Por Frederico Renner Mentz
Empresário, sócio-fundador da Anlab e da Spirito Santo, conselheiro do Instituto Caldeira e investidor de startups
Há alguns anos, tive a oportunidade de conhecer uma das regiões mais promissoras do planeta por meio de uma missão ao Vale do Silício, uma experiência única, que mudou totalmente a forma como vejo a vida. Posso dizer que tive a chance de viajar para o futuro e ver como o mundo seria nos próximos anos. Foi quase como um choque, um soco no peito. A partir desse momento, posso dizer que fui picado pelo “mosquito da inovação”, como se fala no meio.
Na época, já me fascinava a ideia de conhecer o berço das empresas mais inovadoras do mundo: Google, Facebook, Netflix, entre outras gigantes. No entanto, os chamados unicórnios (empresas com valor acima de US$ 1 bilhão) não foram as que mais me impactaram, mas, isso sim, o chamado ecossistema de inovação, que, por meio de seus agentes, forma um ciclo virtuoso de empreendedorismo, colaboração e desenvolvimento humano.
Lá, nesse pequeno raio de terra, na região sul da baía de San Francisco (EUA), pude vivenciar intensamente a força da tríplice hélice: união das universidades, iniciativa privada e governo. Todos conectados em harmonia e representados fisicamente nos chamados “hubs” de inovação, estruturas físicas gigantescas onde, em um mesmo ambiente colaborativo, convivem startups, grandes corporações, investidores de risco (“venture capitalist”), universidades e uma enorme rede de relacionamento fomentada por encontros presenciais, os chamados “meetups”. Pude compreender, então, a força que tinha esse ecossistema e como empresas que começavam em garagens, como HP ou Apple, haviam se tornado, em poucos anos, as líderes da bolsa americana.
Quando voltei ao Brasil, meu “mindset”, como se fala no Vale do Silício, estava completamente transformado e, desde então, sabia que eu passaria a me dedicar a essa causa, pois tinha visto o impacto transformador que ela podia gerar na sociedade e como isso podia servir para a nossa cidade como uma política de desenvolvimento e fomento ao empreendedorismo. Estava determinado e precisava ajudar empreendedores a trilharem o mesmo caminho que eu. Então, juntamente com outros sócios, abri uma empresa com este propósito: auxiliar as pessoas e as empresas a terem contato com o ecossistema de inovação.
Passei também a me integrar com toda a comunidade local ligada ao tema, em especial, a uma iniciativa que chamou muito a minha atenção e que tinha como ideia a criação de um "hub" de empresas, no Quarto Distrito, por meio da figura de um instituto privado de inovação, conhecido hoje como Caldeira. Esse veículo tem como missão o incentivo ao empreendedorismo, a retenção e a atração de talentos, assim como fazer toda a conexão entre grandes corporações e startups. Além disso, o que é mais importante, trazer uma injeção da cultura do Vale do Silício ao povo gaúcho, com uma agenda positiva, criada com o apoio das três universidades que formam o chamado Pacto Alegre: PUCRS, Unisinos e UFRGS.
A partir desse momento, tive contato intenso com todos os empresários envolvidos nesse nobre movimento, que se engajaram, emprestaram seus nomes e apoio a esse propósito, fazendo com que essa iniciativa fundamental para o nosso Estado tomasse vida.
Em Porto Alegre, também pude conviver de perto com outros agentes do ecossitema de inovação, que não imaginava que existiam: parques tecnológicos incríveis, de primeiro mundo, os quais todos nós deveríamos ter a obrigação de conhecer já no colégio, além de uma vasta comunidade de startups, hoje a segunda maior do país, aceleradoras, coworkings, associações, fundos de investimento, investidores-anjo e entusiastas pelo tema.
Minha conclusão é de que esse é um caminho sem volta. Empresas e indústrias completas estão sendo reinventadas e, na capital gaúcha, não será diferente. Muitas já se deram conta disso e estão se conectando a iniciativas e agentes da chamada nova economia. Cabe a nós divulgarmos mais essas ações que estão sendo criadas na cidade. Precisamos voltar a enaltecer as novas façanhas gaúchas, pois esse é o único caminho para que nossos filhos vivam em um local desenvolvido e permaneçam interessados por Porto Alegre. Que venham mais Pactos Alegres, que venham mais Institutos Caldeira e empreendedores corajosos para transformarem mentes e recriarem indústrias e mercados.