A venda de celulares roubados ocorre livremente no Centro de Porto Alegre e já se tornou parte de outras tantas irregularidades que podem ser vistas ao caminhar pelo local. Nas proximidades do Camelódromo, na Avenida Voluntários da Pátria, é possível ouvir diversas vozes se perdendo em meio à multidão “Compro e vendo celulares”.
A reportagem da Rádio Gaúcha fez um teste e flagrou diversos ambulantes vendendo os aparelhos roubados. As ofertas são tentadoras: os mais diferentes modelos, para todos os gostos, por preços muito abaixo do mercado. Os valores variam de R$100 a até R$1000. Alguns vendedores expõem a mercadoria em caixas de papelão na própria calçada, outros escondem o produto e só mostram quando um cliente procura. “Eu não tenho como comprar um na loja, aqui tá valendo muito a pena e é um celular bom”, diz uma compradora que não quis se identificar.
Caso algum dos ambulantes não tenha o aparelho procurado, outros tantos se unem na busca por um mais parecido. Todos se conhecem e encobrem uns aos outros. Se o preço não for acessível para o bolso do cliente, é possível negociar, trocar por outro celular e dar o restante em dinheiro. O importante é fechar negócio. “Quando tu voltar não vai mais ter, eles tão de barbada e toda a hora vem alguém perguntar querendo iphone e o galaxy, vai muito rápido”, falam os vendedores.
Na procura por um iphone, a reportagem não teve nenhuma dificuldade em encontrar. O aparelho usado, com a parte de trás quebrada e em péssimo estado de uso, foi oferecido por até R$450 “Ta barato demais, tem o carregador original e tudo, não da pra pensar”, dizia o ambulante. Outro novo, na caixa pode ser comprado por mil reais. Um Galaxy S3, estava por R$350. Ao questionar porque o preço é tão baixo, nenhum deles esconde que os aparelhos são roubados “Claro, a maioria aqui é tudo roubada”, relata um vendedor.
Em outros pontos, compradores aconselham a escolher outros modelos e não optar pelo iphone “Eu se fosse tu não comprava, a pessoa vai na loja e pode bloquear ele a qualquer momento, ontem uma guria comprou um iphone cinco, pagou uma grana e quando chegou em casa ele foi bloqueado, e daí não tem como devolver o dinheiro”, alerta.
Brigada Militar
O Sub-comandante do 9º Batalhão da Brigada Militar, Major Francisco Lannes Vieira explica que uma patrulha da Brigada Militar é deslocada diariamente para fazer a fiscalização juntamente com a Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic), por esse motivo, as patrulhas que circulam pelo centro acabam não abordando os ambulantes. O major ainda relata a dificuldade de prender os indivíduos, mesmo quando se tem a comprovação de que os objetos são roubados “Eles tem os chamados Cavaleiros, que são como guardiões e avisam quando a fiscalização aparece. Quando eles disparam o alerta, todos desaparecem em meio a multidão, explica.
Difiuldade para prender
A delegada adjunta da 17ª Delegacia de Polícia, Carmen Katia Regio, destaca que somente no mês de janeiro deste ano, 43% das ocorrências registradas na delegacia correspondem a roubos e furtos de celulares. Das 210 ocorrências geradas, 60 correspondem a roubos de celulares e 30 a furtos. A delegada aponta duas dificuldades no combate a este tipo de crime “As vezes ele é preso em flagrante e a própria justiça concede liberdade provisória. Ou ele não está em situação de flagrante, e aí o delegado ouve e libera”, afirma.
Como exemplo, a delegada cita o caso de um jovem, que no mês de dezembro de 2013 foi preso oitos vezes, em duas semanas, por furto de celulares no centro. Já em janeiro deste ano, uma mulher foi presa em flagrante, depois de estar com 19 celulares roubados, um deles de uma vítima que foi assaltado no mesmo dia.
Fiscalização
O Secretário-adjunto da Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic), José Oliveira Peres, garante que quatro equipes são responsáveis pela fiscalização no Centro da Cidade e que o órgão está adotando as medidas necessárias para combater este tipo de crime. Peres destaca a dificuldade das equipes para flagrar as irregularidades "As vezes chegamos e eles conseguem correr e se esconder, mas nosso trabalho é intenso, ainda mais em ano de Copa do Mundo, quando é fundamental debelar com essa cadeia", afirma. O Secretário lembra, ainda, que ainda neste semestre será criado o Conselho Mulnicipal de Combate a Pirataria.
Confira as conversas dos ambulantes com a reportagem