Solange Lompa Truda (*)
Muitas crianças já estavam ansiosas pela chegada do Natal. Lembro-me, claramente, dos enfeites que minha mãe colocava na árvore de Natal. Fazíamos desenhos, adornos, bolinhas pintadas e confeccionadas por mim e pelas minhas irmãs. Todos participavam da decoração da casa, o que nos enchia de orgulho quando víamos a árvore concluída, na sala. Era uma construção de toda a família.
Auxiliar na decoração da casa, fazer escolhas e aceitar a opinião dos outros membros da família é um momento extremamente rico, lúdico e prazeroso para pais, crianças e irmãos de diferentes faixas etárias se relacionarem bem de pertinho diante do mesmo objetivo. Além disso, este momento propicia que aprendam a respeitar habilidades, ritmos e as possibilidades de cada familiar. Conhecimento e interação para todos.
E todo esse clima tem muito significado para o desenvolvimento infantil. Entendemos que a fantasia forma parte da infância, pois é a capacidade de simbolização da criança, uma ponte para a realidade externa e uma possibilidade de através do brinquedo e dos personagens que cria resolver seus conflitos internos. Para a criança pequena, a fronteira entre o real e o imaginário não está bem delimitada, e a fantasia tem um papel bem importante para seu desenvolvimento. No caso do Papai Noel, ela constrói a fantasia de “grande pai”, que atende todos seus desejos imaginários. À medida que cresce e o princípio da realidade vai dominando o princípio do prazer e a fantasia, a criança naturalmente começa a desconfiar da existência deste personagem natalino, o bom velhinho que traz presentes.
A desconfiança sobre o Papai Noel é uma frustração importante para as crianças, pois faz parte da construção entre o real e o imaginário. E é importante que tal descoberta se dê naturalmente pela criança. É o momento em que a criança começa a lidar com os pais reais, com essa família através do que ela é, e não com a idealização que ela constrói na sua fantasia.
Esta é uma frustração importante para as crianças, pois faz parte da construção entre o real e o imaginário. E é importante que tal descoberta se dê naturalmente pela criança. É o momento em que a criança começa a lidar com os pais reais, com essa família através do que ela é, e não com a idealização que ela constrói na sua fantasia. Este amadurecimento é lindo de se ver e acontece no momento diferente para cada um, respeitando o seu repertório evolutivo.
O Natal é uma data cheia de símbolos, valores e crenças que mexem com os nossos sentimentos, a imaginação e com a ludicidade das crianças. Quem de nós, adultos, não sentimos saudade dos Natais vividos na infância? Não há como negar que o Natal transforma cenas reais em lembranças significativas e cheias de afeto, que chamamos de memórias afetivas.
O papel das cartinhas para o Papei Noel
Nas escolas e em algumas famílias, existe o hábito de escrever uma cartinha para o Papai Noel. Durante a escrita ou o desenho da criança, são manifestados vários sentimentos e expectativas, e muitas vezes as palavras ou a arte conseguem trazer as dificuldades enfrentadas durante o ano e seus desejos de superação, entre outras emoções. Nesse processo de expressão dos sentimentos, pais e professores podem captar mensagens que, às vezes, passam despercebidas durante o ano e, principalmente, trabalhar valores importantes como o respeito, a admiração, o perdão, a empatia e os bons comportamentos sociais.
Portanto, acredito que a cartinha não deve ser um meio apenas para pedir o presente e, sim, um meio para que a criança se expresse. Acreditamos que o aprendizado se torna muito mais real quando os adultos permitem que a imaginação, a criatividade e a ludicidade sejam os “chefes”.
Fica o convite para revivermos lembranças natalinas, experimentando situações de amor, respeito e carinho com os filhos, proporcionando momentos ricos em imaginação, fantasia, aprendizagem e troca. Esses estímulos na primeira infância são essenciais, permitindo que crianças possam vivenciar e entender diferentes emoções e compreender seu papel social nos diferentes ambientes. É importante criar memórias em nossas crianças, momentos e sentimentos inesquecíveis que certamente terão muito mais valor do que o presente em si. Então, brinque, sonhe, imagine com elas e tenhamos todos um Feliz Natal!
(*) Psicóloga clínica e escolar, especialista na infância e na adolescência