Um grupo de pesquisadores da Universidade de Bristol, no Reino Unido, criou uma célula sintética a partir de bactérias que pode exercer várias funções de células vivas, como geração de energia e expressão de genes. O estudo, que ainda está na fase inicial de testes, foi publicado em 14 de setembro na revista científica Nature.
Para a construção da célula sintética, os cientistas utilizaram colônias de dois tipos de bactérias (Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa) que foram misturadas com microgotas vazias em um líquido viscoso. Uma das populações desses microrganismos foi capturada dentro das gotículas, enquanto a outra foi aprisionada na superfície das gotículas. Em seguida, foram rompidas as membranas das bactérias, banhando as colônias em uma enzima conhecida como lisozima e em melitina (polipeptídeo que se origina do veneno das abelhas).
Quando aconteceu o rompimento da membrana, as bactérias liberaram seu conteúdo, que foi capturado pelas gotículas para a criação de protocélulas revestidas por membrana. Nas primeiras 48h após o material ficar pronto, foi observada uma mudança em sua forma, de esférica para um modelo mais natural, parecido com uma ameba, e houve a constatação de que os filamentos proto-citoesqueléticos estavam funcionando perfeitamente.
Durante os primeiros testes com as células sintéticas, os pesquisadores constataram que elas poderiam realizar processos complexos, como a produção de moléculas responsáveis pelo armazenamento energético, transcrição e tradução de genes.
O diferencial desse trabalho é que, nas pesquisas anteriores, os cientistas concentraram seus esforços em produzir células artificiais capazes de desempenhar apenas uma única função, enquanto o atual estudo visou a criação de materiais sintéticos que podem exercer múltiplas atividades.
Futuras contribuições
Apesar de a pesquisa ainda estar em uma etapa inicial, os cientistas acreditam que, com mais alguns testes e aperfeiçoamentos no estudo, essas células possam ser utilizadas futuramente para a realização de tarefas programadas, que são desempenhadas naturalmente por células vivas, como gerar energia a partir de produtos químicos e fotossintetizar, atividade comum em bactérias roxas, por exemplo.
A equipe também espera que a pesquisa contribua na produção de etanol para biocombustíveis, no processamento de alimentos e também que possa auxiliar na medicina, principalmente em áreas de diagnóstico e biologia sintética.