Marcos Dierka é um apontado pela Polícia Civil como um suposto bicheiro sediado em São Gabriel, com atuação em outros municípios da zona sul. A delegada Ana Tarouco registrou no inquérito policial da Operação Deu Zebra que, diferentemente da família Kucera, Dierka seria adepto da violência, da intimidação e da corrupção de agentes policiais para manter a sua hegemonia.
– Não raras vezes se vale de seus seguranças, alguns deles policiais, para agredir devedores e pessoas que queiram sair do grupo. Tal postura, aliada à notória corrupção de servidores públicos da segurança, somada à corriqueira referência ao uso de armas de fogo, demonstra a periculosidade social do bandido –afirmou a delegada.
Dierka usaria boletos bancários, empresas de fachada, como uma loja de móveis, e laranjas para movimentar e lavar o dinheiro do jogo do bicho. A investigação teria apurado uma diferença de R$ 959 mil entre o que Dierka fez circular de dinheiro e o que ele realmente declarou.
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A empresa de móveis do Rio de Janeiro usada por ele não teria declarado qualquer renda recentemente, mas suas contas registrariam o ingresso e saída de mais de R$ 5 milhões. A mulher que atua como contadora do suposto bicheiro também não teria declarado nenhuma renda ou ativo, mas teria feito circular no sistema bancário R$ 3,5 milhões nos últimos cinco anos.
Em novembro de 2016, Dierka foi preso pela Brigada Militar por porte ilegal de arma de fogo. Em Cruz Alta, em frente a um conhecido ponto de jogo do bicho, ele e seus capangas, policiais que portavam armas funcionais, aplicaram uma surra em um sujeito. A BM chegou em tempo de flagrar o ato. Acredita-se que a violência tenha sido motivada por divergência quanto aos negócios.
Em diálogo interceptado, o núcleo de São Gabriel teria demonstrado periculosidade e infiltração do bicheiro no poder público. Na banca de Dierka em Bagé, uma das arrecadadoras de dinheiro é funcionária da prefeitura. Ela se deslocava aos pontos de jogo para amealhar o recurso ilícito com sua farda de agente de trânsito da cidade e com carro identificado do município.
O episódio gerou atrito, já que a servidora pública concursada teria sido filmada em frente a um dos pontos. A apontadora do local onde teria ocorrido o flagrante, incomodada com a situação, foi ameaçada de ser excluída do negócio do bicho. Houve desconfiança de que ela havia feito denúncia para prejudicar a funcionária pública.
– Se tirarem a máquina da minha mãe eu vou lá na EBTC (Empresa Bageense de Transporte e Circulação) falar com o Paulo Tomas, que é o secretário – alerta a apontadora.
– Vai lá e espera pra ver, vai lá e espera pra você ver. Você acha que eu sou o que? Um b****, um Zé Ninguém? – ameaça um homem do alto escalão da banca.
A mulher afronta:
– Com certeza, já vou te dizer uma coisa, tu vai à p*** que te pariu.
– Você vai ver – promete o bicheiro.
Pouco depois, capangas são enviados para recolher a máquina eletrônica da apontadora que desafiou a chefia. Nas escutas, a cúpula ordena que os seguranças "afofem a cara dessa mulher".
Em outro diálogo captado pela PC, a banca de São Gabriel demonstraria estar interessada em articulações que visavam a interferir na discussão sobre a legalização do jogo de azar no Congresso.
– Eu tô até com o projeto na mão aqui de regularização, que é o que vai ser votado. (...) Essa comissão (do Congresso) mandou chamar lá os empresários do ramo porque senão ia cair na mão da Caixa (Econômica Federal) – diz um interlocutor da quadrilha de São Gabriel.
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CONTRAPONTO
O que diz o advogado Décio Lahorgue, defensor de Mario Kucera:
Lahorgue declarou que o seu cliente é apenas empresário do jogo do bicho "há muitos anos". O advogado negou também que o seu cliente utilize lotéricas da Caixa Econômica Federal para lavar dinheiro da jogatina.
– Na verdade, ele (Kucera) tem banca de jogo do bicho. Mas aquele patrimônio, aquilo tudo que dizem é uma ficção. Tem coisas arroladas na investigação de quando o Mario Kucera era criança ou sequer era nascido. Essa investigação está cheia de falhas. Ele tem jogo do bicho e só, mais nada – afirmou Lahorgue.
O que diz a defesa de Marcos Dierka:
Zero Hora não encontrou, até o momento, a defesa de Marcos Dierka, preso por suspeita de chefiar a banca de São Gabriel. A Polícia Civil informou que Dierka ainda não constituiu advogado junto às autoridades.