Professora de tecnologia educacional da Universidade Aberta do Brasil, Paula Carolei trabalha na área há mais de duas décadas. Doutora em Educação, professora da Universidade Aberta do Brasil, ligada à Universidade Federal de São Paulo, ela alerta que a mera adoção das ferramentas não garante ganhos de aprendizado.
As novas tecnologias trazem uma contribuição positiva para o ensino?
Esse é um assunto complexo e polêmico. Com certeza, essas ferramentas mudam a relação com o conhecimento, a forma de aprender. Mas algumas delas seguem apenas interesses comerciais, são uma estratégia para o consumo de equipamentos e de softwares. Tem produtos que são reativos, são só estímulo e resposta, e tem outros de melhor qualidade, que ajudam o aluno a construir coisas, a questionar.
As escolas sabem fazer a triagem?
Elas têm dificuldade. O grande problema da escola é que ela quer um produto pronto. E muitas compram esses equipamentos. Muitas vezes, a adoção das tecnologias ocorre de cima para baixo: agora nós vamos usar iPad, agora nós vamos usar lousa digital. O professor não tem tempo de uma apropriação crítica. É preciso investir nessa apropriação. Não basta só colocar o material em sala de aula.
As ferramentas poupam trabalho do professor ou exigem mais dele?
Exigem mais. Trabalho muito com jogos. É possível aprender com eles, mas são só um recurso. Para transferir aquilo que se aprendeu no jogo a outros contextos, para a vida, o aluno precisa de alguém para questionar, para discutir com ele. Então, o papel do professor muda. Ele tem de pensar. O papel não é mais transmitir conhecimento. É, a partir do vídeo, do game, estimular a autoria, a criatividade, a investigação.
Como vê as plataformas de ensino adaptativo, que avaliam o nível do aluno e informam o que ele precisa estudar mais?
Sou muito crítica em relação a essas plataformas, pela maneira como são constituídas e pelo uso que se faz delas. É interessante usar dados de interação do aluno, poder mapear as dificuldades que ele tem. Mas quando é um algoritmo que define o que o estudante vai fazer, tiro a consciência dele do processo. Tem que dar escolha para a pessoa ser desafiada, senão limita e emburrece. O problema das plataformas adaptativas é que elas geram estereótipos, classificam, escolhem por você.
O uso de aulas gravadas em vídeo, como as da Khan Academy, é uma boa opção para as escolas?
Há uma diferença entre aprendizado indutivo, que já dou pronto, e aprendizado que faz a pessoa pensar. Há vídeos muito ruins, expositivos demais. Não desenvolvem habilidades mais complexas no aluno. A Khan Academy tem seu valor. O problema é ficar só no consumo de informação, achar que ela basta para o aprendizado. O vídeo não pode substituir o professor. Pode usar, mas tem de completar com atividades.