A Polícia Civil, em conjunto com Brigada Militar, Ibama e Secretaria Estadual do Meio Ambiente, realiza operação nesta quinta-feira (25) para desarticular uma organização criminosa responsável por caça ilegal, além de tráfico de animais e armas. Até as 10h15min, 14 pessoas haviam sido presas — além disso, 300 gaiolas foram apreendidas e 200 animais, resgatados.
Segundo a apuração, os investigados criaram grupos de WhatsApp e lojas virtuais em redes sociais para realizar o comércio clandestino. Eles tinham até tabela de preços e ofereciam, por exemplo, pássaros por R$ 2,5 mil e cobras por R$ 1,5 mil — alguns deles ameaçados de extinção.
A ofensiva é considerada a maior da chamada Operação Arca, da 2ª Delegacia Regional Metropolitana, que é um trabalho permanente contra os maus-tratos a várias espécies da fauna. Estão sendo cumpridos 44 mandados de busca e apreensão e cinco de prisão temporária em 14 cidades das regiões Metropolitana e Carbonífera e dos vales do Sinos, do Caí e Paranhana (veja a lista abaixo).
Em seis meses de investigação da 4ª Delegacia de Canoas, após denúncias de entidades ambientais, houve a prisão de dois suspeitos e a identificação de 29 pessoas que estariam envolvidas no esquema. Cinco delas foram apontadas como responsáveis por coordenar a caça e o tráfico de animais silvestres.
Comércio ilegal online
A delegada Tatiana Bastos — responsável pela operação realizada nesta quinta — diz que o trabalho começou em maio, após denúncia da ONG Rede de Proteção Ambiental e a Animais (Repraas). Depois disso, várias investigações foram realizadas, e houve a prisão de um casal vendendo um filhote de papagaio por R$ 1 mil em um posto de combustíveis de Gravataí. Com a dupla, foi possível confirmar que havia uma rede por trás da venda.
Tatiana destaca que os agentes da delegacia descobriram um grupo de WhatsApp e lojas virtuais no Facebook. Por meio destes canais, eram divulgados vídeos e fotos de abates de animais e ofertas para compra de vários tipos de espécies, como cobras, iguanas, macacos, saguis, tartarugas, ouriços, jabutis e vários tipos de pássaros. A polícia identificou pelo menos dois dos principais caçadores, um de Canoas e outro de Barra do Ribeiro.
Um deles, por exemplo, gravou imagens do abate de uma capivara e de um veado. No primeiro caso, o homem postou imagens do animal junto à arma, com tons de deboche em relação à capivara abatida. No outro, o caçador se vangloria de um veado que recém havia caçado e posta nos grupos vídeo do bicho agonizando. O outro investigado gravou imagens de um veado que havia caçado, mostrando cães atacando o animal que havia levado um tiro.
Organização criminosa
O diretor da 2ª Delegacia Regional Metropolitana, delegado Mario Souza, destaca que os grupos fechados eram usados para compra e venda de animais, além da divulgação de imagens da caça ilegal. Segundo ele, armas também eram vendidas nestas plataformas.
No caso do comércio de animais silvestres, Souza diz que havia até uma tabela de preços. Uma coruja Suindara, um sagui e um macaco-prego eram oferecidos, por exemplo, por R$ 800 cada um.
Em trocas de mensagens, alguns vendedores mostram dezenas de gaiolas com aves, além de divulgarem as listas de preços e fazerem até "pacotes promocionais" para quem fosse comprar mais de cinco ou 10 animais. Entre as aves mais procuradas estão cardeal, coleiro, canário da terra, trinca ferro, papagaios, entre outros.
Operação Arca
Os 29 suspeitos identificados tiveram mandados de busca e apreensão cumpridos em suas residências, e cinco deles foram alvo de mandado de prisão. Além disso, a Justiça deferiu o bloqueio das contas bancárias dos investigados.
A ofensiva foi realizada em Porto Alegre, Gravataí, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Cachoeirinha, Viamão, Minas do Leão, Barra do Ribeiro, Canoas, Sapucaia do Sul, Parobé, Portão, São Sebastião do Caí e Alvorada.
Ao longo do dia, a polícia irá divulgar um balanço do número de presos e de bens localizados, além da quantidade de animais resgatados — que foram levados ao Ibama, na Capital. Os nomes dos suspeitos não foram divulgados devido à Lei de Abuso de Autoridade.
A delegada Tatiana ressalta que a investigação continua para tentar contabilizar o total de animais abatidos e vendidos pela organização criminosa, assim como para identificar os compradores e principais locais de caça ilegal.