A taxa de homicídios de homens pretos e pardos com idade entre 15 e 19 anos atingiu o número de 185 para cada 100 mil habitantes. O índice é quase três vezes maior, se comparado ao grupo de mesma faixa etária de brancos, com média de 63,5. Os dados, referentes a 2017, foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (14).
O número de assassinatos de brancos com 15 a 29 anos cai para 34, quando considerada também a população feminina, mas continua quase três vezes menor do que os negros jovens, se somados homens e mulheres — entre a população negra dessa faixa etária, foram computados 98,5 homicídios para cada 100 mil brasileiros em 2017.
Para o analista de população e indicadores sociais do IBGE Cláudio Crespo, "os problemas relativos à violência incidem de maneira bastante desigual nos jovens pretos ou pardos".
Outro fator apontado pelo IBGE é que a violência entre jovens negros é maior em vários aspectos da sociedade. Estudantes pretos ou pardos do 9º ano do Ensino Fundamental vivenciam mais experiências violentas do que os brancos, como terem sofrido agressões por algum parente ou terem se envolvido em brigas com armas de fogo ou branca.
A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de 2015 do IBGE apontou, ainda, que 15,4% dos estudantes pretos ou pardos do 9º ano do Ensino Fundamental não compareceram à escola nos 30 dias anteriores à pesquisa devido à falta de segurança no trajeto casa-escola ou na própria escola. Entre os brancos, a taxa é de 13,1%.
Mais da metade dos alunos negros estudava em estabelecimentos em área de risco em termos de violência, isto é, em escolas que informaram estar em região com risco de furto, roubo, consumo de drogas ou homicídios.
Douglas Belchior, membro do conselho geral da União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora (Uneafro Brasil), destaca que é necessário mais atenção do poder público para as reivindicações da população negra.
— O poder de superação e resiliência dos estudantes negros, sua família e comunidade é impressionante. Infelizmente, vivemos o contexto de um governo que se coloca contrário às elaborações, reivindicações e demandas históricas das lutas por igualdade e justiça racial — afirmou Belchior.
Já Luanda Botelho analista do IBGE, apontou como a violência precoce prejudica o lado psicológico dos jovens em formação.
— Os estudos mostram que quem mais sofre com a violência na adolescência também está mais sujeito a doenças como depressão, a piores resultados acadêmicos e a se envolver em violência no futuro.
No grupo de pessoas pretas e pardas total, sem diferenciar idade ou sexo, a taxa de homicídios aumentou de 37,2 para 43,4 em cada 100 mil habitantes, de 2012 a 2017. O crescimento não foi proporcionalmente igual ao dos brancos, que permaneceu estável: de 15,3 para 16.
Para Luanda, o estudo ajuda a traçar um panorama maior da desigualdade racial no Brasil.
— Nós analisamos a violência mais extrema, através das taxas de homicídio, mas também a violência mais presente no cotidiano, do ambiente em que essa população está inserida — disse ela.
O Atlas da Violência, publicação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgado em junho, já havia mostrado que o índice de mortes violentas entre jovens negros vinha crescendo no Brasil. Entre 2007 e 2017, o assassinato de negros aumentou 10 vezes mais do que o de não negros (brancos, amarelos e indígenas).