Com 98 roubos a ônibus registrados até a quinta-feira passada, o primeiro quadrimestre de 2017 é o pior dos últimos 19 anos em Caxias do Sul. O tema é um assunto cada vez mais comum entre os passageiros. A maioria das pessoas tem medo de estar de frente com o ladrão e não saber como reagir. Foi o que aconteceu com Mariana Cristina dos Santos, 19 , durante um assalto na linha Santa Fé, no dia 20 de abril.
– Eu estava sozinha e sentada mais para trás. Quando o ônibus parou naquela parada, que não costuma ter ninguém, já achei meio suspeito. Mas quando o cara entrou e anunciou (o assalto), quase morri do coração. A gente ouve falar, mas nunca espera – relembra.
Leia mais
Primeiro quadrimestre de 2017 registra o maior número de roubos a ônibus em Caxias do Sul desde 1999
Operadores de ônibus de Caxias do Sul já consideram roubos como parte da profissão
BM e Polícia Civil prometem ações contundentes contra pico de roubos de ônibus em Caxias do Sul
O assaltante estava armado com uma faca e rendeu o operador de sistema. Após recolher o dinheiro, o bandido fugiu pela porta da frente e não abordou a passageira. Ainda assim, Mariana teve dificuldades para dormir durante o feriadão de Tiradentes. Mariana é assistente administrativa em uma corretora de seguros e precisa do ônibus para ir e voltar.
– Como o ladrão não me roubou, as pessoas acham que não foi nada. Só que o susto é muito grande e eu só pensava naquilo. Chorei bastante (no feriado) e foi bem difícil voltar ao ônibus na segunda-feira. Agora estou sempre com medo e esperando. Qualquer um é suspeito. Mas penso "como que não vou andar com ônibus do meu bairro?" Não tenho quem me busque ou como comprar um carro. Vou fazer o quê? Preciso trabalhar – desabafa.
Apesar dos relatos de crimes nas paradas de ônibus da área central, o medo da jovem sempre foi de ser atacada no Santa Fé.
– O bairro está perigoso. Em toda esquina tem essa gurizadinha com drogas. É para isso que eles roubam ônibus, onde conseguem uma miséria. É para a droga – lamenta a moradora.
Para Marcele Fernanda Olivotto da Silva, 23, o medo é maior por estar com a filha, de 1 ano e 11 meses, no ônibus. A menina fica na casa a vó, no bairro Reolon, enquanto a mãe trabalha como assistente em uma gráfica.
– Está assustador. Eles (bandidos) não vão nem querer saber que estou com a criança no colo, né? A minha mãe sempre me aconselha para cuidar da nenê e ficar atenta. O que respondo é que não tem o que fazer. Se for para ser assaltada, vamos ser assaltadas. Em casa, o pensamento é sempre se "amanhã iremos chegar bem?" – resigna-se Marcele.
Outros passageiros relatam que o medo é maior enquanto esperam o ônibus, caso do auxiliar de depósito Rodrigo Cezar da Silva, 21.
– A gente ouve falar de roubos em geral e ficamos desconfiados de algumas pessoas. Tem que estar sempre atento. Algumas vezes já pensei que ia ser assaltado. O meu medo é na parada de ônibus. Mas não podemos fazer nada. Temos que continuar – opina.