Estão livres os 13 caingangues que tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça pelo assassinato de um índio rival, Adilson Jacinto, em 7 de novembro. O crime aconteceu durante tiroteio na Guarita, a maior reserva indígena do Rio Grande do Sul, situada entre os municípios de Redentora e Tenente Portela, próximo à fronteira com a Argentina.
O assassinato de Jacinto foi a culminância de um processo de atentados entre duas facções que disputam o poder na Guarita. Entre outubro e novembro, pelo menos oito incidentes graves aconteceram entre os caingangues da região, como incêndios de residências, emboscadas e até tentativa de assassinato do cacique, Carlinhos Alfaiate.
A briga opõe Alfaiate e o seu vice-cacique, Vanderlei Ribeiro, o Vandinho. Eles controlam mais de mil empregos públicos e privados, já que possuem o direito de indicar caingangues (e até brancos) para postos de trabalho na reserva indígena.
Alfaiate só escapou do assassinato porque fugiu para a mata, mas sua casa foi destruída a tiros e por um incêndio criminoso. Dias depois, um dos seus apoiadores, Adilson Jacinto, foi morto a tiros e dois familiares dele, atingidos. Investigações da Polícia Federal (PF) apontaram que os autores do homicídio e dos ferimentos nos sobreviventes são integrantes do grupo liderado por Vanderlei Ribeiro.
Em 19 de novembro, 12 dias após a morte de Jacinto, a PF realizou operação na reserva da Guarita e prendeu nove índios. Entre eles, Vandinho. Outros quatro permaneceram foragidos, embora com prisão preventiva decretada.
Os caingangues ficaram presos no Presídio Regional de Três Passos. Na segunda-feira (23), após mais de 90 dias de prisão, o juiz federal Rodrigo Becker Pinto, de Passo Fundo, determinou a libertação dos nove presos e a revogação da prisão preventiva dos demais. As justificativa:
O prazo de prisão preventiva foi grande e ainda não há oferta de denúncia por parte do Ministério Público
As prisões já surtiram efeito positivo, o apaziguamento social na Reserva Indígena da Guarita.
O país está em calamidade pública, que prejudia a regularidade dos serviços policiais e prisionais.
Os indígenas são cidadãos com prioridade, no caso de reavaliação de prisões e concessão de saídas antecipadas
Caso exista necessidade, serão decretadas novas prisões preventivas.
CONTRAPONTO
O que diz o advogado dos nove réus soltos, João Antônio Gheller:
Ele afirma que seus clientes são inocentes e isso ficará provado pelo testemunho de pessoas que estavam no local do homicídio. Além disso, critica o excesso de tempo em que eles ficaram na prisão.