Em média, 19 ônibus são assaltados por mês em Porto Alegre. O número, embora assuste, é o menor dos últimos 15 anos. Em 2005, havia uma média de 88 ataques a coletivos por mês na Capital, o equivalente a quase três crimes por dia. Se comparados os nove primeiros meses deste ano ao mesmo período de 2018, a queda é de 39%. Foram 171 casos de janeiro a setembro de 2019, ante 280 no ano anterior. Pelo menos três momentos são considerados fundamentais para que houvesse diminuição, segundo a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP). O primeiro deles ocorreu em 2007, quando houve o maior número de ataques da série histórica.
Naquele ano, os assaltos a ônibus atingiram o auge: foram 1.737 casos — média de quase cinco crimes por dia. Para tentar conter os ladrões, uma primeira medida foi adotada. Passou-se a usar a bilhetagem eletrônica, o que diminuiu a circulação de dinheiro dentro dos coletivos. Além disso, houve uma inversão: o embarque começou a ocorrer pela porta dianteira do veículo.
Após anos de arrefecimento, em 2016 o número de ataques a ônibus voltou a crescer — e a preocupar. Naquele ano, foram 928 assaltos, média de 2,5 casos por dia. Ao perceber este aumento, criou-se uma força-tarefa para apurar os crimes. Assim, as investigações, antes registradas em diferentes delegacias conforme a região em que havia ocorrido o roubo, passaram a ser apuradas pelos mesmos delegados. Agentes da Brigada Militar (BM), Polícia Civil, Guarda Municipal, funcionários da Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC), consórcios, entre outros órgãos passaram a fazer reuniões mensais para trocar informações e traçar estratégias.
A força-tarefa foi transformada na Delegacia de Repressão a Roubos em Transporte Coletivo (DRTC) em março deste ano, iniciativa pioneira no país, conforme a Polícia Civil. Também houve instalação de GPS e câmeras de segurança em toda a frota de ônibus. Equipamentos também foram colocados em pontos nos quais os passageiros aguardam os coletivos.
— Sendo especializada, a gente consegue reunir todas as investigações de assalto a coletivo, ônibus e lotação que ocorrem na Capital. Fica muito mais fácil descobrir a autoria dos crimes e, quando mandamos os inquéritos, não é um crime só que aquela pessoa cometeu, são mais de um. Isso pesa na pena, no resultado da investigação como um todo — explica o delegado Daniel Mendelski, titular da DRTC.
O policial conta que a existência da delegacia especializada permite o mapeamento das áreas onde os ataques são reincidentes, favorecendo a ação localizada em regiões focos de assaltos:
— Havendo recrudescimento de roubos em determinado local, haverá preferência para elucidar.
Mendelski também cita o trabalho integrado, o uso de tecnologia e o apoio dos passageiros como fundamentais para a diminuição dos crimes em ônibus. De acordo com ele, desde a criação da força-tarefa, em 2016, foram feitas cerca de 300 prisões de suspeitos de ataques.
_ Os crimes são sazonais e não têm região específica. Os roubos ocorrem em vários pontos da Capital, dependendo da região em que uma quadrilha resolve escolher para atuar _ diz Mendelski.
Para a presidente da ATP, Tula Vardaramatos, a tecnologia empregada, como a bilhetagem eletrônica, as câmeras de segurança e o GPS, é fundamental para a diminuição nos crimes.
— Com certeza devemos estar, estatisticamente, entre as melhores capitais quanto à segurança, muito diferente da média — afirma Tula.
Para a melhora dos números, no futuro, a presidente diz ser essencial manter o trabalho que está sendo feito. Os esforços conjuntos de diferentes instituições, como BM, consórcios, Guarda Municipal e EPTC são outro fator citado pela presidente:
— A manutenção dessa força, dessa união de equipes, é fundamental. Maior número de câmeras nos terminais e o uso do GPS também vão diminuir assaltos aos passageiros.