A intenção de fazer uma nova transferência de presos perigosos das cadeias gaúchas para unidades federais fora do Estado nasceu no dia seguinte à Operação Império da Lei — em 3 de março deste ano, o governo Eduardo Leite removeu 18 detentos. O objetivo da cúpula da segurança pública no Estado era tentar, mais uma vez, retirar do Rio Grande do Sul líderes que tiveram o pedido negado de transferência em março. Entre os nove encaminhados agora, seis já eram alvo da fase anterior.
Em coletiva de imprensa no começo da manhã desta segunda-feira (9), o vice-governador e secretário da Segurança Pública, Ranolfo Vieira Júnior, afirmou que, ao longos dos últimos meses, as inteligências das polícias passaram a subsidiar o Ministério Público (MP) com informações para embasar o recurso das decisões judiciais em segunda instância.
— Em março houve indeferimento de várias transferências em primeiro grau. Nós, como estratégia, aguardamos a realização da primeira operação e, só depois, recorremos à instância superior reprisando os argumentos, especialmente a periculosidade dos presos e sua situação de liderança. A instância superior reconsiderou isso. As informações de inteligência foram suficientes para embasar nosso recurso e obter o êxito — disse o procurador-geral de Justiça do Ministério Público, Fabiano Dallazen.
A partir daí, foi desenvolvido um trabalho em conjunto com 15 instituições que resultou na segunda fase da Império da Lei, com a extração de mais nove lideranças. A operação contou com a participação de 490 agentes, 70 viaturas e uma aeronave. Além dos nove, o Estado já obteve autorização do Poder Judiciário gaúcho e aguarda deferimento da Justiça Federal para outras três remoções. Ranolfo reforçou ainda que novas solicitações de extração poderão ocorrer para neutralizar a influência de detentos sobre grupos criminosos:
Em março houve indeferimento de várias transferências em primeiro grau. Nós, como estratégia, aguardamos a realização da primeira operação e, só depois, recorremos à instância superior reprisando os argumentos, especialmente a periculosidade dos presos e sua situação de liderança. As informações de inteligência foram suficientes para embasar nosso recurso e obter o êxito
FABIANO DALLAZEN
Procurador-geral de Justiça do Ministério Público
— Tivemos no ano passado o melhor ano década em termos de homicídio, estamos mantendo essa redução em 2020, no entanto, mesmo com bom número, estamos longe do que queremos chegar.
Segundo o vice-governador, dois terços dos assassinatos que acontecem no Rio Grande do Sul têm relação com confrontos entre organizações criminosas:
— Enquanto isso perdurar, nós vamos recolher, sempre que possível, e com a manifestação de todos os atores do sistema de justiça criminal, vamos tentar remover essas lideranças. Muitas vezes, a sociedade tem o pensamento equivocado de achar que estão se matando entre eles, os bandidos. Mas jamais o Estado pode admitir essa situação. O sistema penitenciário federal é totalmente diferente do nosso, são casas prisionais com extrema segurança, em termos de tecnologia, equipamentos e em termos de manuseio do preso. A vida deles lá totalmente diferente daqui. O sistema penitenciário federal foi criado exatamente para situações como essa.
Os presos removidos dos sistema penitenciário gaúcho são lideranças de três organizações criminosas. Dois deles não são membros de facções, mas indivíduos, segundo Ranolfo, de "extrema periculosidade", com envolvimento com tráfico de drogas e homicídios. Devido a Lei de Abuso de Autoridades, a secretaria não divulgou o nome deles, mas a GZH apurou que tratam-se de Juraci Oliveira da Silva, Fabrício Santos da Silva, Ubirajara da Silva Barbosa, Vilmar Gomes de Andrade, Marcio Lourival da Silva, Rodolfo Silva Charão de Lima, Vladimir Aparecido Carvalho Grade, Flávio Daniel Santos da Rosa e Lucian de Souza Oliveira.
Enquanto isso perdurar, nós vamos recolher, sempre que possível. Muitas vezes, a sociedade tem o pensamento equivocado de achar que estão se matando entre eles, os bandidos. Mas jamais o Estado pode admitir essa situação.
RANOLFO VIEIRA JUNIOR
Vice-governador e secretário da Segurança Pública
A remoção dos presos começou a ser realizada pela Susepe à 1h desta segunda-feira (9) em três estabelecimentos distintos: dois em Charqueadas e um em Porto Alegre. O grupo foi levado até uma casa prisional de Charqueadas e, de lá, conduzidos para Porto Alegre.
— De maneira conjunta optamos por fazer a remoção por via rodoviária. Foi muito rápido o deslocamento, sem qualquer problema no trânsito. Em menos de 45 minutos foi feito o trajeto da Penitenciária Modulada de Charqueadas até o aeroporto Salgado Filho. E dali para fora do Estado. Essa operação foi acompanhada por todas as polícias. Usando tecnologia de ponta, uma aeronave da BM utilizando o imageador térmico, monitorava qualquer ação dentro dos veículos — disse Ranolfo.
No aeroporto, os presos passaram por exame de lesão corporal e teste de covid-19. Todos negativaram para coronavírus. O avião da Polícia Federal com os nove criminosos decolou às 11h5min. O destino dos detentos não foi divulgado.
A chefe de Polícia, delegada Nadine Anflor, afirma que a operação também é uma estratégia de resposta a ações violentas que ocorreram nas últimas semanas, em especial na serra gaúcha, e ao aumento dos índices de criminalidade no mês de outubro — dados que serão divulgados nos próximos dias pela Secretaria da Segurança Pública:
— É um aviso pedagógico para que as facções saibam quem manda no Estado do Rio Grande do Sul. São as forças de segurança e todo o sistema de justiça criminal. Tivemos alguns casos principalmente na Serra, reforçamos nossa atuação na região. Queremos evitar os crimes violentos.
A Brigada Militar está com reforço de efetivo, inclusive com aeronaves, em pontos de maior atuação dessas lideranças para evitar reação à transferência, especialmente em Porto Alegre e Caxias do Sul.
— Por enquanto, está muito tranquilo. Na primeira fase da Império da Lei não houve nenhuma resposta. Teremos esse reforço de uma semana a 10 dias, podendo ser estendido — afirma o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Rodrigo Mohr Picon.