Por sugestão da leitora Rosane Maria Moro Torres, o tema desta reportagem é o nível da pressão arterial – uma preocupação para muitos brasileiros. Mais precisamente, um a cada quatro adultos no país sofre de hipertensão, a chamada pressão alta.
Isso ocorre porque disfunções do organismo elevam a pressão sanguínea, colocando o indivíduo em uma situação de risco para ocorrência de eventos cardiovasculares, como um infarto agudo do miocárdio ou um acidente vascular cerebral, por exemplo.
Como se fica hipertenso
A hipertensão é, em 95% dos casos, uma condição genética. A grande maioria das pessoas tem a doença devido a uma herança familiar, mas há certa influência dos hábitos de vida no surgimento do quadro.
Porém, a hipertensão arterial pode ser secundária a distúrbios no funcionamento dos rins, das glândulas suprarrenais, tireoide e paratireoides e de síndrome da apneia do sono, além de outras disfunções orgânicas mais raras.
A prevalência da doença é maior em adultos a partir dos 50 anos.
O diagnóstico
A Sociedade Brasileira de Cardiologia define que os hipertensos apresentam pressão arterial acima de 140 por 90 mmHg (unidade física de medida que significa milímetros de mercúrio), popularmente conhecida como 14 por 9.
Esse número é medido pelo aparelho de pressão e apresenta respectivamente a pressão arterial sistólica (a máxima pressão cardíaca, que ocorre quando o coração bombeia o sangue) e a arterial diastólica (momento de mínima pressão, quando o músculo cardíaco repousa). Um nível considerado ideal de pressão é 12 por 8.
Sintomas
A hipertensão é uma doença silenciosa que não apresenta sintomas. Ou seja, seu diagnóstico depende de o indivíduo procurar revisões médicas.
Segundo o médico cardiologista Mário Wiehe, presidente da Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul (Socergs), não existe uma clara relação entre dores de cabeça (cefaleia) e epistaxe (sangramento no nariz) com quadro de hipertensão.
Fatores de risco
Quando a pressão elevada está associada a outros fatores de risco, aumenta significativamente a chance de eventos cardio e neurovasculares graves, com impacto em mortalidade e piora da qualidade de vida. Colesterol elevado, diabetes e tabagismo são os principais vilões junto à hipertensão, sendo todos eles controláveis, seja por mudança no estilo de vida seja por meio de medicação.
Complicações mais frequentes
Os eventos clínicos mais associados à hipertensão são extremamente perigosos, podendo, em muitos casos, levar a sequelas irreversíveis ou até à morte. Há três tipos:
Cardiovasculares: infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca e doenças da artéria aorta.
Neurovasculares: os acidentes vasculares cerebrais, que podem ser isquêmicos (obstrução de artéria cerebral) ou hemorrágicos (com sangramento ou rompimento de vaso sanguíneo), também conhecidos como derrames.
Renais: insuficiência renal, quando o rim perde a capacidade de filtrar o sangue e acumula toxinas no corpo. Pode demandar hemodiálise ou até transplante.
Controle da hipertensão
O tratamento pode ser feito com ou sem medicamentos, ou aliando o uso de remédios com mudanças nos hábitos de vida. O controle não medicamentoso da hipertensão pode ser feito com redução da adição de sal aos alimentos. Importante lembrar que muitos alimentos industrializados contêm substâncias com altas doses de sais de sódio, por isso é importante reduzir o consumo desses produtos. Também são recomendadas redução de peso e prática de atividade física regular. Mesmo com a adoção de um estilo de vida mais saudável, um percentual elevado dos indivíduos vai necessitar, ainda, da introdução de medicamentos anti-hipertensivos, que são de uso contínuo.
Tem cura?
A hipertensão não tem cura, mas é plenamente controlável. Para isso, Wiehe ressalta que, hoje, a medicina possui um arsenal terapêutico bastante amplo para dar uma condição de vida normal ao hipertenso. Só que o paciente deve ter adesão total ao tratamento:
— Menos de 50% dos indivíduos que têm diagnóstico estão com os níveis de pressão arterial no alvo.
Os principais medicamentos para o controle da hipertensão estão disponíveis gratuitamente na rede pública de saúde.
— Nos casos de difícil controle da hipertensão arterial, torna-se necessário a busca de um especialista desta área — conclui Wiehe.
Entenda
- A hipertensão arterial ocorre quando a pressão está acima do limite considerado normal, que, na média, é máxima em 120 e mínima em 80 milímetros de mercúrio, ou simplesmente 12 por 8.
- As pessoas que têm familiares hipertensos, que não têm hábitos alimentares saudáveis, ingerem muito sal, estão acima do peso, exageram no consumo de álcool ou são diabéticas têm mais risco de desenvolver a hipertensão.
- A pressão arterial pode ter uma variação relativamente grande sem sair dos níveis de normalidade. Para algumas pessoas, ter uma pressão abaixo de 12 por 8, como, por exemplo, 10 por 6, é normal. Já valores iguais ou superiores a 14 (máxima) e/ou 9 (mínima) são considerados como hipertensão para todos.
- Meça a sua pressão e compare com os números da tabela abaixo:
Fonte: Mário Wiehe, médico cardiologista presidente da Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul (Socergs), médico do Hospital Moinhos de Vento e professor da Escola de Medicina da PUCRS
Produção: Állisson Santiago