Os homens envolvidos no roubo a um carro-forte em Guaíba na quarta-feira (29) têm histórico de criminalidade. Os dois presos identificados e dois dos três mortos (ainda sem identificação oficial) são conhecidos da Delegacia de Repressão a Roubos da Polícia Civil, que é a unidade policial especializada em investigar assaltos a banco, carro-forte, joalheria e extorsão mediante sequestro.
Conforme apuração de GZH, um deles é José Cristiano Botelho Rodrigues, que foi preso preventivamente em 1º de dezembro de 2018 por envolvimento no assalto a caixa eletrônico da Caixa Econômica Federal que ficava dentro do prédio da Secretaria Municipal da Saúde, em Porto Alegre.
Em 20 de setembro de 2020, Botelho obteve um habeas corpus concedido pela desembargadora Cláudia Cristina Cristofani, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). A magistrada substituiu a prisão preventiva por medidas cautelares, como "proibição de manter contato com os demais investigados, dever de informar ao Juízo qualquer mudança de endereço e dever de comparecer a todos os atos da instrução a que for intimado".
Botelho é ex-vigilante de uma empresa de transporte de valores. Ele, inclusive, é suspeito de participação no ataque a uma unidade da empresa que trabalhou, no bairro Navegantes, em Porto Alegre, em 1º de abril de 2018. A DP de Repressão a Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) concluiu esse inquérito indiciando sete pessoas e pedindo diligências para seguir investigando mais outras cinco, incluindo Botelho. O Ministério Público entendeu por pedir o arquivamento do caso, o que foi deferido pela Justiça. Também foram negados os novos pedidos de diligências.
Além de Botelho, Charles Porto Barbosa também foi preso no ataque ao carro-forte em Guaíba. Ele também tem passagem pela polícia. Em 2018, ele chegou a ser preso por suspeita de matar um policial civil aposentado numa tentativa de assalto na Avenida Assis Brasil, na zona norte da Capital. A prisão ocorreu meses depois em São Gabriel, na Região Central. Mas estava solto. GZH confirmou, junto à Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), que Barbosa havia recebido liberdade, mas não conseguiu contato com Ministério Público para saber o andamento do processo.
Ainda falta identificação oficial dos três mortos após confronto com a Brigada Militar na mata da Ilha do Pavão, para onde os ladrões fugiram. Dois deles, em identificação preliminar, conforme apurou GZH, também têm histórico de envolvimento com a criminalidade.
— É possível ter mais pessoas vinculadas. Vamos desdobrar toda a investigação necessária para se chegar não só aos autores imediatos do fato, mas a eventuais pessoas que financiam essa ação criminosa, aquisição desses vestuários (roupas semelhantes às da polícia) que chama muito a atenção — adianta o delegado João Paulo de Abreu, titular da DP de Repressão a Roubos do Deic.
O saldo do ataque ao carro-forte em Guaíba é mais de R$ 3 milhões recuperados, três assaltantes mortos e pelo menos um desaparecido. Além disso, os dois (Botelho e Barbosa) foram presos em flagrante pelos crimes de roubo majorado — com emprego de arma de fogo e concurso de pessoas — e associação criminosa armada.
GZH tenta falar com os advogados dos presos José Cristiano Botelho Rodrigues e Charles Porto Barbosa. Também tenta falar com o Ministério Público para entender os motivos do pedido de arquivamento da investigação sobre o ataque à unidade da empresa de transporte de valores em 2018.