Em nova redução, o crime de estelionato registrou queda de 25% no Rio Grande do Sul em setembro, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Os casos baixaram de 7.421 em 2022 para 5.542 no período em 2023. Apesar da diminuição, ainda são 184 golpes aplicados ao dia no Estado. Os dados sobre criminalidade no RS são divulgados mensalmente pela Secretaria da Segurança Pública (SSP-RS).
No acumulado do ano, também há redução: de janeiro a setembro de 2022, foram 71.807 registros, contra 63.697 no período deste ano. O período de setembro deste ano também foi o que menos registrou ocorrências desde janeiro. O mês de março foi o que teve mais casos, com 8.230 golpes.
Para as forças de segurança, a redução é uma conquista, mas há consenso de que ainda é preciso avançar. À frente da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), delegado Thiago Albeche aponta uma série de fatores que contribuíram para a queda. Um deles é o fato de as pessoas estarem mais conscientes sobre os golpes, que se tornaram bastante comuns, especialmente aqueles praticados virtualmente, no período de pandemia. O delegado destaca que as pessoas estão mais alertas, porque já foram vítimas em algum momento ou conhecem alguém que foi enganada por golpistas.
— Quem cai em um golpe acaba ficando mais atento. Fica mais difícil de os criminosos terem sucesso. Há alguns cuidados que reduzem demais as chances de golpes, como não acreditar em vantagens oferecidas e não tomar qualquer atitude em aparentes situações de urgência sem confirmar a sua real existência — pontua Albeche.
O delegado lembra também que há subnotificação desse tipo de crime — quando as vítimas deixam de registrar os casos, seja por medo ou vergonha, e os delitos não chegam ao conhecimento das autoridades. Conforme a polícia, isso ocorre principalmente entre pessoas mais vulneráveis, como os idosos, que ficam constrangidas ao se darem conta que foram enganadas. Elas também temem ser repreendidas por familiares, por exemplo.
— É de fundamental importância que filhos, netos, sobrinhos e demais pessoas próximas orientem aqueles de mais idade, que conversem sobre possíveis fraudes — destaca o delegado.
Não são só os idosos que acabam caindo no conto de criminosos. Conforme Albeche, o perfil das vítimas varia de acordo com o tipo de estelionato:
— Os golpes por meio de envio de links e ligações de 0800 tem como perfil pessoas de meia-idade até idosos. Outros crimes são mais complicados de identificar mesmo, pois são muito bem-feitos, como nos casos de falsos sites, atingindo diversas faixas etárias.
A Polícia Civil também cita, como fator para a queda no crime, o trabalho de repressão aos casos, que se dá por meio de investigações qualificadas que buscam identificar e responsabilizar golpistas.
Golpe e intimidação
Conforme Albeche, um dos casos mais comuns é o do bilhete premiado, em que criminosos abordam pessoas na rua afirmando que ganharam na loteria. Na sequência, os golpistas pedem ajuda da vítima para fazer o saque. Dessa forma, convencem a vítima a repassar um valor a eles, como garantia, em troca de parte do prêmio a que o bilhete dá acesso. A história não passa de mentira. Só depois de passar o valor, as vítimas percebem que foram vítimas de estelionato.
Em um caso recente, em Porto Alegre, a vítima percebeu ainda, durante o contato com os criminosos, que se tratava de um golpe. Ainda assim, a mulher acabou perdendo o dinheiro. Segundo a polícia, a quantia de R$ 180 mil foi levada pelos criminosos.
— Mesmo se dando conta de que estava caindo num golpe, ela acabou sendo coagida pelos participantes. De forma velada, eles passaram a agir com tom intimidatório — afirmou o delegado.
Irmãs perdem R$ 185 mil
Nesta semana, GZH mostrou o caso em que duas irmãs idosas foram vítimas de um estelionato, o chamado golpe da falsa central bancária. Moradoras de Porto Alegre, de 64 e 63 anos, elas receberam a ligação de uma mulher se passando por funcionária do banco no qual têm conta.
A falsa atendente afirmou que o banco tinha verificado uma fraude na conta conjunta das duas, e convenceu a mais velha a baixar um aplicativo no celular e fazer transferências, alegando que os valores seriam ressarcidos pela instituição. Em seguida, um homem, que integrava a farsa, também ligou para a vítima, reforçando a história.
Em dois dias, a mulher repassou aos criminosos R$ 185 mil, limpando da conta as economias, ao acreditar que estava ajudando o banco e a Polícia Federal em uma investigação. Ela só descobriu a farsa quando desconfiou da história, alguns dias depois, e foi até a agência.
Elas registraram o caso na polícia, que abriu investigação, e também entraram com ação cível contra o banco, na Justiça, cobrando danos materiais e morais. Enquanto isso, tentam lidar com o trauma e a insegurança deixada.
— No banco eu soube que não existia mais absolutamente nada na conta. Você sabe o que é nada? Nada. Nossas economias de uma vida toda, tinham ido. A gente está em pânico, traumatizada, com medo de tudo — lamentou a irmã mais velha.
A Polícia Civil reforça que, tanto em casos de estelionatos consumados quanto tentados, as vítimas devem fazer o registro da ocorrência junto às autoridades. O boletim é fundamental para que a forças de segurança tomem conhecimento sobre o cenário no RS e organizem ações de combate.
Golpe em programa que prevê viagens
Outro tipo de estelionato foi criado recentemente, envolvendo o Voa Brasil, programa anunciado neste ano pelo governo federal. O projeto foi desenvolvido na intenção de incentivar pessoas a viajarem, e prevê a venda de passagens aéreas por até R$ 200. O público-alvo são aposentados, pensionistas e estudantes.
Recentemente, golpistas criaram site falsos, simulando ser a plataforma oficial do programa. Ali, as vítimas se cadastram, informando dados pessoais aos criminosos. Depois, pagam um valor pelo cadastro e para supostamente poder participar do programa.
Confira dicas para não ser vítima
- Não acredite em lucro fácil ou vantagens que pareçam muito atrativas. Essa é a principal estratégia dos golpistas para atrair vítimas
- Não acredite em desconhecidos que lhe abordam na rua ou por telefone. Não acesse links na internet dos quais não tem segurança. Desconfie
- Converse com familiares, amigos ou mesmo gerente de banco se tiver desconfiança. Estelionatários tentam criar meios de impedir que a vítima busque orientação, como mantê-la ao telefone, para que não seja alertada
- Tome cuidado ao imprimir segunda via de boleto em sites e ao fazer compras online. Golpistas podem criar sites falsos para enganar os clientes
- Quando fizer uma compra online, guarde num arquivo no computador o link da compra. Pode ser útil para a investigação, em caso de golpe
- Não faça depósitos bancários e nem recargas de celulares para quem não conhece.
- No caso dos leilões, verifique se os leiloeiros estão cadastrados junto ao Judiciário. As contas para depósito em leilões oficiais não são de pessoa física ou jurídica e, sim, judicial
- No WhatsApp, habilite a verificação em duas etapas e não forneça esse tipo de código por telefone. O mesmo cuidado vale para outros aplicativos — de compras e bancos — que tenham o recurso de verificação em duas etapas
- Em aluguéis de imóveis, desconfie de preços abaixo do mercado, se o dono exigir adiantamento e tiver pressa para que o depósito seja feito ou mesmo se o proprietário não aceitar atender a ligações ou se recusar a receber visita do locatário, para conferir a casa
- Se receber contato por telefonema ou mensagem de familiar pedindo ajuda, certifique-se de que é real. Telefone para a pessoa antes de qualquer transferência. Converse com outros parentes antes de fazer qualquer depósito
- Se estiver vendendo algo, não entregue o bem antes de ter certeza de que recebeu o valor do pagamento. Depósitos só são confirmados pelo banco após a conferência do envelope. Então, aguarde para enviar a mercadoria
- Se for vítima, registre o caso em uma delegacia da Polícia Civil ou pela Delegacia Online. Tente repassar aos policiais o máximo de informações sobre os golpistas
Fonte: Polícia Civil-RS