Em cinco anos, Porto Alegre enfrentou 20 ataques de criminosos contra ônibus, que foram incendiados e deixaram prejuízo estimado em R$ 7,8 milhões.
O dado, de levantamentos feitos pela Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP) e pela Carris, leva em conta principalmente os ataques a veículos orquestrados por bandidos ligados ao tráfico e prejudica a vida de milhares de pessoas que dependem diariamente do transporte público.
Um exemplo dessa forma de atentado ocorreu na noite de sábado passado, na região da Vila Cruzeiro, na Zona Sul. Em represália à morte de um jovem suspeito de envolvimento com o tráfico, durante ação da Brigada Militar, na véspera, bandidos atearam fogo em um ônibus da linha Prado, do Consórcio Viva Sul, na Rua Octavio de Souza, no bairro Nonoai.
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O incêndio criminoso provocou a suspensão da circulação do transporte coletivo na região no final de semana.Na segunda-feira, os ônibus voltaram a circular, mas os da linha Prado, de forma restrita: sem passar pela Rua Octávio de Souza e com o último horário às 20h, quatro horas antes do normal.
A mudança, de acordo com a EPTC, será mantida por prazo ainda indefinido, tem causado transtornos a usuários. Entre eles, a família de uma moradora da região de 48 anos, que não quis ser identificada, que vive perto de onde ocorreu o incêndio e que trabalha como secretária em uma escola.
Na manhã de ontem, embaixo de chuva, ela e os dois filhos tiveram de andar até a Avenida Nonoai, distante quase um quilômetro da casa onde moram, para embarcar em um coletivo.
– Está complicado, pois meu filho tem de sair de casa uns 20 minutos antes do que o normal, ainda de madrugada, e caminhar até a faixa (Avenida Nonoai) para pegar um ônibus – lamenta a moradora.
Ônibus levam até seis meses para serem substituídos
Para as empresas do transporte coletivo, além do prejuízo financeiro, outros transtornos também precisam ser contabilizados.
– A cada ônibus incendiado, ocorre uma série de problemas. Para substituir um veículo incendiado, às vezes, as empresas levam até seis meses, pois eles têm de ser fabricados sob medida, seguindo padrão local de frota. A perda não é compensada na tarifa ou por seguro. Mas, principalmente, é uma questão de segurança pública e que prejudica a população – argumenta o diretor-executivo da ATP, Gustavo Simionovschi.
Dos 20 ônibus incendiados por criminosos nos últimos cinco anos,
18 pertenciam a empresas privadas, e a ATP estima prejuízo de R$ 7,07 milhões.
Os outros dois foram da Carris, concessionária pública: um deles durante manifestação de rua, em junho de 2013, na Avenida João Pessoa. O prejuízo divulgado na época foi de R$ 600 mil.
O outro foi na Vila Cruzeiro, em janeiro deste ano, quando assaltantes realizaram um arrastão nos passageiros e, após mandar todos descerem, colocaram fogo no veículo. A perda, neste caso, foi de R$ 150 mil.
Os incêndios criminosos de ônibus são ações cujo modelo foi copiado da região Sudeste do país e têm dois motivos principais na avaliação do comandante do Policiamento da Capital (CPC), coronel Jefferson Jacques:
– O nosso diagnóstico é que a queima de ônibus ocorre como reação de grupos de traficantes a uma ação da polícia, tentando dar uma demonstração de poder, ou como forma de atrapalhar negócios de bandos rivais, incendiando veículos nas áreas dominadas por esses – explica.
De acordo com o oficial, na maioria dos casos não há como prever e evitar os ataques.
– Às vezes, o setor de inteligência consegue detectar que um ataque está sendo planejado, mas quando a decisão dos criminosos é tomada de uma hora para outra, fica difícil de saber. Então, nestes casos, fazemos um trabalho posterior de contenção, ocupação e de controle das áreas afetadas, além de colaborar com a Polícia Civil na apuração dos casos – afirma Jacques.
O comandante do CPC afirma que o policiamento na região da Vila Cruzeiro será mantido por tempo indeterminado.