Morta a facadas dentro de casa em Sydney na tarde de 3 de agosto, a gaúcha Daiane Pelegrini, 33 anos, deve ser cremada na Austrália. A família pretende deixar o corpo da estudante de Enfermagem próximo da filha dela, de sete anos, com quem vivia. Segundo a irmã da vítima, Gisele Pelegrini, 39 anos, o corpo deve levar de 20 a 30 dias para ser liberado pelas autoridades locais. Um homem de 25 anos, com quem a gaúcha havia mantido um breve relacionamento, foi preso no local do crime.
— Acreditamos que eles precisam do corpo para seguir investigando, para terem algo com mais profundidade, seguindo os protocolos do país. Então, vai demorar. Deixar o corpo lá é o que a minha irmã ia querer, para ficar perto da filha. Ela foi para a Austrália para dar uma vida melhor para a filha. Não podemos ser egoístas para trazer e satisfazer um capricho nosso — afirma Gisele.
Natural de Lajeado, no Vale do Taquari, Daiane foi morar em Sydney em 2016 com o então marido e a filha. Após cursar dois anos de inglês, passou a estudar Enfermagem na Western Sydney University. A gaúcha se formaria em dois anos. Daiane estava separada do marido desde janeiro mas, segundo Gisele, estava se reaproximando dele:
— Estavam tentando reatar, conversando, se vendo. Nunca ficaram brigados ou se desentenderam.
De acordo com informações que Gisele recebeu do ex-cunhado, o homem que esfaqueou Daiane estava dentro da casa quando ela chegou, acompanhada de um amigo. Motorista de aplicativo, o ex-companheiro da estudante é quem faz a interlocução das informações sobre a investigação para a família da gaúcha, que reside em Lajeado:
Queremos entender o que aconteceu. Há muitas perguntas em aberto. Sabemos que foi um feminicídio, mas por que? Qual foi o real motivo? Sabemos que ele machucou muito ela, foram facadas de ódio. Ele não quis só matar.
GISELE PELEGRINI
Irmã de Daiane
— Ela estava abrindo a porta, com o amigo do lado. E ele estava dentro da casa, esperando. Invadiu a casa dela, pulou o portão e entrou por uma varanda. Lá dentro, ele surpreende ela. O amigo tentou se defender, fugiu e chamou a polícia.
Quando foi preso, o suspeito aguardava a polícia na varanda da casa. Daiane e o homem haviam se encontrado algumas vezes. A gaúcha, segundo a irmã, já teria dito para ele que não queria seguir com relacionamento. A uma amiga brasileira, Daiane contou que teria registrado boletim de ocorrência contra ele pois estava sendo perseguida. Sentia-se assustada e vigiada. Embora o suspeito esteja preso, a família espera que a investigação da polícia australiana traga as respostas que os inquietam:
— Queremos entender o que aconteceu. Há muitas perguntas em aberto. Sabemos que foi um feminicídio, mas por que? Qual foi o real motivo? Sabemos que ele machucou muito ela, foram facadas de ódio. Ele não quis só matar.
Mesmo de longe, a família tem se esforçado para encontrar forças e oferecer suporte para filha de Daiane:
— Ela é o mais importante nessa história. Estamos tentando continuar a vida da melhor maneira possível, tentando acalmar nosso coração. Mas sabemos que ela não volta mais.
Daiane nasceu em Lajeado, era caçula de três irmãos e saiu de casa na adolescência. Pela família, é descrita como uma mulher independente e determinada. Aos 15 anos, foi trabalhar em uma rede de lojas em Caxias do Sul. Depois, viveu na Capital, onde começou a cursar Enfermagem na UniRitter e teve sua filha. Após ser assaltada diversas vezes, decidiu viver na Austrália com a bebê e o marido, onde já residia um casal de amigos. A família buscava mais segurança.
A última vez que Daiane conversou com a irmã, em 28 de julho – cinco dias antes do crime –, a estudante não dava sinais de que estava assustada:
— Estava muito feliz, estava bem. Me mandando vídeos de coisas engraçadas, brincadeiras.