O anúncio no Facebook era atraente: um fone de ouvido sem fio por R$ 139 — um desejo da esposa do professor Felipe Furlan Moschenm, de Porto Alegre. A escolha foi feita, a compra concluída pela internet e o valor, pago. Mas Felipe nunca recebeu a mercadoria.
— A propaganda do 'Face' me direcionou para um site, eu comprei e paguei. Depois, nunca mais. Tinha até um telefone, mas nunca me responderam. Era golpe. Pelo Face, não compro mais nada — disse ele, que fez a compra no final do ano passado e até agora não recebeu o equipamento.
A venda de itens por meio das redes sociais cresceu em função da pandemia e das restrições de circulação de pessoas, e o Facebook se tornou uma ferramenta imprescindível para está apostando no comércio online. Entretanto, criminosos também se aproveitam do momento repleto de oportunidades para aplicar golpes, especialmente via anúncios em grupos, mensagens diretas e da plataforma marketplace, desenvolvida pelo Facebook justamente para facilitar transações.
Apesar de a maioria dos crimes cibernéticos ser aplicada no Instagram e no WhatsApp, especialistas consideram o Facebook uma porta de entrada para golpes e estelionatos.
— Muitas vezes, a interação entre a vítima e o golpista começa por ali. Seja com uma conversa direta sobre de um produto oferecido, seja fornecendo algum dado pessoal — destacou o advogado e especialista em crimes cibernéticos José Antônio Milagre.
Páginas de grupos apresentam diversos tipos de ofertas. Empréstimos para pessoas negativadas, produtos com valores abaixo do preço de mercado, criptomoedas, cursos ou qualificações estão entre as mais comuns na rede social ou no marketplace. Na enorme maioria dos casos, os produtos são verdadeiros e as comercializações ocorrem normalmente. Mas também é nesse cenário que os criminosos mais gostam de operar.
— Obviamente, a grande maioria utiliza a rede social e suas ferramentas de forma correta, com interesse em fazer o comércio do item. E isso tem que ser analisado com calma e cuidado. Às vezes, uma oferta chamativa ou um link enviado aleatoriamente podem ser indício de que não se trate de algo real — destacou o titular da Delegacia de Crimes Cibernéticos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) André Anicet.
Um dos crimes mais comuns aplicados por golpistas pelo Facebook é o de enviar links através do Messenger. De acordo com especialistas, a primeira situação a ser analisada é verificar quem encaminhou o material. Além disso, o contexto em que a mensagem foi enviada e uma análise da URL (o endereço) podem ajudar a evitar um golpe. Muitas vezes, criminosos se aproveitam de quem clica para instalar malwares nos equipamentos das vítimas, como vírus ou softwares maliciosos, que roubam dados. Esse crime é conhecido pelas autoridades como phishing.
Outro crime que cresceu recentemente é o de roubo ou falsificação de páginas de lojas conhecidas. Nessas situações, os golpistas oferecem produtos com valores habitualmente mais baixos que os do mercado. A vítima, sem perceber que a página é falsa ou foi roubada, realiza os procedimentos para a compra. Em muitos casos, a conta para pagamento é adulterada para que os valores sejam desviados para os criminosos.
Casos envolvendo empréstimos a juros baixíssimos também estão entre os mais comuns na rede social, principalmente em grupos do Facebook com ofertas de serviços. Os golpistas se passam por instituições financeiras e fazem boa parte da transação na rede, inclusive solicitando documentos das vítimas. Entretanto, para liberar o valor, a vítima é orientada a fazer um pagamento inicial.
— É nesse momento que o golpe é realizado. Os criminosos se estruturam para passar a imagem de que estão realizando o procedimento. Mas dizem que precisam de um “sinal”, um depósito financeiro da vítima para que possam liberar o valor do empréstimo. Nesse caso, depois do depósito, a vítima é bloqueada e os criminosos ficam com esse valor. Eles tentam com muitas pessoas, e em alguns casos isso tem resultado — destacou José Antônio Milagre.
A dica, segundo os especialistas, é que vítimas de golpes do gênero registrem na Polícia Civil um boletim assim que suspeitarem que estão caindo em um golpe.
— Velocidade é um fator importante nessas horas. Porque há tempo para tentar rastrear esse valor e chegar a quem cometeu o crime— ponderou Anicet.
Confira alguns dos principais crimes praticados no ambiente do Facebook:
Golpes de phishing: os estelionatários realizam o crime para obter informações e documentos pessoais das vítimas para aplicar outros golpes na rede. Em vários casos, os bandidos falsificam páginas e inserem formulários e campos para preenchimento de dados. Sem perceber, a vítima concede as informações, dando login, senha e mais dados aos criminosos, dos quais se aproveitam para realizar outros crimes.
Golpes em compras - criminosos criam anúncios direcionando os usuários a páginas falsas de lojas. Assim que o cliente começa a fornecer dados, os estelionatários têm acesso a conteúdos sigilosos, incluindo dados do cartão de crédito. Nesse caso, o cliente paga mas não recebe o produto que supostamente adquiriu, correndo ainda o risco de ter seus dados utilizados em outros crimes.
Empréstimos falsos - ofertas de empréstimo de dinheiro são comuns nas redes sociais. Entretanto, em alguns casos, os golpistas oferecem valores com juros baixos a pessoas que, pelos protocolos formais de consolidadas instituições bancárias, não teriam condições de obter. Para realizar a operação, os criminosos se passam por agentes de bancos de crédito e pedem que a vítima deposite ou faça transferência de um "sinal", um valor inicial para que o dinheiro seja liberado. Após, os bandidos somem, e a vítima não recebe o empréstimo nem o sinal de volta.
Falsas promoções - usuários são atraídos para páginas com intuito de participar de algum evento, sorteio ou promoção. Nesse caso, os golpistas afirmam que o usuário ganhou, e logo depois solicitam que a vítima forneça informações e preencha dados para ter acesso à premiação. Os dados ficam em poder dos criminosos e o usuário que venceu o sorteio ou a promoção não recebe o item prometido.
Facebook dá dicas sobre o que fazer
O Facebook informou que tem “equipes dedicadas a investigar e coibir essas condutas para evitar que pessoas mal intencionadas usem as plataforma para atividades impróprias". Sobre o serviço do marketplace, o Facebook frisou a importância da ferramenta, que permite anúncios gratuitos e renda extra para milhões de pessoas. Além disso, a página de compra e venda se tornou um importante local para descobrir negócios e serviços dentro de comunidades.
Confira o que o Facebook sugere para evitar cair em golpes na plataforma:
· Páginas do Facebook representando grandes companhias, organizações ou figuras públicas normalmente são verificadas e contam com um selo azul depois do nome. Caso veja anúncios em uma página ou perfil de uma grande marca sem o selo, recomendamos redobrar a atenção;
· Para pequenos ou médios negócios nas plataformas, vale conferir os comentários nas publicações, assim como a data de criação da página. Caso seja recente demais, verifique o histórico das interações e o que outros clientes têm comentado a respeito dos produtos e serviços da empresa;
· É importante ter cuidado com contas ou pessoas que direcionam a um site externo ou exigem compartilhamentos para obter um prêmio ou oferecer uma promoção. Vale verificar se a URL (endereço do site) externa parece estranha. O “https” no início do endereço é um indicador de segurança importante;
· As ofertas de produtos e serviços com preços muito abaixo dos valores médios praticados no mercado ou de anunciantes que exigem que o pagamento seja feito apenas de uma forma, como boleto bancário, por exemplo, merecem atenção especial;
· Tome cuidado também com pessoas que sugerem transferir a conversa para um local fora das plataformas, como por um e-mail diferente;
· Se optar por marcar um encontro para trocar um item pessoalmente, siga as orientações locais sobre distanciamento físico. Realize o encontro em uma área pública e bem iluminada e compartilhe as informações de local e horário com um amigo ou familiar de confiança através do Messenger.
Como denunciar crimes e golpes no Facebook?
Caso um usuário depare com anúncios considerados suspeitos, a orientação da empresa é reportar a situação ao próprio Facebook, que analisará o conteúdo. A rede social frisa que a prática contribui para evitar que um número maior de pessoas seja impactado por possíveis ações criminosas.
Para denunciar uma publicação:
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