A instabilidade do sinal de internet levou os pais do estudante Alan Somavilla, de 11 anos, a erguerem uma sala de aula improvisada em uma tenda de lona no meio da lavoura em Estrela Velha, na região central do Rio Grande do Sul. Era o único local onde o sinal do 3G apresentava estabilidade suficiente para o garoto acompanhar as atividades da escola no celular.
A história revelada pelo repórter Tiago Boff em GZH, no mês passado, comoveu o país e uma rede de solidariedade na internet se estabeleceu para ajudar a família a contornar o problema.
A situação foi resolvida a partir da instalação de um modem externo, capaz de captar sinal de antenas em um raio de até 20 quilômetros de distância, e um roteador para espalhar a conexão dentro da residência. Os equipamentos têm custo aproximado de R$ 1 mil e foram doados à família Somavilla pela empresa Elsys. No caso de Alan, a torre mais próxima estava a sete quilômetros da residência. Com isso, a nova instalação foi suficiente para garantir o sinal de internet móvel dentro de casa para o estudante, que não precisa mais acompanhar as aulas na lavoura em dias de chuva e frio.
- Esse modem externo é 12 vezes mais potente do que o celular. Por isso, o aparelho consegue vencer as barreiras e capta sinal mesmo em áreas onde ele é crítico - destaca Rogério Martins, proprietário de uma revenda da Elsys no Estado e responsável pela instalação na casa de Alan.
Martins relata que, no local, outra opção seria a instalação de internet por satélite. A estrutura envolve a colocação de uma antena parabólica que irá receber o sinal e é uma alternativa para áreas onde a fibra ótica ou a comunicação por rádio não chegam.
Com a nova estrutura, Alan relata que já não precisa mais ir até a barraca na lavoura para fazer as atividades escolares. Ele cursa o sexto ano do Ensino Fundamental na Escola Estadual Itaúba e pretende se tornar advogado no futuro.
- Agora posso estudar dentro de casa, o que é muito melhor - comemora o garoto.
Diretora da escola, Giovana Dalcin conta que outros 40 alunos também enfrentam dificuldades de conexão na região. Após a repercussão da história de Alan, a professora relata que empresas vêm mantendo contato para saber como podem ajudar a solucionar o problema.
Provedores regionais são alternativa
Se as grandes operadoras costumam investir pouco na infraestrutura em pequenas cidades e nas zonas rurais, por considerarem os pontos pouco rentáveis, os provedores regionais têm auxiliado a levar internet a locais distantes dos grandes centros urbanos. No Brasil, segundo a Anatel, há cerca de 14 mil empresas deste tipo em atuação. Somadas, elas já respondem por mais de 30% do mercado de banda larga no país.
- Sem esses provedores, o país estaria pelo menos 10 anos atrasado (em relação à área de cobertura) e as áreas rurais e pequenas cidades sofreriam mais. Os provedores têm sede em expandir a rede, mas acabam limitados pela alta carga tributária e a falta de capacidade de investimento - avalia Rosauro Baretta, conselheiro do CGI.br.
Barreta destaca que os provedores regionais poderiam expandir a infraestrutura em áreas remotas de maneira mais rápida, caso o governo federal estimulasse a criação de linhas de crédito mais acessíveis às empresas e reduzisse a carga tributária, hoje superior a 40% na prestação de serviços ligados à internet.
- Os provedores regionais geralmente são empresas familiares que estão inseridas naquelas comunidades e, por isso, buscam maneiras de viabilizar a criação da rede para distribuir a internet nos locais - conta Ivonei Lopes, presidente da Associação dos Provedores de Serviços e Informações da Internet no Rio Grande do Sul (InternetSul).
Atualmente, Lopes estima que haja cerca de 560 provedores com atuação no Rio Grande do Sul, cobrindo praticamente todos os 497 municípios gaúchos.