Rafael Barros permaneceu por dramáticos cinco minutos apoiado a sua guitarra Electar, artesanal, enquanto recebia coronhadas na cabeça, no banco de trás do carro no qual havia sido levado por quatro criminosos em 28 de janeiro de 2016.
– Abaixa! Abaixa! – gritava um dos bandidos.
– Vamos desovar ele no morro – dizia outro.
Era um assalto, mas acabou virando sequestro. O veículo roubado circulava pelo bairro Teresópolis com o músico da banda de death metal Burn The Mankind no banco de trás do Golf vermelho. Para Rafael, foram dois quilômetros sem fim:
– Estavam tão assustados que eu pensava que, de repente, poderiam me dar um tiro e me largar em uma rua deserta.
Enquanto o assaltante ao seu lado batia com a arma em sua cabeça, outro, sentado no banco do carona, pressionava sua têmpora com outro revólver. Ao final do martírio, os criminosos resolveram libertá-lo, na Rua Dr. Campos Velho. Foi quando Rafael, ao perceber que estava salvo, suplicou:
– Posso ficar com a minha guitarra?
Um de seus algozes assentiu. Mas o motorista, aparentemente o líder do grupo, replicou:
– Não! Isso aí vale grana! Deixa aí.
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Rafael foi libertado, mas sem a guitarra, um instrumento exclusivo produzido pelo luthier (profissional que trabalha com a construção e manutenção de instrumentos musicais) Sidnei dos Santos, de Porto Alegre. Ele havia se tornado vítima de um crime que tem preocupado músicos no Rio Grande do Sul, a exemplo de Berenice Azambuja, que teve sua gaita levada em junho (leia mais adiante): o roubo e o furto de instrumentos musicais. Nem sempre os crimes ocorrem de forma planejada, na saída de estúdios de gravação. Na maioria das vezes, é aleatório: criminosos miram o carro da vítima e, ao abrir o porta-malas, encontram uma pequena fortuna em instrumentos como violões, guitarras, baterias e contrabaixos, alguns deles exclusivos, como o de Rafael, 39 anos.
– É um nicho de mercado que os bandidos acabaram descobrindo. Antigamente, o pessoal andava com instrumentos dentro de ônibus e lotação e ninguém dava bola. São objetos caros. Uma guitarra artesanal custa de R$ 1,5 mil para cima; um pedal, você não encontra por menos de R$ 700 – afirma o professor de música Marcos Moura, 37 anos, colega de banda de Rafael.
Aquela noite de terror começou após a Burn The Mankind finalizar um ensaio no estúdio Music Box, no bairro São João, na Capital. Eles estavam indo para a casa do baterista, Raissan Chedid, 25 anos. Em um veículo, quatro homens fecharam o Golf que transportava a banda e anunciaram o assalto. Todos deixaram o carro em que estavam e foram colocados contra as grades da casa de Chedid. Temendo sair e levar um tiro, Rafael permaneceu em silêncio, paralisado no banco detrás. Até hoje, os amigos se perguntam se o crime foi premeditado.
– No fim, a gente fica com a dúvida se queriam o carro ou se sabiam que havia instrumento – questiona Rafael.
A banda avalia em R$ 20 mil o prejuízo, com a perda de duas guitarras, caixa de pedais, baixo, módulo de bateria, pedestal, caixa de bateria e 10 pratos, além de um notebook, um HD externo e celulares.
Inconformado com a perda dos equipamentos, Chedid começou a procurar os instrumentos em sites e redes sociais. Certo dia, um amigo o marcou no Facebook, indicando um homem que vendia materiais para baterias. Acertou um encontro.
– Quando me mostrou os pratos (de bateria), deu um negócio em mim. De cara, vi que eram os meus. Tinha até as marcas de baqueta – conta.
No dia seguinte, deu queixa na delegacia. Foi pedida busca e apreensão, mas, quando a polícia invadiu a casa, os equipamentos já não estavam lá. Graças à investigação dos agentes, parte dos instrumentos foi localizada em uma loja no centro de Gravataí. O material foi recuperado, mas ninguém foi preso.
– Estavam vendendo por um terço do valor de mercado – lembra Chedid.
Tão comum quanto perder os equipamentos em assaltos é encontrá-los em sites de vendas pela internet e briques no Facebook. Diferentemente de outros itens, como eletrodomésticos, por exemplo, um violão roubado acaba caindo nas mãos de outro músico, circulando em um nicho específico. É mais difícil para um bandido se desfazer do objeto levado.
O mesmo aconteceu com um músico que teve um contrabaixo furtado quando a Igreja do Evangelho Quadrangular, localizada na Avenida Getúlio Vargas, em Porto Alegre, foi arrombada durante uma madrugada de março de 2017. Semanas depois do crime, o instrumento estava à venda em um site. Ele conseguiu identificar porque era um equipamento de fabricação artesanal, personalizado, com detalhes minuciosamente trabalhados.
A vítima procurou a delegacia da região, a 2ª Delegacia de Polícia Civil, comandada pelo delegado Cesar Carrion. O homem foi orientado a marcar um encontro com o vendedor no shopping Praia de Belas. No dia 19 de abril, enquanto a negociação ocorria, policiais civis espreitavam em tocaia. Quando o músico deu o sinal combinado de que havia reconhecido o instrumento, os policiais se aproximaram e anunciaram a prisão em flagrante do vendedor pelo crime de receptação. Ele também tinha contra si um mandado de prisão por falta de pagamento de pensão alimentícia. No depoimento, disse que havia comprado o contrabaixo no mesmo site por R$ 700. Depois, estaria tentando revendê-lo por R$ 1,5 mil.
– Ele apresentou essa versão, mas não conseguiu comprovar que comprou naquele site – explicou o delegado Carrion.
Cover de Raul Seixas, o músico Cleiton Amorim não teve a mesma sorte dos colegas. Por volta das 19h do dia 19 de abril de 2015, foi atacado enquanto deixava um estúdio em Cachoeirinha, a caminho de uma apresentação. O carro foi levado com o porta-malas lotado: uma mesa de som, um contrabaixo Tagima, dois violões Godin e Takamine, mesa digital, pé Buzzi. O prejuízo chegou a R$ 30 mil, além do veículo.
– Creio que não sabiam o que havia dentro do carro – especula.
Nos dias seguintes, o músico precisou pedir violão emprestado para continuar trabalhando. Chegou a fazer uma rifa para recuperar parte do prejuízo.
– Você imagina um músico que sai para trabalhar por um cachê de R$ 300 e perde, num assalto, R$ 30 mil. A gente demora para montar o set do jeito que quer, do jeito que gosta, com o som que curte. Eu primo por qualidade. Você pode comprar um plugue por R$ 5. Os meus eram todos de R$ 30. Foi uma luta para conseguir comprar tudo de novo – lamenta Amorim.
Ao chegar em casa, na Vila Fátima, em Cachoeirinha, com a esposa e o filho de dois anos, no final de uma tarde de fevereiro, o professor de música Ricardo Isquierdo percebeu que a janela da residência estava aberta. Um a um, foi se dando conta da falta de seus instrumentos musicais, utilizados em aulas particulares para crianças e em corais.
– Pô, é meu trabalho, eu vivo disso – indigna-se o músico de 38 anos.
Seis equipamentos foram levados, alguns raros, como a guitarra semiacústica da marca Janine que pertencera ao avô de sua esposa, um baixolão e um banjo country. Entre o lamento e a indignação, Isquierdo decidiu ir à caça das peças em lojas e briques da Região Metropolitana e na internet. Antes, tentou pensar "com a mente" dos bandidos. Imaginou para quem poderiam passar adiante os equipamentos. Como estratégia, decidiu imprimir folders com a inscrição "Compro instrumentos musicais usados". No dia seguinte ao furto, iniciou, de bicicleta, a peregrinação.
Como fazia em todos os estabelecimentos, chegava, apresentava-se e entregava o folheto. Às vezes, contava a história do furto. Na mesma semana do crime, encontrou o banjo escorado no balcão de uma loja da parada 63 de Gravataí. Reconheceu o instrumento pelo número de série da nota fiscal que guardara.
– É um dos que eu estou procurando – disse, na hora.
O vendedor acabou contando que dois homens haviam aparecido ali, insistindo para vender o equipamento por R$ 800. O comerciante aceitou pagar R$ 200.
– Diziam que era uma dívida que tinha sido paga com o banjo – relata Isquierdo, que obteve o instrumento de volta depois de apresentar cópia do boletim de ocorrência.
O músico seguiu as buscas. Encontrou o bandolim em outra loja, na Vila Anair, em Cachoeirinha, onde criminosos haviam deixado o equipamento em consignação. Como no primeiro caso, o proprietário devolveu o instrumento, pedindo que não avisasse a polícia.
– O artista conhece o seu instrumento. De tanto tocar, a gente acaba gastando, no local onde ficam as escalas, onde digitamos as notas – explica.
Um mês depois, quando já estava sem esperanças de encontrar os outros instrumentos roubados, Isquierdo recebeu a mensagem via WhatsApp: "Tem um cara tentando vender um baixolão, que acho que é teu", dizia um amigo. Junto, anexou a foto, retirada do site de vendas de instrumentos. Dessa vez, o músico avisou agentes da 2ª Delegacia de Polícia Civil, de Gravataí, que armaram uma cilada. Um adolescente foi apreendido. E o equipamento, restituído.
– É a ferramenta de trabalho e, mais do que isso, uma extensão do nosso corpo. Quando acontece o roubo, é frustrante, é indignante. É isso o que me motivou a ir atrás. São produtos que não caem na mão de qualquer pessoa, pode ser mais fácil de encontrar – relata Isquierdo, que contabiliza prejuízo de R$ 6 mil, apesar da recuperação de parte do roubo.
Não é só uma questão financeira. Para muitos, o instrumento é uma extensão do próprio corpo. Outras vezes, trata-se de uma relação emocional com a peça. Pontuada por uma sequência de fatos ainda nebulosos, o episódio do furto e resgate da gaita Todeschini Super 5, de cor vermelha, que a artista Berenice Azambuja havia ganho dos pais há mais de 40 anos, segue sob investigação da 2ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre.
O instrumento foi surrupiado de dentro do veículo da gaiteira, no bairro Menino Deus, na madrugada de 12 de junho deste ano. Na manhã do dia seguinte, terça-feira, um Fiat Uno, possivelmente dirigido pelo criminoso, estacionou em frente à casa de um pedreiro azulejista, também músico, no Morro Santa Teresa.
Segundo a versão que chegou à polícia, o trabalhador da construção civil teria adesivado o seu carro com anúncios de apresentações artísticas, o que o teria transformado em potencial comprador da gaita de Berenice – aos olhos do autor do furto, claro.
O instrumento foi oferecido ao homem, que, em depoimento, disse ter deduzido se tratar da gaita de Berenice, já que acompanhava pelo rádio notícias do caso desde o amanhecer daquele dia. Em dúvida sobre como proceder, contatou um advogado do seu círculo de amizades, que o teria instruído a comprar a gaita com o intuito de devolvê-la à artista.
O pedreiro, então, relatou em depoimento ter pago R$ 1,5 mil pela Todeschini. Ele teria arrecadado o dinheiro no ato, guardado dentro de casa, uma parte sendo dele e outra, da esposa.
Nesse ínterim, a tradicionalista concedeu entrevistas em rádios da Capital. Obstinada em encontrar o objeto de estima pessoal, além do valor material, ela anunciou seu telefone para receber pistas. Foi a senha para que dezenas de malandros passassem a fazer contato para oferecer informações falsas. Pessoas diziam saber o paradeiro da gaita, mas, antes de revelar qualquer detalhe, exigiam remessas de dinheiro.
Foi quando o advogado contatado pelo azulejista também passou a ligar para a gaiteira e para sua secretária, Ana Paula Costa. Identificando-se apenas como Moraes, ele informava que o instrumento estava no bairro Santa Teresa. Berenice deveria encontrá-lo em local pré-definido, embarcar no seu carro até o morro e, depois, fazer o reembolso de R$ 1,5 mil para ter a gaita de volta. O inquérito registra que foram feitos pedidos para que a polícia não fosse envolvida no caso. Caso contrário, a Todeschini tomaria sumiço.
A essa altura, Berenice ainda não havia registrado ocorrência na Polícia Civil. Depois de insistentes chamadas da equipe do delegado Cesar Carrion, ela chegou à 2ª DP somente às 18h de 13 de junho, uma terça-feira, mais de 24 horas após o furto.
A artista relatou as incontáveis ligações com supostas pistas que havia recebido ao longo do dia, a maioria delas falsas. Passando um filtro, os policiais identificaram como mais coerente a história contada pelo advogado. A partir do número de telefone celular que ele havia deixado, a 2ª DP conseguiu descobrir sua identidade e verificou que o homem, de fato, era advogado. Em meio a um emaranhado de versões mentirosas, uma verdade havia surgido, ainda que fosse apenas a profissão do interlocutor. Resolveram apostar fichas nessa hipótese.
Tendo policiais ao seu lado a lhe orientar, Berenice telefonou de dentro da delegacia para o advogado. Por uma hora, permaneceram em ininterrupta negociação ao pé do ouvido. O homem mantinha a exigência de que Berenice embarcasse no seu carro para ir ao Morro Santa Tereza. Não houve acordo.
A sugestão foi agendar um encontro para o dia seguinte, quarta-feira pela manhã, no estacionamento de um supermercado da Av. José de Alencar. O advogado aceitou. A equipe do delegado Carrion montou um plano: Berenice iria ao local acompanhada por dois policiais civis que se passariam por um motorista e uma sobrinha. O bote estava preparado. Na manhã seguinte, faltando cerca de uma hora para o encontro, a secretária de Berenice avisou que ela havia passado mal e não poderia ir. A Polícia Civil resolveu manter o esquema e enviou quatro agentes ao estacionamento do mercado. Ao chegarem lá, já estavam dentro de um carro o advogado, de 71 anos, o azulejista, 67, e um radialista, 81, personagem novo na narrativa.
– Recuperamos o instrumento no ato, tudo ocorreu de forma tranquila. Devolvemos a gaita para a Berenice à tarde, no Hospital Ernesto Dornelles – recorda o delegado Carrion.
Ele indica que o caso ainda está indefinido, com pontos a serem esclarecidos antes de uma decisão por arquivar o inquérito ou indiciar os homens por receptação. Permanece a dúvida quanto à real intenção dos envolvidos no episódio. Não é possível afirmar, até o momento, se eles queriam apenas devolver a gaita ou tentaram ludibriar Berenice.
Para o delegado, os roubos de instrumentos são ocasionais: acontecem quando ladrões arrombam veículos ou imóveis e deparam com a oportunidade. Ele não acredita que existam quadrilhas especializadas nesse modelo de crime.
– Não diria que é organizado. Não é uma prática comum – conta o delegado.
Os lojistas estão mudando seus hábitos. Ao perceberem que podem se ver envolvidos em crime de receptação, com pena prevista de um a quatro anos de detenção e multa, comerciantes das avenidas Alberto Bins, Azenha, Brasil e João Pessoa, regiões de Porto Alegre conhecidas pela concentração de lojas de objetos usados, passaram a exigir nota fiscal, cópia do documento de identidade ou comprovante de residência de quem tenta passar adiante instrumentos musicais.
– Em função disso, parou a oferta. Semanalmente, vinha gente tentar vender. Inicialmente, a gente comprava. Depois, começamos a pedir nota fiscal, e pararam de oferecer – conta o dono de uma loja no bairro Azenha, que prefere não se identificar.
Foi em um comércio do centro de Porto Alegre que a polícia encontrou um dos 24 instrumentos furtados da Aldeia da Fraternidade, instituição beneficente do bairro Tristeza, que atende a centenas de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. O local foi arrombado em uma madrugada de fevereiro deste ano. Os equipamentos musicais levados eram usados cotidianamente no ensino da arte aos alunos.
O esclarecimento do caso passou a avançar com uma pista anônima que levou a Polícia Civil até uma residência na Tristeza, em um beco, onde estava uma TV furtada junto aos instrumentos. As informações colhidas na casa indicaram que a autoria do arrombamento da escola era de um ex-aluno. Sabendo da quantidade de objetos de valor guardados na instituição, ele planejou e executou a ação. O homem acabou preso, e a 6ª Delegacia de Polícia recuperou, em meados de março, a maioria dos instrumentos intactos, entre violinos, saxofones e teclados.
Seguindo pistas, a polícia foi até uma loja do centro. O comerciante informou que três homens teriam passado no seu estabelecimento pedindo a avaliação de um instrumento que desejavam vender. Ele relatou não ter feito nenhum pagamento e que o trio deixou a mercadoria na loja à noite, com a promessa de retornar no dia seguinte para apresentar um comprovante fiscal. Foi aí que a polícia interveio ao identificar a loja. A delegada Áurea Hoeppel mostrou a foto do ex-aluno da escola que havia cometido o crime e o lojista confirmou se tratar do mesmo homem que havia solicitado avaliação de preço. O instrumento foi recuperado e o comerciante, indiciado por receptação.
Se o anonimato da internet tem facilitado a vida de criminosos na hora de vender instrumentos roubados, é utilizando-se da mesma tecnologia que dois amigos de Maringá, no Paraná, decidiram criar uma plataforma para auxiliar músicos a registrar seus aparelhos. O Grome (sigla em inglês para Registro Global de Equipamentos Musicais) surgiu em 1º de março deste ano e já conta com cerca de 700 associados, que cadastraram mais de 800 instrumentos.
– Somos o Detran dos instrumentos musicais – explica Laio Thomaz, 27 anos, no vídeo de apresentação da plataforma.
Funciona assim: após um cadastro com nome, endereço e telefone, o usuário registra no Grome, de forma gratuita, o número de série de seus instrumentos musicais, marca, cor, modelo e anexa fotografias. É possível também contar um pouco da história do instrumento, shows nos quais reverberou seus acordes, músicas compostas com o aparelho. Em caso de furto ou roubo, o proprietário pode lançar um alerta no site, relatando as circunstâncias do assalto, quando e onde foi e até oferecer uma recompensa se alguém o encontrar.
O Grome passa a destacar em sua home os equipamentos desaparecidos. Assim, os demais seguidores, antes de comprar um instrumento usado em sites como OLX, podem conferir se este não está cadastrado no Grome. Caso alguém encontre algum aparelho roubado em uma loja física ou virtual, também pode contatar o proprietário.
Com o sócio da startup, Francisco Xavier da Costa Aguiar Jr., de 26 anos, formado em Administração e Gerenciamento de Projetos, Laio decidiu iniciar a plataforma como forma de ajudar amigos que tiveram equipamentos roubados. Percebeu que, enquanto uns nunca mais encontraram seus instrumentos, outros os achavam na internet. Ele recorda do caso de um músico que achou numa loja o seu baixo furtado. Ele foi à polícia, mas não conseguiu comprovar a propriedade porque não guardou a nota fiscal. O registro no site é uma forma de provar a posse, explica.
– Vi uma oportunidade de ajudar meus colegas músicos e, ao mesmo tempo, começar um negócio – conta Laio, que, além de músico, é doutorando em economia.
Desde março, foram 33 alertas de roubos em todo o país. Nesta semana, por exemplo, apareciam na plataforma relatos de vítimas em São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Elias Mohamed, de Taquara, fazia um apelo em busca de seu baixo Fender preto, modelo Jazz Bass Americano: "Invadiram minha casa e roubaram meu querido instrumento! Por favor, se alguém ficar sabendo, me informe!".
– Não sei se um ladrão, quando pega uma guitarra, sabe avaliar quanto ela vale, seja pela marca ou modelo. Acho que eles vão ver isso depois na internet e tentam vender mais barato do que o preço médio – afirma o empreendedor.