O sul do país está sob ataque de pelo menos 14 quadrilhas que encontraram no uso de explosivos o melhor meio de saquear bancos. Para os bandos, formados por gaúchos, catarinenses, paranaenses e paulistas, bananas de dinamite se revelaram a forma mais rápida e eficaz de abrir cofres e caixas eletrônicos, mesmo com o risco de explodir a agência.
No início da madrugada deste sábado, o alerta foi reforçado em Caxias do Sul, na Serra. Criminosos explodiram um caixa eletrônico localizado em um posto às margens da Rota do Sol (RST- 453). Seguranças do estabelecimento reagiram e houve troca de tiros, mas os bandidos fugiram em um Gol branco, sem levar dinheiro.
Dos assaltos com revólveres nos anos 80 à tomada de pequenas cidades com uso de fuzis nos anos 2000, os bandos que agem nos três Estados têm se adaptado nas últimas décadas aos mecanismos de segurança interpostos pelos bancos. Nessa escalada de violência, o uso de explosivos passou a ser difundido recentemente.
O jogo de xadrez entre criminosos e bancos remete ao final dos anos 80. Primeiro vieram o reforço no número de vigilantes e a instalação de câmeras, depois as portas giratórias e as restrições nos volumes de dinheiro. Nesse período, até marretas foram usadas para quebrar paredes.
Depois de dar início a uma onda de sequestros de gerentes no início da década passada, os principais bandos descobriram que as agências do entorno das grandes cidades não mais guardavam em seus cofres quantias significativas. Passaram então a eleger pequenas cidades como alvos preferenciais, onde os bancos estão mais desprotegidos e a quantia de dinheiro é maior. A prisão de grandes grupos em 2010 arrefeceu por algum tempo o ímpeto dos bandidos por essa modalidade de ataque.
- Esses grupos vão se adaptando. E, neste sentido, tenho a certeza de que o uso de explosivo, combinado com armamento pesado, em ataques noturnos, é a nova modalidade de assaltos a banco - afirma o delegado Juliano Ferreira, titular da Delegacia de Roubos.
A busca por alternativas mais rentáveis levou as quadrilhas a descobrir, ao longo dos anos 2000, que os caixas eletrônicos muitas vezes guardam mais dinheiro do que o cofre dos bancos. Os caixas eram levados em picapes e Kombis para terrenos baldios, onde eram violados. O uso de explosivos surgiu entre os assaltantes, agora, para abreviar a ação:
- Um caixa é aberto em três minutos com explosivo. Com maçarico, leva 30 - explica o delegado catarinense Renato Hendges.
A maioria das 14 quadrilhas que agem no Sul é formada por gaúchos e catarinenses que passaram a se consorciar com paranaenses e paulistas, donos de armas pesadas. A principal vantagem dessa estratégia, dizem os policiais, é que assim os bandos aliam criminosos que conhecem a técnica de abertura dos equipamentos a comparsas que conhecem a região.
- Paranaenses são presos do lado catarinense e vice-versa, sinal de que estão integrados - explica o delegado paranaense Rodrigo Brown.
Migração para o RS
Ao trocar e-mails com fotos de suspeitos, relatórios confidenciais e vídeos de câmeras de segurança de agências violadas, as polícias dos três Estados adotam agora a mesma estratégia usada pelos bandidos que perseguem. A integração tem como objetivo desarticular aos poucos os 14 grupos identificados nas investigações das delegacias especializadas.
- Sem esse trabalho é difícil entender a dinâmica dessas quadrilhas. Santa Catarina "exportou" maçariqueiros, que sabiam como abrir um caixa e praticavam apenas furtos. Agora, eles estão ligados a ladrões tradicionais de assaltos a banco. Isso explica os ataques mais violentos, com uso de armas pesadas - afirma o delegado catarinense Renato Hendges.
Com apenas quatro ataques em 2012, o Rio Grande do Sul pode ser o novo alvo dos bandos que vêm agindo nos Estados vizinhos. Depois de desarticular três grupos no ano passado, a ameaça dos explosivos voltou a preocupar as autoridades gaúchas. Isso porque a migração é tida como certa, caso os bandos já identificados não sejam desarticulados rapidamente. Dois bandos estão sendo investigados no Estado.
- Estamos trabalhando para evitar que isso aconteça. Sabemos que essas quadrilhas reúnem criminosos de diferentes Estados - explica o delegado Juliano Ferreira, titular da Delegacia de Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) gaúcho.
De certa forma, o processo de migração para o Sul já estaria em andamento. Depois das investidas das polícias de São Paulo no combate a esse tipo de crime no final do ano passado, as quadrilhas se rearticularam para agir no Paraná e em Santa Catarina. Em janeiro, foram registrados 21 casos em território paranaense, boa parte no entorno de Curitiba. A criação às pressas de uma força-tarefa local em fevereiro levou à desarticulação do principal bando em ação. Com isso, o número caiu para sete explosões no Estado de fevereiro até agora. Em Santa Catarina, foram 10 explosões em janeiro e outras 10 entre fevereiro e março.
Para conter os ataques é preciso ainda enfrentar outro problema: a fragilidade na segurança dos paióis de empresas que utilizam dinamite para mineração ou aberturas de estradas. Segundo a delegada Fabiane Bittencourt, de Caçapava do Sul, onde dois homens foram presos na quinta-feira com 22 quilos de dinamite, a segurança e o controle são frágeis:
- A empresa que teve a dinamite furtada ficou sabendo do furto por nós.
Procurado por ZH, o Comando Militar do Sul não deu detalhes da rotina de fiscalização dessas empresas, tampouco revelou quantas estariam autorizadas a utilizar explosivos. Em nota, a assessoria informou que o caso de Caçapava motivou um processo administrativo para apurar a origem do material.