Os astrônomos estão animados: a galáxia mais longínqua já detectada, a 13,5 bilhões de anos-luz da Terra, foi descrita em um estudo cujos resultados devem ser confirmados por observações mais detalhadas.
Foram necessários mais de 1,2 mil horas de observação do céu e a ajuda de quatro telescópios para encontrar o "HD1": um objeto muito luminoso, cuja "cor vermelha corresponde surpreendentemente às características de uma galáxia situada a 13,5 bilhões de anos", explica seu descobridor, Yuichi Harikane, em comunicado publicado juntamente com o estudo, na sexta-feira (8), pela The Royal Astronomical Society.
A intuição foi corroborada por dados complementares coletados pelo observatório Alma, no Chile: o HD1 situa-se 100 milhões de anos mais distante do que GN-z11, até agora a galáxia mais longínqua descoberta.
A galáxia HD1 surgiu há 300 milhões de anos depois do Big Bang, em um período muito primitivo do universo. E a luz que emana viajou por 13,5 bilhões de anos até chegar à Terra.
Para determinar sua idade, os cientistas mediram a desvio para o vermelho de sua luz de origem. Como o universo está em expansão, o espaço entre os objetos se amplia. E quanto mais remontamos ao passado, mais distantes estão estes objetos e mais sua luz se estica, deslocando-se em comprimentos de onda cada vez mais vermelhos.
— Quando encontrei este vermelho, fiquei arrepiado — disse o astrofísico da Universidade de Tóquio, um dos autores do estudo publicado no Astrophysical Journal.
Galáxia fértil para estrelas?
Mas há um problema: os cientistas também mediram uma intensidade excepcionalmente forte de radiação ultravioleta, um sinal de uma atividade que os modelos teóricos de formação de galáxias não tinham previsto.
Os autores do estudo apontam para duas hipóteses: a jovem galáxia seria um terreno particularmente fértil para a formação das estrelas, produzindo até cem por ano, uma taxa dez vezes mais alta do que o previsto.
Poderiam ser as chamadas estrelas de População III, que os astrônomos ainda não observaram. Tratam-se de astros primitivos que eram "mais maciços, mais luminosos e mais quentes do que as estrelas modernas", segundo Fabio Paccuci, do Centro de Astrofísica de Harvard (Estados Unidos), autor principal do estudo citado no comunicado.
Outra opção pode ser a presença de um buraco negro supermaciço no coração da galáxia, que absorve gigantescas quantidades de gás e emite poderosas radiações ultravioleta. Mas para isso, o buraco negro deveria ter 100 milhões de vezes a massa do Sol.
— Alcançar uma massa assim em tão pouco tempo é pouco crível — comentou a astrofísica Françoise Combes, do Observatório de Paris-PSL, que não participou do estudo.
Para resolver estas incógnitas, a galáxia HD1 foi selecionada como objetivo prioritário do telescópio espacial James Webb, com capacidade sem igual para contemplar os confins do universo.