
O número de negros assassinados no Rio Grande do Sul praticamente dobrou entre os anos de 2007 e 2017, período analisado pelo Atlas da Violência divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) nesta quarta-feira (5).
Em 2017, 833 negros (pardos e pretos, segundo a classificação do IBGE) foram assassinados no RS, contra os 440 mortos em 2007, um crescimento de 89,3%. Já os homicídios da população não-negra — soma de brancos, amarelos e indígenas — aumentou 41,2% no mesmo período, chegando a 2.249 assassinatos em 2017. Isso representa que o aumento de morte de negros foi duas vezes maior em relação ao de brancos. Outras 234 mortes de 2017 não entraram na conta por motivos variados.
Militante dos movimentos negros há mais de 40 anos, o sociólogo e doutorando em políticas públicas Edilson Nabarro afirma que outros fatores devem ser considerados ao se analisar a morte de negros, além do racismo.
— O que eu tenho percebido é que o índice de violência está muito associado com miséria e pobreza. Pode ter alguns fatos raciais, mas a violência é endêmica e pode ser explicada pela grande desigualdade social e econômica, e a grande miséria na população negra — diz.
Nabarro ainda pondera que por questões de falta de oportunidades, a proporção de negros em zonas de misérias e mais violentas é maior, o que acaba os expondo aos riscos maiores.
— Os tiros que matam os negros também saem das mãos de negros. Em um contexto de miséria, pobreza, falta de ordenamento social e familiar.
No Rio Grande do Sul, estado majoritariamente branco (81,5% da população, conforme o IBGE em 2017), o número de assassinatos de negros é maior na proporção, mas menor em números absolutos. A nível nacional, a população negra representa quase 75,5% das vítimas de homicídios. Foram 49,5 mil negros assassinados contra 14,7 mil não-negros.
"Em termos de vulnerabilidade à violência, é como se negros e não negros vivessem em países completamente distintos." cita o Atlas.
Os números ainda são superiores se for considerada a taxa de homicídio. O índice é calculado sobre o números de assassinatos para cada 100 mil habitantes. Dessa forma, a contagem permite a comparação entre locais com diferentes tamanhos de população, criando um padrão para análise. No RS, a taxa é de 36,7 mortes a cada cem mil habitantes negros, maior do que a taxa geral, de 29,3.