Um foguete Soyuz, com dois cosmonautas russos e um astronauta norte-americano a bordo, pousou no Cazaquistão na quarta-feira (30), retornando à Terra após uma longa missão na Estação Espacial Internacional (ISS). A aterrissagem ocorreu com segurança, no sudeste do Cazaquistão às 11h28 (8h28 de Brasília), conforme programado.
Na cápsula Soyuz MS-19 viajavam os russos Anton Shkaplerov e Piotr Dubrov e o americano Mark Vande Hei, um raro exemplo de cooperação entre Washington e Moscou em meio a tensões sobre a Ucrânia.
Três helicópteros pousaram imediatamente ao lado da nave para pegar os passageiros que voltavam do espaço. Depois de ser arrastado para fora da cápsula por vários homens, Shkaplerov fez um sinal de positivo com o polegar para indicar que estava bem, com um sorriso largo. "A descida para a órbita baixa e o pouso ocorreram sem imprevistos, a tripulação está bem de saúde", disse a Roscosmos, corporação estatal da Federação Russa responsável pelos voos espaciais, em comunicado.
Os dois cosmonautas russos serão transportados a bordo de um avião especial para uma base russa na região de Moscou para se readaptar à vida na Terra, um processo que durará várias semanas. A Roscosmos não divulgou detalhes sobre o astronauta norte-americano, que detém o recorde de dias consecutivos passados no espaço para um astronauta americano, com 355 dias.
Tensões
A viagem espacial acontece num contexto de fortes tensões entre a Rússia e os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, pela guerra na Ucrânia. A cooperação espacial entre as duas nações está em cheque.
No início de março, a Roscosmos publicou um vídeo no qual afirmava em tom de brincadeira que Mark Vande Hei poderia permanecer na ISS em vez de retornar com a espaçonave Soyuz. Diante da preocupação dos norte-americanos, a agência russa teve que garantir que o astronauta estaria de fato na viagem.
Neste contexto de tensões, o diretor da Roscosmos, Dmitry Rogozin, que faz diversas declarações nacionalistas nas redes sociais, afirmou em meados de março que a operação das naves russas que abastecem a ISS será interrompida em razão das sanções ocidentais contra Moscou pela invasão da Ucrânia. Segundo ele, isso pode até fazer com que a ISS "amerisse ou aterrisse".
A cooperação espacial entre a Rússia e os países ocidentais foi uma das poucas áreas que não sofreu muito com as tensões crescentes desde a anexação em 2014 da península ucraniana da Crimeia por Moscou.
Entretanto, nas últimas semanas, vários projetos de cooperação não suportaram o peso da crise a respeito da Ucrânia. A Agência Espacial Europeia (ESA) anunciou em meados de março a suspensão da missão russo-europeia ExoMars e que buscava alternativas para o lançamento de outras quatro missões devido à ofensiva na Ucrânia. E, por sua vez, Moscou suspendeu o lançamento de satélites OneWeb, forçando sua operadora britânica a recorrer à empresa americana SpaceX do bilionário Elon Musk.