Um fato ocorrido na manhã de 22 de setembro do ano passado marcou para sempre a história de sete famílias gaúchas. Cinco delas, de maneira irreversível. Operários que trabalhavam em uma máquina da empresa Masisa, em Montenegro, Região Metropolitana de Porto Alegre, foram vítimas de uma explosão após falha no equipamento. Sete feridos foram encaminhados para atendimento em hospitais com graves queimaduras. Cinco morreram.
As investigações constataram que havia falhas na segurança do setor, conforme relatório da equipe de auditores do Ministério do Trabalho que trabalha no caso. Abaixo, um trecho:
"Na análise da Fiscalização, o acidente teve múltiplas causas, iniciando pela concepção/projeto do Prédio das Peneiras - prédio fechado - e questões relacionadas ao reconhecimento, avaliação e medidas de controle para o risco de explosão com poeiras de madeira naquele recinto"
Interdição
O local ficou quatro meses interditado para adequações. Ainda assim, o inquérito da Polícia Civil foi concluído sem nenhum indiciamento. Segundo o delegado responsável pelas investigações, Marcelo Farias, a empresa tinha plano de prevenção e oferecia cursos e equipamentos de proteção individual. Ainda, os laudos periciais - da Polícia Civil e de uma empresa independente contratada pela companhia - não apontaram negligência.
- Então, a partir dos laudos elaborados e toda essa prova testemunhal colhida ao longo das investigações, nós encaminhamos o inquérito sem apontar o indiciamento de algum responsável - relata.
Ministério Público
O Ministério Público recebeu o inquérito em março. A análise será concluída em junho e novas investigações devem ser solicitadas, justamente, pela falta da identificação de possíveis responsáveis. Em nota, a empresa Masisa relata que prestou todo o atendimento às vítimas e aos familiares e que realizou investimentos após o acidente. A produção já foi retomada.
Trauma
Um dos operários feridos na explosão, o técnico mecânico Cristiano Flores Souza, de 30 anos, diz não se lembrar do momento da tragédia. A primeira recordação dele foi quando viu os filhos de sete e oito anos passados 22 dias depois do acidente. Ele teve 40% do corpo queimado e foi atendido em um hospital catarinense, por especialistas. Atualmente, Cristiano afirma que está "quase 100%" e que se recupera de um quadro depressivo. O operário afirma que vê a vida diferente.
- Hoje dou valor a pequenas coisas: passear com meus filhos, ir num lugar para jantar, sair com os amigos que eu tenho na igreja, meus primos. Então hoje eu começo a pensar que a vida não é só trabalho. Isso tudo é vaidade. Isso tudo passa - emociona-se.
Cristiano ainda não voltou a trabalhar, mas diz que quer retomar a carreira na área da mecânica. Segundo ele, a empresa prestou assistência médica e um acordo permitiu o pagamento de indenização.
- Ouça a entrevista de Cristiano Flores Souza na íntegra
Assistência
Todos os envolvidos no acidente já foram indenizados, segundo a Polícia Civil. Abaixo, a nota divulgada pela empresa Masisa.
"A Masisa Brasil prestou apoio às vítimas e aos seus familiares e cooperou com as autoridades na investigação das causas do acidente da unidade de Montenegro. Paralelamente, a empresa realizou investimentos na área afetada e na segurança da planta. O inquérito policial concluiu não haver culpados, o que aliado à liberação pelo Ministério do Trabalho, permitiu a retomada da produção na unidade de forma gradual desde janeiro deste ano"
Gaúcha
Após sete meses, explosão que matou cinco operários em Montenegro segue sem identificação de culpados
Duas pessoas feridas já estão recuperadas
Mateus Ferraz
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project