Um osteossarcoma, tipo de câncer agressivo, foi diagnosticado pela primeira vez em um dinossauro, após pesquisa liderada pelo Museu Real de Ontário (ROM) e a Universidade McMaster, ambas sediadas no Canadá. O artigo foi publicado na segunda-feira (3) na revista The Lancet Oncology.
Exemplos de tumores malignos são muito raros no registro fóssil, e em dinossauros nunca haviam sido documentados. O estabelecimento de padrões para diagnóstico de doenças pouco claras em fósseis de dinossauros abre portas para conclusões mais precisas. Além disso, entender os vínculos com doenças do passado ajuda cientistas a entenderem melhor a evolução e a genética de enfermidades.
O osso em questão é a fíbula do Centrosaurus, um dinossauro com chifres que viveu entre 76 milhões e 77 milhões de anos atrás. Descoberto originalmente no Dinosaur Provincial Park, em Alberta, em 1989, a parte malformada do fóssil era originalmente considerada uma fratura curativa.
Um grupo de cientistas do Museu Real de Ontário e de McMaster percebeu as propriedades do osso em uma viagem ao Museu Real Tyrrell em 2017 e decidiram investigar usando técnicas modernas.
Eles reuniram uma equipe de especialistas multidisciplinares e profissionais médicos de áreas como patologia, radiologia, cirurgia ortopédica e paleopatologia. A equipe reavaliou o osso e abordou o diagnóstico da mesma forma que seria abordado para o diagnóstico de um tumor desconhecido em um paciente humano.
— O diagnóstico de câncer agressivo como esse em dinossauros tem sido evasivo e requer conhecimento médico e vários níveis de análise para identificar adequadamente — diz Mark Crowther, professor de Patologia e Medicina Molecular e voluntário na ROM. — Aqui, mostramos a assinatura inconfundível de câncer ósseo avançado em dinossauro com chifres de 76 milhões de anos, o primeiro de seu tipo. É muito emocionante — acrescentou.
A fim de chegar ao diagnóstico de osteossarcoma, a equipe teve de examinar, documentar e moldar o osso para realizar tomografias computadorizadas de alta resolução. Então, seccionaram o osso e o examinaram com um microscópio para avaliação no nível celular-ósseo. Ferramentas de reconstrução 3D foram utilizadas para visualizar a progressão do câncer.
Para confirmar o achado, os pesquisadores compararam o fóssil a uma fíbula normal de um dinossauro da mesma espécie, bem como a uma fíbula humana com um caso confirmado de osteossarcoma. O espécime fóssil é de um dinossauro adulto com um estágio avançado de câncer que pode ter invadido outros sistemas do corpo. No entanto, como o fóssil foi encontrado em um local com muitos outros ossos, cientistas acreditam que ele morreu em meio à um rebanho de Centrosaurus atingido por uma enchente.
— A fíbula mostra um câncer agressivo em estágio avançado. O câncer teria efeitos incapacitantes no indivíduo e o tornaria muito vulnerável aos formidáveis predadores de tiranossauros da época — diz David Evans, presidente da Paleontologia de Vertebrados da ROM e especialista em dinossauros com chifres.
— O fato de esse dinossauro comer plantas ter vivido em um rebanho grande e protetor pode ter permitido que ele sobrevivesse por mais tempo do que normalmente faria com uma doença tão devastadora — afirma.
Osteossarcoma é um câncer que geralmente ocorre na segunda ou na terceira década de vida humana, e causa um crescimento excessivo e desorganizado do osso. A doença se espalha rapidamente, tanto no osso em que se origina como em outros órgãos, incluindo o pulmão.
— É fascinante e inspirador ver um esforço multidisciplinar semelhante que usamos no diagnóstico e tratamento de osteossarcoma em nossos pacientes, levando ao primeiro diagnóstico de osteossarcoma em um dinossauro — diz Seper Ekhtiari, residente em cirurgia ortopédica na Universidade McMaster.
— Essa descoberta nos lembra os vínculos biológicos comuns em todo o reino animal e reforça a teoria de que o osteossarcoma tende a afetar os ossos quando e onde eles estão crescendo mais rapidamente — afirma.