A prisão de Luís Henrique Lopes Lima, 23 anos, no Morro da Cruz, zona leste da Capital, foi apenas o fim da primeira etapa da investigação sobre o assassinato de um advogado na Cidade Baixa. Mesmo um dia após a prisão, a polícia diz ainda não ter certeza se Gabriel Pontes Fonseca Pinto, 28 anos, foi vítima de um homicídio ou um latrocínio (roubo com morte).
Para dar robustez à investigação, a polícia refez todos os últimos passos do jovem morto em 26 de março. Às 12h30min, chegou na casa da mãe, onde permaneceu até 14h30min. Às 14h57min, chegou ao Foro Central de Porto Alegre para retirar um processo. Às 15h40min, conversou com a namorada pelo WhatsApp e marcou um jantar. Quatro minutos depois, às 15h44min, fez uma aposta em uma lotérica. Às 15h56min, chegou ao supermercado Zaffari da Rua Lima e Silva, onde sacou dinheiro — com ele, foram encontrados pouco mais de R$ 860 após o crime.
A partir daí, inicia-se um período de 11 minutos até o momento em que Gabriel foi assassinado (veja no mapa abaixo). Do supermercado, caminhou cerca de 400 metros até a Caixa Econômica Federal, na Rua José do Patrocínio, onde chegou às 16h04min. Tentou fazer um depósito e não conseguiu — possivelmente devido ao horário bancário. De lá, voltou para a Lima e Silva, onde foi morto às 16h07min, próximo do cruzamento com a Alberto Tôrres.
— Ele fez todo esse trajeto a pé. Nós procuramos, com as câmeras, definir o percurso que ele poderia ter feito. Conseguimos comprovar isso através das câmeras de segurança, que mostravam ele nos locais. Foi um trabalho exaustivo — afirmou o delegado Paulo César Jardim, da 1ª Delegacia de Polícia, em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (5).
A partir de agora, as câmeras serão analisadas mais minuciosamente. O objetivo é entender se o suspeito preso seguiu o advogado ou se escolheu a vítima aleatoriamente. O delegado Jardim afirma que, neste primeiro momento, o importante era confirmar a autoria do crime. A partir de agora, diz que todas as possibilidades para motivação estão abertas.
— O que nós vimos até agora na câmera é o Gabriel passando por ele e o assassino olhando para ele. Ele tirou o capacete e deixou a moto com o motor ligado, porque usava um boné bem baixo na cabeça. Mas vamos analisar isso mais detalhadamente. Nós já sabemos quem deu o tiro, temos o autor, e isso é importante. Agora vamos definir o tipo penal (homicídio ou latrocínio).
A dinâmica do crime
A polícia ouviu cerca de 15 testemunhas sobre o crime. Cinco delas são consideradas essenciais pela polícia, já que as pessoas assistiram ao crime de uma distância de 10 metros.
— Esses depoimentos, inclusive, embasaram nosso pedido de prisão. Chama a atenção que elas se surpreenderam com a diferença de estatura dos dois: o autor tinha menos de 1,60m, e a vítima, aproximadamente 1,80m. Naquele momento não passava ônibus, carro, e surpreendeu as testemunhas o silêncio no local. Elas relatavam que o homem dizia "me dá o que tu tem", e a vítima dizia "não vou te dar" — relatou o delegado.
Conforme o relato das testemunhas, o criminoso deu um tiro no chão, inicialmente, e repetiu a ordem. Depois, apontou o revólver para o rosto do advogado. Como ele esboçou reação, os dois entraram em luta corporal e Gabriel foi atingido duas vezes. Nem o dinheiro, nem a pasta com os processos foram levados, conforme o delegado.
— Uma testemunha narrou que, depois do crime, o povo começou a chegar perto, e por isso ele (o autor do crime) preferiu fugir.
Família do suspeito tinha envolvimento com o crime
Preso, o suspeito se manteve calado durante a maior parte do tempo. Formalmente, preferiu não prestar depoimento. A única resposta que deu sobre o crime foi quando perguntado informalmente pelo delegado sobre qual a parte do corpo da vítima em que ele atirou.
— No peito — foi a resposta.
Segundo a Polícia Civil, Luís Henrique Lopes Lima, 23 anos, já tinha antecedentes criminais, incluindo um assalto à mão armada. O histórico familiar também é de envolvimento no crime: a mãe já havia sido presa, um irmão foi morto aos 15 anos devido a rixas envolvendo o tráfico de drogas, e outro irmão também tem passagens pela polícia por tráfico e pequenos furtos.
Depois da prisão, a polícia chamou duas testemunhas para que fizessem o reconhecimento. Foram colocadas três pessoas em uma sala, cada uma com um número, e a primeira testemunha apontou, sem sombra de dúvidas, o suspeito número 2. A testemunhas que veio a seguir apontou, também sem sombra de dúvidas, o suspeito número 1.
— Foi a realização de todos os policiais, porque tínhamos trocado o preso de lugar — comemorou o delegado.
Agora, a polícia tenta identificar se Lima agiu sozinho ou se mais alguém apoiava, além da motivação do crime.