Preso pela morte de fotógrafo em Canoas, em julho do ano passado, e suspeito de ser um dos principais distribuidores de drogas da Região Metropolitana e de boa parte do Estado, Juliano Biron da Silva, 33 anos, também controlava a casa noturna Seraphine Resto Lounge, que fica no terceiro andar do complexo da Arena do Grêmio.
O local foi um dos alvos do cumprimento de mandados de busca e apreensão pelo Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), na manhã dessa quinta-feira. Recibos, correspondências e até anotações contábeis dando conta de retiradas de valores em nome de Juliano Biron da Silva foram encontrados no local, que é apontado como um símbolo do poder deste criminoso.
Há suspeita de que o espaço, alugado por mais de R$ 30 mil mensais e reformado para receber festas de alto padrão, possa servir como local de lavagem de dinheiro do crime.
– Foram recolhidos documentos que podem dar início a um inquérito sobre lavagem. Mas é inegável que o Juliano Biron exercia, como sócio ou proprietário, o controle da casa noturna – diz o delegado Mario Souza.
Além da possível maquiagem dos até R$ 2 milhões movimentados mensalmente pela quadrilha, a polícia tem indícios que apontam a casa noturna também como local de reuniões do criminoso. Ali, suspeitam os investigadores, Juliano recebia negociantes e até acertava remessas de drogas.
Em nota, a administração da Arena do Grêmio informou que há seis meses o restaurante estava fechado por inadimplência. O espaço teria sido locado há dois anos e, segundo os administradores "todos os documentos de praxe da pessoa jurídica e seus representantes foram solicitados e devidamente apresentados, não se verificando qualquer irregularidade". A nota salienta ainda que em nenhum momento a Arena do Grêmio recebeu denúncias ou constatou ilícitos enquanto o estabelecimento funcionou.
De acordo com o diretor do Denarc, delegado Emerson Wendt, a Arena do Grêmio não tem qualquer relação com a investigação.
Uma rede de lancherias também é investigada como possível destino dos lucros com o crime. Na ação dessa quinta, ainda foram apreendidos dois carros – um Cruze e um Mini Cooper –, além de R$ 13 mil.
Juliano será ouvido pela polícia nesta sexta-feira, no Presídio Central. A reportagem tentou contato com o advogado dele, Adriano Marcos Pereira, mas não obteve retorno.
Histórico no mundo do crime
A carreira criminosa de Juliano Biron da Silva começou nos roubos a bancos. Em 2006, chegou a ser indiciado por quatro assaltos deste tipo. Foi condenado a menos de dois anos, em regime aberto. A suspeita da polícia é de que, no meio do roubo, ele tenha estreitado relações com a facção Os Manos. E a partir daí, entrado para o tráfico de drogas.
A polícia ainda investiga os supostos elos dele com traficantes da fronteira brasileira com o Paraguai, em contatos que teriam sido amadurecidos provavelmente no final da década passada.
– Ele tem um estilo diferente de outros líderes. Não foi para Foz do Iguaçu esbanjar, e parece que adquiriu a confiança de grandes traficantes – explica o delegado Mario Souza.
Dessa forma, ganhou status na organização. Para que se tenha uma ideia, conforme a investigação do Denarc, Alexandre Goulart Madeira, o Xandi, executado no começo do ano passado e apontado como um dos principais líderes da facção, movimentava cinco vezes menos drogas por mês do que a estimativa de negócios de Juliano Biron. Xandi seria um dos compradores do fornecedor.
* Diário Gaúcho