Jarbas David Heinle, 44 anos, é descrito como um homem apaixonado pela política. Braço direito do pai, o atual prefeito do município, Armindo David Heinle (PP), Jarbas atuava como secretário de Saúde de Bom Progresso. Antes do cargo público, ele foi agricultor, assim como o pai, trabalhando no plantio de soja nas terras da família. Há alguns anos, se mudara para um sítio um pouco afastado da cidade para que, junto da esposa, tivesse espaço para outra paixão: o resgate de cães em situação de maus-tratos.
Na porta dessa residência, na noite de sábado (10), ele foi atingido por ao menos três disparos de arma de fogo quando chegava em casa, por um homem que o aguardava dentro da garagem. Jarbas foi socorrido e levado ao hospital, mas não resistiu. O caso é investigado pela Polícia Civil como homicídio.
Natural de Três Passos, Jarbas viveu a maior parte da vida em Bom Progresso. Na adolescência, atuou em times de futebol, integrando equipes de juniores. Nas horas vagas, ainda batia bola com amigos e gostava de ir a pescarias, segundo o irmão, Newton Heinle. Atualmente, além do trabalho como secretário, criava ovelhas e seguia atuando no ramo da soja.
Conforme Newton, Jarbas entrou na política a pedido do pai, Armindão, como é conhecido, em 2004.
— Quando o pai foi prefeito pela primeira vez, chamou ele, estavam sempre juntos. Jarbas gostava de ajudar as pessoas, tinha um bom coração. Era um grande homem, um grande líder. Sempre tive muito orgulho de ter ele como irmão. Era bem-humorado, tinha muitos amigos, toda a cidade o conhecia.
Armindão ocupa pela quarta vez o cargo de prefeito do município, após se eleger em 2020.
Atualmente, Jarbas morava com a esposa, Aline Stefanello Segnor, com quem estava há 10 anos, em um sítio na localidade de Linha Biriva, interior do município de Bom Progresso, distante cerca de um quilômetro da cidade. O local, segundo Aline, foi escolhido para que o casal pudesse ter espaço para receber cães que resgatava das ruas ou de situação de maus-tratos. Atualmente, sete cães vivem na propriedade.
— Naquela noite, inclusive, ele estava com uma das nossas cachorrinhas no colo, que tinha ido ao jantar com ele. Era como filha para a gente. Ele era alegre, estava sempre rodeado de gente, de amigos, e também tinha essa paixão por cães resgatados — lembra Aline.
O enterro do secretário ocorreu no cemitério municipal de Bom Progresso, na manhã de domingo. Conforme a sobrinha e afilhada de Jarbas, Pyetra Krauspenhar Heinle, 23, a cerimônia de despedida precisou ser transferida de espaço:
— O velório não foi na capela porque não iria comportar todo mundo que foi. Ficou pequena. Ele tinha muitos amigos, era alguém que queria ajudar a todos, era muito querido pelas pessoas — relata Pyetra.
Polícia tenta identificar autor dos disparos
Na noite de sábado (10), Jarbas e a esposa estiveram em um jantar na casa do secretário de Obras do município, Claudiomiro Correa Bones. O casal saiu do local por volta das 22h, em carros separados.
Jarbas chegou em casa um pouco antes da esposa. Quando desceu do veículo, foi atacado pelo homem na garagem, que estaria encapuzado. O agressor fez os disparos e fugiu logo depois.
A esposa do político chegou em casa na sequência, mas afirma não ter presenciado o momento do ataque. Ao parar o veículo, Aline relata que viu o marido caído e o agressor fugindo do local a pé:
— Eu cheguei e ouvi os disparos. Quando fui estacionar, vi o agressor. Ele passou na frente do meu carro, podia ter atirado em mim, eu estava na mira dele. Mas não fez isso, passou e fugiu. Quando entrei (na garagem), o meu marido já estava caído.
Ela diz que pediu socorro a um empregado do casal. Jarbas foi levado ao Hospital de Caridade de Três Passos, mas já estava sem sinais vitais.
De acordo com o delegado William Garcez, que responde temporariamente pela delegacia de Três Passos — responsável pela região —, o caso é investigado como homicídio, e a hipótese de latrocínio (roubo com morte) é descartada.
A polícia busca identificar quem é o autor dos disparos, que, em princípio, estaria sozinho no local. Para esclarecer a morte, as equipes realizam diligências e colhem depoimentos. Imagens de câmeras de segurança da casa de Jarbas já foram recolhidas e passam por perícia, segundo o delegado. As equipes buscam também outras imagens que ajudem na investigação:
— Neste momento, trabalhamos com a hipótese de homicídio. Como nada foi levado do local e pela forma como ocorreu, não há indícios de um crime patrimonial. Ainda não é possível adiantar qual a motivação para o caso porque ainda estamos reunindo elementos.
A família, no entanto, afirma que a morte tem motivação política, em razão da popularidade de Jarbas na cidade, afirma a esposa.
— Foi um ataque político. Jarbas se sentia ameaçado por opositores, me falou muitas vezes que algo assim poderia acontecer. Há anos ele dizia se sentir ameaçado. Tinha muita popularidade, a paixão da vida dele era a política, tinha planos de governança, de gestão, era o que buscava o tempo todo. Para nós, não há dúvidas. Pela minha experiência na área jurídica, aquela homem foi uma pessoa contratada para fazer isso, tanto que atirou em regiões vitais — afirma Aline, que é advogada.
A família afirma que aguarda a investigação da polícia, na esperança de que os envolvidos no caso sejam punidos.
— Aqui na cidade, meu tio tinha um nome muito forte. O ataque foi motivado por isso. A gente espera por justiça — diz a afilhada Pyetra.