Um homem de 33 anos condenado por um homicídio em Bagé, na Campanha, em 2014 é suspeito de uma série de ataques com facão em um intervalo de seis dias nos bairros Menino Deus e Praia de Belas, em Porto Alegre. A 2ª Delegacia de Polícia têm cinco inquéritos que revelam o mesmo modo de atuação: o homem aborda a vítima com facão, anuncia o assalto, leva celular e bicicleta e, na maioria dos casos, ataca as pessoas. Em três dos cinco registros, homens e mulheres foram feridos com facão em várias partes do rosto.
O casos aconteceram nos dias 6, 7, 8, 9 e 11 de maio. No último episódio, o criminoso foi preso em flagrante pela Brigada Militar após dar estocadas contra uma mulher de 25 anos. Duas das ocorrências aconteceram no Parque Marinha do Brasil — onde as vítimas preferenciais são ciclistas — e outras na Avenida Praia de Belas, na Rua Peri Machado e na Avenida Ipiranga. Três vítimas reconheceram o suspeito, que teve a prisão em flagrante convertida para preventiva. A polícia não divulga o nome do preso.
— Ele surge do nada, a pé, e antes de anunciar o assalto já dá com facão na cabeça da pessoa, no rosto ou no queixo. Em algumas casos, ele não levou nada. Ele ataca durante o dia, quando as pessoas estão se exercitando, indo trabalhar, saindo do trabalho — afirma a delegada Ana Luiza Caruso.
Preso em regime fechado, o homem recebeu progressão da pena para o semiaberto em decisão judicial de 2 de março. Porém, segundo a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), não compareceu para a instalação da tornozeleira eletrônica na data marcada, o que já foi comunicado a Vara de Execuções Criminais. Além de ter sido condenado em primeira instância por um assassinato na Campanha, o homem tem antecedentes por lesão corporal e oito ocorrências de roubo entre 2008 e 2021, que agora são somadas às mais cinco registradas apenas em maio deste ano na Capital.
A polícia deve indiciá-lo pelos crimes de roubo, roubo com lesão e tentativa de latrocínio (roubo com morte). Os agentes buscam mais vítimas do homem para reforçar os inquéritos e dar embasamento para novos pedidos de prisão.
— Em uma semana foi quase um por dia. Isso dos que registraram. Sabemos que teve um homem que não registrou por medo dele. Quanto mais pessoas vierem, mais poderemos comprovar a periculosidade dele, mostrar que ele não tem freios e registrar, com propriedade, o perigo que ele é para a sociedade — explica a delegada.
"Ele dizia que eu iria morrer por um celular"
A coordenadora de turno de uma rede de fast food saiu do trabalho atrasada na noite de 11 de maio. Perdeu o ônibus das 22h20min e enquanto aguardava o que chegaria dali a 30 minutos foi surpreendida por um homem nas esquinas da avenidas Ipiranga e Borges de Medeiros, no bairro Menino Deus.
O sujeito chegou pedindo o celular, ela disse que não poderia entregar pois usava o aparelho para trabalhar, ofereceu dinheiro e cartão. O homem mostrou um facão artesanal e lhe deu uma estocada na cabeça que a deixou desorientada. A mulher tentou fugir mas o criminoso a segurou pelo capuz do casaco e passou a agredi-la.
Na hora estava tentando sobreviver, mas hoje percebo o quão em risco me coloquei. Quando me dei conta que ele não tinha nada a perder e soube que já tinha matado outra pessoa, me senti burra por ter reagido. Tinha que ter entregado o telefone, podia ter morrido por causa de um celular. Minha sensação depois foi de ter me colocado muito em risco.
VÍTIMA
Prefere não se identificar
— Parei de contar quando foram oito golpes. E teve mais depois disso. Só pensava que não poderia desmaiar ali. Foram vários na cabeça. Eu chorava de desespero, não tinha noção do que ele estava machucando. Tentei defender meu rosto. Ele dizia que eu iria morrer por um celular — relata a vítima de 25 anos, que pediu para não ter o nome publicado.
Enquanto tentava se desvencilhar, o homem deu um passo para trás e ela conseguiu reagir, pegar o facão e revidar as agressões. Do outro lado da Avenida Ipiranga, uma guarnição do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM) que fazia ronda na região ouviu os gritos da mulher, a socorreu e rendeu o criminoso.
A vítima e o criminoso foram levados em ambulâncias separadas ao Hospital de Pronto-Socorro (HPS). Com golpes na cabeça e nas mãos, levou oito pontos e ficou 10 dias em casa. Retornou ao trabalho, trocou de horário e tem feito acompanhamento psicológico, pois vive com a sensação de que o assalto vai se repetir.
— Qualquer pessoa que passa por mim eu fico desconfiada. Na hora estava tentando sobreviver, mas hoje percebo o quão em risco me coloquei. Quando me dei conta que ele não tinha nada a perder e soube que já tinha matado outra pessoa, me senti burra por ter reagido. Tinha que ter entregado o telefone, podia ter morrido por causa de um celular. Minha sensação depois foi de ter me colocado muito em risco. Não pretendo reagir de novo. A gente só sabe o que vai fazer vivendo uma situação dessa — descreve.
A delegada lembra que, em situações como essa, a orientação é de que as vítimas entreguem o que o criminoso pedir e não reajam:
— Ela teve muita sorte e a BM chegou a tempo. Não se deve reagir pois não se sabe em que estado aquela pessoa está. Para mim, está provado que esse homem é perigoso.
Datas e locais dos ataques
- 6 de maio: Avenida Praia de Belas
- 7 de maio: Avenida Beira Rio/Parque Marinha do Brasil
- 8 de maio: Rua Peri Machado
- 9 de maio: Avenida Borges de Medeiros/Parque Marinha do Brasil
- 11 de maio: Avenida Ipiranga