Eu quero, eu preciso mesmo de uma impressora 3D? Esta é a primeira das muitas perguntas que você deve se fazer ao pensar na tecnologia propagandeada como possível estopim de uma "terceira revolução industrial". Não, as impressoras tridimensionais não devem chegar às casas do mundo inteiro, mas, sim, elas já são essenciais.
Empresários falam sobre o presente e o futuro da impressão 3D. Veja o vídeo:
Tão cedo você não vai imprimir um produto assim que realizar uma compra, na sua sala de estar. Na verdade, talvez isso nunca aconteça, apesar dos inúmeros avanços. A manufatura aditiva, conhecida popularmente como impressão 3D, ainda engatinha quando se trata de máquinas para uso doméstico. Na semana passada, as principais empresas brasileiras e multinacionais do ramo se reuniram para a 2ª edição do Inside 3D Printing, em São Paulo, evento que neste ano passa por mais 10 países.
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A comprovação de que a tecnologia ainda está distante de se popularizar como uma impressora 2D comum é justamente a própria feira: empresários se reuniram para fechar negócios com outros empresários, não para discutir ideias de como vender o produto a consumidores comuns.
Rodrigo Krug, sócio-proprietário da Cliever, incubada no centro tecnológico da PUCRS, em Porto Alegre, era o único representante de uma empresa gaúcha na exposição. Ele lembra, com detalhes, da sua empolgação quando as patentes, antes exclusivas majoritariamente a duas multinacionais, caíram, em 2009, e ele resolveu investir no ramo, em 2011.
Sozinho, com os conhecimentos em mecatrônica, adquiridos em um curso no Senac, e a inventividade herdada do pai, marceneiro, projetou uma máquina e, em 2012, colocou à venda na Campus Party a impressora que ficou conhecida como "a primeira 100% brasileira" (só que os motores são produzidos na China e correspondem a 16% do material utilizado). Rodrigo também se recorda muito bem do seu primeiro erro na empreitada:
- Coloquei meu primeiro modelo à venda por R$ 4,5 mil. Se tivesse colocado a R$ 30 mil, teria vendido todas da mesma maneira.
A suposição de Rodrigo, à época com 25 anos, era de que sua impressora se popularizaria massivamente, como um videogame novo entre os nerds da Campus Party. Mas, afinal, nós queremos mesmo ter uma impressora 3D em casa?
- As pessoas não têm visão geométrica. O leigo não tem noção do tamanho e das proporções de um copo, por exemplo. Não sabem o que querem criar - afirma Rodrigo, que não acredita mais que o foco do setor um dia seja o consumidor final.
Dificuldade para desenhar em 3D
No fim, o que os nerds queriam mesmo eram os videogames, mais baratos do que uma impressora 3D. Com a engenhoca de Rodrigo, eles até poderiam fazer o download, sem dificuldades, de um arquivo ".stl" gratuito e imprimir um bonequinho do Darth Vader. Mas não existem tantos modelos diferentes de bonecos, e a maioria das pessoas não sabe desenhar nem em duas dimensões, muito menos em 3D. Os nerds concluíram que valia mais a pena ir a uma loja de brinquedos.
Além disso, ainda haveria o custo extra de gastos com material, no caso o PLA, um plástico biodegradável à base de amido de milho, que é o composto mais comum usado como matéria-prima de impressoras tridimensionais. Hoje, já é possível imprimir utilizando mais de 30 materiais diferentes, incluindo areia, cerâmica, papel e metal, mas o PLA, o mesmo plástico da produção de para-choques de carros populares, segue sendo o mais utilizado.