A Polícia Civil divulgou novas informações sobre as ações de facção criminosa que controlava o condomínio Fernando Ferrari, bairro Rubem Berta, zona norte de Porto Alegre. Após operação policial deflagrada na manhã desta segunda-feira (10), áudios e mensagens apreendidos em celulares de investigados revelam que o grupo reunia os chamados “bondes” do tráfico para executar rivais.
Segundo o delegado Cassiano Cabral, da 3ª Delegacia de Homicídios, ocorreram nove assassinatos na região desde março deste ano que estão vinculados aos investigados. Praticamente todos os casos e mais as tentativas de homicídios foram praticados por criminosos que saíam de dentro do condomínio nos “bondes”. São grupos de até 20 pessoas armadas e que circulavam por vias da região em quatro a cinco carros em busca dos alvos. Áudios mostram o tráfico, uso de armas, entre outros crimes.
Áudio
Mensagens em redes sociais mostram a preocupação de moradores do condomínio Fernando Ferrari, temerosos com tiros e ações em geral dos criminosos.
Condomínio
O delegado Thiago Lacerda, do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), diz que o conjunto residencial era usado para bailes funk com o objetivo de atrair mais usuários de drogas. O evento virava um grande ponto de venda e consumo de entorpecentes. Nas festas, ocorriam badernas e troca de tiros. Moradores eram ameaçados, expulsos e até pagavam pedágios.
Os apartamentos eram usados para guardar drogas e armas e as guaritas de segurança eram usadas pelos traficantes para monitoramento de rivais e da polícia. Até carros roubados eram escondidos no condomínio.
– Era uma fortaleza do tráfico e todos eram obrigados a obedecer os criminosos. Ao invés de guardas de empresa de segurança, eles colocavam olheiros do tráfico nas guaritas - ressalta Lacerda.
A maioria dos moradores não saiu de casa enquanto a polícia cumpria mandados judiciais na manhã desta segunda-feira. Quase todos que foram abordados por GaúchaZH não quiseram falar, apenas duas mulheres conversaram com a reportagem: uma idosa que estava dentro do apartamento e uma jovem que estava na parada de ônibus, já fora do condomínio:
- A gente paga condomínio pra esses traficantes botarem olheiros nas guaritas. Não dá, não pode né? Aonde vai parar? Que bom que a polícia tá aqui - desabafou a jovem.
Antes de pegar o ônibus, ela ainda disse que muitos dos traficantes continuam no condomínio, mesmo após o fim da operação. Ela falou ainda que o pai dela perdeu a vaga de estacionamento, porque a facção ocupou para guardar carros roubados.
Já uma idosa procurou a reportagem durante a operação. Ela acenou de dentro de casa para o repórter e, pela janela, sem mostrar o rosto, relatou que o clima estava tenso nos apartamentos. Além de pagar para entrar no local quando tinham eventos promovidos pelos traficantes, teve a residência atingida por bala perdida.
– Eles dão tiro para o alto. É um horror. Já avisamos o síndico, mas ele não pode fazer nada. Foi ameaçado. Aqui precisaria monitoramento 24 horas porque é assim que os bandidos agem, se não eles voltam – relatou.
A conversa não demorou mais do que um minuto e só ocorreu depois da moradora olhar para todos os lados para ter certeza de que não estava sendo vigiada e também porque o criminoso, alvo da polícia, que morava no bloco dela, havia sido preso minutos antes.
Operação
Cerca de 150 policiais cumpriram 45 mandados de prisão e busca no condomínio e nas vilas Chimarrão e Capadócia, localizadas nas proximidades. Ao todo, oito pessoas foram presas nesta segunda-feira e seis durante a investigação - que iniciou em março.