Amigos e parentes da professora aposentada Elsa Dipp dos Santos, 76 anos, buscam respostas para a motivação do assassinato da idosa durante um assalto dentro da sua casa em Passo Fundo, no norte do Estado. Por volta das 20h de quarta-feira (12), dois homens chegaram na residência pedindo informações sobre o aluguel de um imóvel pertencente à vítima.
Durante a abordagem, os criminosos levaram o carro, duas televisões, celular e asfixiaram Elsa com um travesseiro. Logo depois, a família encontrou o corpo amarrado.
Na mesma noite, dois homens foram presos no bairro Cruzeiro. Um por suspeita de ser um dos executores do crime e o outro por estar com o veículo da vítima. A Polícia Civil busca pelo terceiro envolvido.
— Foi muito cruel. Na cena do crime, não há sinais de que tenha ocorrido briga ou ela tenha tentado reagir. Os vizinhos viram os suspeitos chegando e não deram muita atenção. Era a rotina dela receber visita, pessoas conhecidas. Além da casa em que vivia, tinha outros imóveis — afirma o delegado Diogo Ferreira, titular da Delegacia de Repressão às Atividades Criminosas Organizadas (Draco) de Passo Fundo.
Natural de Soledade, Elsa deixou o interior do município na adolescência para cursar Pedagogia em Passo Fundo. Por três décadas trabalhou na Escola Estadual Lucille Fragoso de Albuquerque:
— Como professora era enérgica com os alunos, procurava o melhor e era muito querida por eles e pelos pais. Era protetora dos estudantes. Era respeitada pela vizinhança e pela comunidade. Nosso bairro sempre foi muito tranquilo. Nunca nos preocupamos com esse tipo de coisa. Que tivessem levado o que quisessem, mas não a vida dela — lamenta Rosa Maria Kuns, 58 anos, merendeira da Escola Lucile na mesma época em que Elsa lecionava na instituição. Atualmente, eram amigas e vizinhas.
Minha avó era uma mulher muito à frente do seu tempo. Lutava pelo que ela acreditava, não tinha tempo ruim. Saiu muito cedo do interior, viajava muito, gostava de política, era muito determinada em realizar as vontades e os sonhos dela. Era independente.
SOELEN DIPP DOS SANTOS
Neta de Elsa
Ao longo da carreira, Elsa abriu a própria instituição de ensino, a Escola de Educação Infantil Tio Patinhas – atualmente fechada – e atuou na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Passo Fundo. Também era integrante do 7º núcleo do Cpers Sindicato e participava da associação de moradores do bairro.
— Minha avó era uma mulher muito à frente do seu tempo. Lutava pelo que ela acreditava, não tinha tempo ruim. Saiu muito cedo do interior, viajava muito, gostava de política, era muito determinada em realizar as vontades e os sonhos dela. Era independente — lembra a neta, a estudante Soelen Dipp dos Santos, 23 anos.
Há dois anos, viajou para a Europa com o grupo da igreja, quando visitou Paris e realizou o sonho de conhecer Jerusalém. Dona Elsa morava sozinha no bairro Vera Cruz mas tinha uma vida ativa, envolvida nos cuidados dos gatos e cachorros da chácara onde criava animais. Solteira, tinha um casal de filhos e dois netos. Elsa era receptiva e simpática, gostava de conversar e chamar para entrar. Como anfitriã, fazia questão de oferecer chá e bolo.
Era uma pessoa que estava vulnerável, e os criminosos devem ter estudado bem a situação dela. Se o objetivo era só roubar e ela não tinha capacidade para reagir aos dois homens, por que mataram ela?
DIOGO FERREIRA
Titular da Delegacia de Repressão às Atividades Criminosas Organizadas (Draco) de Passo Fundo
— Sempre foi uma pessoa pública, que recebia muitas pessoas na casa dela, sempre de boa-fé. Para ela, esse tipo de coisa jamais ia acontecer. Nós dizíamos para tomar cuidado, não receber qualquer pessoa em casa, mas ainda assim para nós foi uma situação que jamais esperaria que acontecesse — diz a neta, que mora em uma casa que faz fundos com a da avó.
Segundo Soelen, a família tinha contato próximo com a idosa, a auxiliava nas idas à igreja, ao banco e ao médico. Recentemente, Elsa tinha ido ao hospital fazer um check-up. Os exames apontaram ótimo desempenho de coração e colesterol. A maior preocupação da avó, segundo a neta, era ser contaminada pelo coronavírus:
— O médico disse que ela iria viver muito. Tinha uma alimentação bem regrada. Se cuidava. Nunca na nossa vida imaginávamos que alguém ia entrar na casa e fazer o que fez em questão de minutos. Foi tudo muito rápido. O que ela poderia fazer para estas pessoas?
A polícia está buscando câmeras de segurança para refazer os passos dos criminosos. O foco da investigação é elucidar a motivação do assassinato:
— Era uma pessoa que estava vulnerável, e os criminosos devem ter estudado bem a situação dela. Se o objetivo era só roubar e ela não tinha capacidade para reagir aos dois homens, por que mataram ela? — questiona o delegado.
Em depoimento, o homem preso por suspeita de ser um dos executores se manteve em silêncio. O suspeito que foi pego com o veículo de Elsa confirmou que foi acionado para sumir com o carro.