O roteiro das próximas férias de família tinha um destino pré-definido. Queríamos curtir o sol, o calor e o mar de água quente do Nordeste. E como costumamos descansar fora da alta temporada, já que nossa filha Manuela, quatro anos, ainda não está no Ensino Fundamental, nos parecia mais do que uma boa pedida.
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O período marcado foi a segunda quinzena de março deste ano. Até aí, tudo certo. Ao mesmo tempo, vínhamos tentando ampliar a família. E lá em outubro do ano passado recebemos a maravilhosa notícia de que um bebê estava a caminho.
Já grávida, lembro de um dia em que ouvi, meio que de canto, a notícia sobre o aumento do número de casos de microcefalia no Nordeste. Fiquei com a pulga atrás da orelha, mas foi só mais tarde que me dei conta da dimensão do problema.
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Minha sogra apareceu na festa de final de ano da escolinha da minha filha, que era em um local ao ar livre, próximo de um rio, com um frasco de repelente. "Comprei para ti, tens de passar", disse-me ela. Pensei: "ok, não custa nada". E, de fato, tinha muito mosquito lá - vai saber por onde anda o Aedes aegypti. Passei a carregar o produto na minha bolsa, por via das dúvidas. Não passo desesperadamente, mas tenho sempre (ou quase sempre) à mão.
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À medida que os casos de microcefalia iam se multiplicando, minha preocupação também crescia. Nos demos conta de que o Nordeste passou a ser uma zona de perigo para as férias. Buscamos alternativas no Caribe - queríamos praia -, mas o zika chegou por aquelas bandas também. Passei o período inicial da gestação e estarei bem grávida até a chegada das férias, mas achamos que nosso descanso será mesmo proteger nosso pequeno Murilo. Serra, aí vamos nós.