Um comerciante foi preso em flagrante por manter a esposa e os dois filhos em cárcere privado durante sete anos em Santana do Livramento. A Polícia Civil confirmou que o homem de 47 anos não permitia que a mulher de 34 saísse de casa sem autorização. Ele monitorava as ações dela com câmeras e vigiava as atividades do celular para evitar o contato com familiares.
Segundo a delegada Giovana Müller, a vítima conseguiu pedir socorro baixando um aplicativo pouco conhecido de compartilhamento de vídeos curtos. Ela encontrou uma irmã com quem não falava havia 10 anos na rede social e pediu ajuda. A familiar acionou uma advogada e fez o registro na polícia, que foi até o local para libertar os três.
De acordo com a delegada, os filhos do casal, de oito e 12 anos, frequentavam a escola, mas não recebiam visitas ou participavam de atividades externas ao ambiente escolar por ordem do pai.
— Eles iam para a escola, mas o papo era só com colegas ou alguma atividade extracurricular. O menino de 12 anos não tinha outra interação fora do ambiente escolar — afirma Giovana.
Conforme a polícia, o homem é dono de um estabelecimento comercial que fica no mesmo terreno da casa e tinha acesso exclusivo à porta, que só abria pelo lado de fora. Para fazer saídas curtas, a esposa pedia autorização. A vítima contou que ia ao supermercado em algumas ocasiões, mas preferia ficar dentro do carro com as crianças para evitar sofrer agressões físicas e psicológicas do marido.
— Ela relatou que cumprimentou um amigo de infância em uma situação em que saiu sozinha e sofreu uma retaliação — relata a delegada.
O preso não prestou depoimento formal, mas alegou durante a prisão que restringia as saídas pelo fato de o caçula ser autista. Ele foi detido e deve responder por cárcere privado e posse de arma de uso restrito, já que os policiais encontraram oito armas sem registro e 500 itens para munição na propriedade da família.
A delegada afirmou que a mãe da vítima entrou com uma ação para visitar os netos em 2018 e desconfiava da situação. No entanto, Giovana salientou que a mulher suportou ficar nessa situação pelos filhos serem pequenos e pelas ameaças.
— O menino menor nem havia conhecido a avó e o maior pouco lembrava (dela) — salienta a delegada, acrescentando que a mulher e as crianças estão com parentes agora.