estende para o exterior, em que o campo magnético influencia no controle dos processos físicos.
O efeito da tempestade solar é sentido na Terra porque uma onda de choque do vento solar atinge o campo magnético do planeta.
— As tempestades geomagnéticas frequentemente iniciam com um súbito aumento na intensidade do campo magnético horizontal, seguidas, em algumas horas, por um decréscimo neste mesmo campo antes de voltar aos níveis normais em alguns dias — acrescentou Juliano.
A doutoranda Gabriela esclarece que existe outra forma de perceber quando uma tempestade solar se aproxima:
— Conseguimos observar quando tempestades solares são formadas através do aumento da radiação eletromagnética, como na luz visível, ultravioleta, ondas de rádio e raios X — detalhou.
O que foi o evento de Carrington, de 1859?
O evento de Carrignton foi uma poderosa tempestade geomagnética ocorrida em 1º de setembro de 1859 que gerou grandes consequências para a Terra. Para se ter uma ideia, a tempestade do evento de Carrington foi três vezes mais violenta do que a tempestade mais intensa dos últimos anos, que ocorreu em 1989.
— Estima-se que o evento de 1859 levou 17 horas para percorrer a distância Sol-Terra — afirmou o pesquisador Juliano Moro.
O evento recebe o nome de Carrington em homenagem ao astrofísico britânico Richard Carrington, que desenhou, enquanto observava com seu telescópio o Sol, as várias manchas que surgiam na estrela. O registro foi feito em tela, já que nessa época o acesso à fotografia era escasso.
Durante o registro, o astrofísico observou que uma das manchas se tornou mais brilhante, com um lampejo mais intenso. Sem saber, na época, Richard estava registrando a maior tempestade solar vinda à Terra.
De acordo com a astrofísica Gabriela Carvalho,a tempestade de Carrignton foi uma combinação entre a direção do campo magnético do Sistema Solar e a intensidade da tempestade solar.
— Basta que essa coincidência ocorra novamente para que haja um evento tão intenso quanto esse. Por isso é tão importante continuarmos estudando e monitorando a atividade magnética solar — concluiu a pesquisadora.
Produção: Filipe Pimentel