Em 2013, o Hospital de Pronto Socorro de Canoas (HPSC) criou sua comissão interna de captação de órgãos para transplante. Em 2015, passados apenas dois anos, o serviço da Região Metropolitana já é o que mais consegue doadores no Rio Grande do Sul.
De janeiro a julho, foram 15 as pessoas com morte encefálica que tiveram os órgãos liberados pela família no hospital. Em todo o Estado, no mesmo período, houve 141. Isso coloca o HPSC na posição de fonte de mais 10% dos doadores gaúchos e de um possível exemplo a ser seguido para ajudar a reduzir a fila de espera por órgãos.
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O aproveitamento da instituição também impressiona. No hospital, só 21% das famílias de pessoas com morte encefálica se negaram a oferecer os órgãos. No Estado, segundo dados da Central de Transplantes, a proporção de negativas é bem superior. No melhor mês, março, ficou em 28%. No pior, janeiro, chegou a 55%.
Na avaliação de Caroline Salim Schneider, coordenadora da UTI e da comissão intrahospitalar de doação de órgãos e tecidos para transplantes, o hospital melhorou seus indicadores e passou a destacar-se graças ao treinamento dos profissionais e ao reforço de uma cultura interna.
- Disseminamos essa cultura entre todos os funcionários do hospital e, com isso, começamos a identificar mais cedo os potenciais doadores, a manter melhor os órgãos depois da morte encefálica e a oferecer um apoio mais qualificado às famílias - afirma.
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A precocidade no diagnóstico é fundamental porque, depois da morte cerebral, os órgãos tendem naturalmente a perder função, o que inviabiliza o aproveitamento em transplante. Com profissionais treinados, a largada do processo ocorre mais cedo e reduz esse risco. Mas essa agilidade seria inútil se a abordagem aos familiares do paciente, no momento delicado em que eles acabam de ser comunicados da morte, acabasse por ser infrutífera. Para contornar isso, o hospital oferece um suporte psicológico aos parentes desde o momento da internação e mantém uma equipe de 12 pessoas treinadas a tratar do tema. Sempre há alguém de plantão ou em sobreaviso para realizar a tarefa.
- A dificuldade é tratar da possibilidade da doação no momento em que a família está muito abalada. Em primeiríssimo lugar, é importante dar o apoio que essa família precisa - diz Caroline.
Cristiano Franke, coordenador da Central de Transplantes do Estado, afirma que ainda está em avaliação a divulgação do ranking dos hospitais que mais captam doadores de órgãos, mas confirma que, no momento, o HPSC é o primeiro colocado. Ele observa que a instituição da Grande Porto Alegre também tem resultados bons.
- A efetividade das equipes não é sempre a mesma. Varia de instituição para instituição. Não temos um ranking para dizer se o Pronto Socorro de Canoas é mais efetivo do que os outros. Mas é um dos hospitais com envolvimento grande e desempenho favorável. Em Canoas, a equipe é comprometida e tem um nível técnico muito bom - diz.
Segundo Franke, a Central está avaliando as boas e as más práticas adotadas pelos hospitais gaúchos para disseminar o que funciona e desencorajar o que não tem êxito. Ele considera que um dos aspectos mais importantes para colher bons resultados é o comprometimento do hospital, por meio de sua direção e da equipe que trabalha na captação:
- As doações têm de estar na pauta do dia a dia, têm de estar na mesa da direção do hospital, assim como estão os outros assuntos: a segurança do doente, a mortalidade, as infecções. Mas muitos hospitais não conseguem colocar isso em prática.
Até a sexta-feira, segundo dados da Central de Transplantes, o acumulado de doadores de 2015 no Rio Grande do Sul era de 172. No ano passado, no mesmo período, foi de 131.
*Zero Hora