Fortes batidas na porta de casa acordaram no susto um idoso de 78 anos na manhã da última segunda-feira (11). Três criminosos, disfarçados de policiais civis, invadiram o pátio da residência localizada no bairro Rosas, em Estância Velha, no Vale do Sinos. Um quarto homem ficou dentro de um veículo estacionado na rua. Alegando uma suposta operação contra o tráfico de drogas, os homens forçaram a entrada no imóvel onde moram o idoso, sua esposa de 75 anos e o filho, de 47. A incursão dos bandidos subtraiu cerca de R$ 56 mil das economias da família, além de relógios de ouro. Abaladas, as vítimas optaram por não se identificar na reportagem.
— Ficamos muito assustados. Nunca nos tinha acontecido algo desse tipo, de assalto, nada. Esse dinheiro era para pagar despesas de um imóvel nosso. E agora como eu vou conseguir juntar de novo esse dinheirinho? Para algumas pessoas, o valor não é nada, mas 50 mil para nós é muito — desabafa o idoso, que sobrevive com a aposentadoria e aluguéis de imóveis na cidade.
Após uma queda que quebrou a perna do idoso há quatro anos, o desenvolvimento de um problema pulmonar recente e um acidente vascular cerebral (AVC) que acometeu a idosa há seis anos, o casal acumula despesas médicas de quase um salário mínimo por mês.
— O nosso dinheiro era nossa segurança se acontecesse algo. Agora ficamos sem essa proteção — lamenta a mulher.
Além da preocupação com a situação financeira, desde o assalto, a rotina do casal mudou. Acostumados com a movimentação de pessoas no pátio há três décadas, quando começaram a alugar unidades habitacionais dentro do próprio pátio, eles passaram a temer esse vaivém de pessoas no recinto. Vivendo com medo, eles mantêm a casa fechada o tempo todo. O portão principal fica trancado, só sendo aberto para saídas rápidas dos inquilinos.
— Estou sofrendo muito dos nervos desde o ocorrido. Não consigo mais deixar a casa aberta. A gente fica desconfiado de todos — desabafa a idosa.
O assalto
A abordagem dos criminosos começou por volta das 7h da manhã de segunda-feira, quando uma inquilina do casal que mora em um apartamento no mesmo pátio saía para trabalhar. Ela foi rendida e forçada a ir até a casa principal, onde moram os idosos. O eletricista aposentado, ainda confuso com o barulho, acordou a esposa e abriu a porta para os supostos policiais.
Os criminosos trancaram a esposa e a inquilina no banheiro, enquanto levavam o idoso até o quarto do casal, exigindo saber onde estava o dinheiro.
— Eles só me tiraram do banheiro quando foi para abrir o cofre, porque quem sempre cuidou do dinheiro da casa fui eu — conta a idosa, que, apesar do susto, diz não ter sofrido agressões físicas.
A princípio, os idosos acreditaram na encenação dos criminosos. Só perceberam o engano quando ouviram uma intensa troca de tiros entre os bandidos e agentes da Brigada Militar, que havia sido acionada por vizinhos desconfiados da movimentação dos supostos policiais. Minutos depois da chegada dos brigadianos, teve início um tiroteio. Vizinhos estimam que mais de 20 disparos foram efetuados.
Durante o confronto, um dos assaltantes foi baleado no abdômen e, apesar de ter sido levado ao hospital, não resistiu. Os outros três fugiram levando o dinheiro e utilizando um carro e um caminhão de um vizinho como rota de fuga. Ambos os veículos foram encontrados abandonados nas proximidades do local palco do crime.
— A gente já não tem esperança de recuperar o dinheiro. Só queríamos entender o que aconteceu e saber que eles foram presos — comenta o eletricista aposentado.
Investigação
A Polícia Civil investiga o caso e trabalha com a hipótese de que os assaltantes tinham informações privilegiadas sobre a quantia guardada no cofre. Existe a suspeita de que pessoas próximas à família possam ter informado os criminosos sobre a existência do cofre e do montante de dinheiro presente ali. Até o momento, a investigação já colheu depoimentos e começou a analisar imagens de câmeras de segurança. Agora, a Polícia Civil busca pelos três foragidos.
Na terça-feira (12), o ladrão morto durante o tiroteio foi identificado como Cristiano Baptista de Oliveira, 39 anos. Conhecido como Chinesinho, ele já tinha antecedentes criminais por roubo. Também havia um mandado de prisão preventiva expedido pela Comarca de Taió, em Santa Catarina, contra ele desde outubro de 2021. O ladrão era acusado em um processo por formação de quadrilha e se encontrava foragido desde então.
Sensação de insegurança
O medo tomou conta não só dos idosos, mas também dos vizinhos do casal. Acostumados com uma rua pacata e tranquila, eles foram surpreendidos logo na manhã de segunda-feira por um tiroteio. Inicialmente, muitos acreditaram se tratar de um estouro de disjuntor, mas a persistência dos disparos denunciou que se tratava de uma troca de tiros.
— A rua é de família. Muitos anos que o pessoal mora aqui e nunca houve coisa assim. O que aconteceu aqui foi um filme de terror. De tarde, eu fui lá para a casa da minha filha, não pude mais ficar em casa. Fiquei com medo, muito apavorada — diz uma mulher de 69 anos, que mora na região há cerca de 50 anos. Ela também optou por não se identificar.
Outro vizinho, de 60 anos, que mora ao lado da casa onde o assaltante buscou refúgio após ser baleado, conta que visualizou a ação dos criminosos:
— Era uma rajada. Era muito tiro. Os bandidos estavam de carro, foram de ré até um pedaço e, enquanto isso, a bala pegando. Um foi baleado e saiu correndo para cá, porque era o único pátio aberto. Eu e minha família deitamos no chão para não ser atingidos pelos tiros — disse o homem, que não quis falar o nome.
Uma mulher, de 60 anos, tinha acabado de acordar e estava tomando café da manhã quando escutou algo similar a explosões. Pelas câmeras de segurança, constatou que era uma troca de tiros.
— A gente ficou bem apavorada. Porque a gente pensa assim: "o que que eu vou fazer?". Aqui, a gente só conseguiu correr para lá e para cá. A minha cachorrinha estava aqui na frente do pátio e também ficou apavorada, correndo. Ficamos muito preocupados — relata.
Conforme a Brigada Militar, o policiamento da região onde ocorreu o assalto foi reforçado por equipes da força tática do 32º Batalhão de Polícia Militar (BPM) e da Rondas Ostensivas Com Apoio de Motocicletas (Rocam), do 3º BPM. Ações de inteligência também estão sendo feitas para tentar localizar os suspeitos.