Em apenas um final de semana, 40 pessoas foram assassinadas no Rio Grande do Sul. Um volume de mortes que não era visto, pelo menos, desde dezembro de 2014, quando o Grupo RBS começou o acompanhamento de mortes violentas a cada final de semana. Quase metade desses crimes – 17 casos –, acredita a polícia, tiveram o tráfico de drogas ou acertos de contas entre criminosos como principal motivação.
– Cada vez mais deparamos com casos em que o criminoso sequer parece ter motivação clara para matar. Ele só sabe que tem de matar. Não se trata mais eliminar os rivais para controlar o tráfico, mas simplesmente eliminar quem acham que pode ser um rival – afirma o diretor de investigações do Departamento de Homicídios de Porto Alegre, delegado Gabriel Bicca.
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No domingo foi constatada, mais uma vez, a ousadia que os confrontos entre grupos rivais no tráfico de drogas alcançou. Durante as primeiras horas da noite, agentes da Força Nacional faziam ação de patrulhamento nos arredores do bairro Passo das Pedras – um dos mais conflagrados, na zona norte de Porto Alegre. Foi só o aparato ser desfeito, que os tiroteios reiniciaram. Às 22h, a Brigada Militar foi acionada, quando o resultado trágico do confronto era inevitável.
Dois corpos de homens estavam carbonizados no porta-malas de um carro roubado, também incinerado, na Avenida 10 de Maio. A polícia ainda aguarda exames periciais para identificar as vítimas e delinear as circunstâncias do crime. O caso é apurado pela 5ª DHPP e há, ao menos, uma suspeita. Trata-se de mais um crime relacionado às rivalidades entre facções criminosas na Zona Norte.
Não é descartada até mesmo a possibilidade de que esse duplo assassinato tenha sido resposta, ou sequência, de outro crime semelhante, ocorrido na manhã de domingo junto ao Parque Chico Mendes, quando um corpo foi encontrado carbonizado dentro de outro veículo roubado. A vítima só poderá ser identificada por exames de DNA, mas a polícia suspeita de que se trate de integrante de uma facção com atuação no bairro Mario Quintana.
Quase ao mesmo tempo, na noite de domingo, os policiais foram chamados a outra cena de crime provavelmente resultante de um acerto de contas. Os adolescentes João Vitor Lopes de Oliveira e William Giovane Lopes Barcellos, ambos de 17 anos e com histórico com adolescentes infratores, foram atacados a tiros na Rua Sinval Saldanha, no bairro Bom Jesus.
Brigas matam no Interior
Se a maior parte dos crimes do final de semana na Capital têm relação com o tráfico de drogas – 58,3% –, a lógica no Interior, onde 13 pessoas foram assassinadas no mesmo período, foi outra. Em 30,7% dos casos as mortes foram ocasionadas por brigas, enquanto, 15% dos casos tinham acertos de contas como pano de fundo.
Na madrugada de domingo, por exemplo, João Batista da Silva, 38 anos, foi morto a facadas em uma briga em Tramandaí, no Litoral Norte. Ele era vendedor de redes e foi atacado por um colega, que acabou preso pouco logo depois.
Entre os mortos no final de semana, duas vítimas eram mulheres. Uma delas foi a servidora pública Eliane Stedile Busellato, 48 anos. Ela foi vítima de um latrocínio (roubo com morte) no bairro Cruzeiro, em Caxias do Sul. Ela foi atingida com dois tiros no pescoço ao supostamente tentar arrancar o carro quando criminosos a roubavam, no começo da noite de domingo.
Eliane dirigia um Focus quando uma S10 parou a sua frente. Um homem desceu e anunciou o roubo. Na manhã de ontem, a polícia prendeu o primeiro suspeito, no bairro Diamantino..