A relação do zika com uma doença que causa paralisia e pode levar à morte em alguns casos aumenta o alerta para mais uma consequência do surto do vírus no país. Pernambuco e Bahia, no Nordeste, confirmaram um crescimento dos casos da Síndrome de Guillain-Barré (SGB), doença autoimune rara, que geralmente se desenvolve após infecções bacterianas e virais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano, no mundo, ocorrem entre um e dois casos a cada 100 mil habitantes.
O relato de quem foi acometido pela Síndrome de Guillain-Barré
Em dezembro, a OMS emitiu um alerta global em que associava o zika ao aumento de implicações neurológicas, incluindo a Guillain-Barré. Em 2013, com o surto do vírus, a região da Polinésia Francesa - onde houve um aumento em 20 vezes do número de casos do zika - registrou que, entre as síndromes neurológicas seguidas da infecção pelo zika, a SGB era a mais comum. No Brasil, o Ministério da Saúde reconhece que o zika vírus pode causar a doença, mas não há dados nacionais de ocorrências da SGB. Um levantamento oficial desses números esbarra no fato de que a síndrome não é de notificação compulsória, ou seja, seu registro para monitoramento não é obrigatório.
Evolução de quadro pode levar à paralisia
A doença afeta os chamados nervos periféricos, que conectam o cérebro com a medula espinhal, responsáveis por enviar os comandos de movimento para o resto do corpo, e se desenvolve quando o sistema imunológico passa a produzir anticorpos contra a bainha de mielina, revestimento que garante o bom funcionamento dos nervos. Quando essa estrutura é danificada, a capacidade de realizar movimentos básicos é comprometida. Rapidamente, a evolução da doença pode causar a total paralisia do corpo, incluindo a face e os músculos da respiração, como o diafragma. O risco de morte não chega a 10% das vítimas da doença.
Fiocruz comprova relação entre zika e Síndrome Guillian-Barré
Foi em Pernambuco onde médicos e pesquisadores identificaram o vírus transmitido pelo Aedes agypti em sete pacientes com a síndrome. No Estado, em 2014, foram notificados nove casos de SGB. Em 2015, entre janeiro e julho, foram confirmados 46, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. Na Bahia, até 21 de dezembro de 2015, 177 casos de complicações neurológicas foram notificados. Destes, 65 foram confirmados como SGB e 91 ainda permanecem sob análise.
- Depois que foi confirmada a epidemia de zika no Nordeste, percebemos o aumento do número de casos neurológicos. Alguns vírus têm afinidades com o sistema nervoso central quando comparados a outros. Não é exclusivo do zika, com a dengue também há relatos de que a doença leva a quadros neurológicos, mas não com a frequência com que tem se observado. As duas consequências mais graves decorrentes dessa epidemia de zika seriam a microcefalia e a Síndrome de Guillain-Barré - afirma Carlos Brito, professor da Universidade Federal de Pernambuco e pesquisador colaborador da Fiocruz que conduziu as pesquisas que relacionaram o zika com a síndrome.
OMS emite alerta mundial para zika e sugere isolamento de pacientes
No Rio de Janeiro, a notificação de casos de Guillain-Barré tornou-se obrigatória desde junho de 2015. Desde então, segundo a subsecretaria de Vigilância em Saúde do Estado, foram notificados 11 casos suspeitos da síndrome, sendo que cinco apresentaram anteriormente sintomas do zika vírus, como manchas avermelhadas na pele. Quatro casos ainda seguem sob investigação.
A Secretaria Estadual de Saúde alega que não há registros do número de casos da síndrome no Estado. Ainda que o vírus por enquanto não circule no Rio Grande do Sul, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, atentos à situação no resto do país, médicos já planejam reuniões para debater medidas caso haja um aumento de internações por doenças neurológicas. Alessandro Finkelsztejn, coordenador do ambulatório de esclerose múltipla e outras doenças desmielinizantes, que inclui a Síndrome de Guillain-Barré, afirma a situação é alarmante.
- Estamos preocupados com essa epidemia de zika. Em outros locais, como na Ilha de Yap (no Oceano Pacífico), a situação foi bem grave, quase 1% da população chegou a desenvolver alguma doença neurológica. Aqui no país, se ocorresse, não haveria nem leitos. Vamos rever as medidas que outros países tomaram durante o surto para nos prevenirmos - afirma.