Neste começo de ano, já foram a rematrícula, os novos materiais, uniformes que caibam nas crianças sem deixar a barriga aparecendo, como estava acontecendo no final do ano passado. Separei uma grana pro lanche, comprei uma mochila nova depois de um ano ouvindo lamúrias. Faltam o transporte escolar, o livro de inglês que ainda não chegou na livraria, e estou considerando cortar a NET, mesmo sabendo que uma viciada em Peppa Pig pode se tornar perigosa com a abstinência. Mas a verdade é que está caríssimo ser pai.
Multiplique esses gastos por 12 meses, e esses 12 meses por cerca de 25 anos e teremos calculado o custo de um filho, que deve ser mais de dois milhões de reais, e não estou colocando aí nenhum casamento chique nem os gastos com a lataria do meu carro, nos primeiros anos de direção das crianças. São dois milhões de reais que estou investindo com a esperança de que sejam pessoas brilhantes, mudem o mundo, descubram a cura do câncer. Estou investindo essa dinheirama para ser acordado de madrugada porque as meninas estão com medo do escuro. Estou pagando pra pegar trânsito no primeiro dia de aula.
Estou pagando para ver apresentações de final de ano. Estou pagando por desenhos feitos só com uma cor, onde apareço sem nariz. Estou pagando satisfeito por isso, preciso dizer. Estou pagando esta dinheirama para ser chamado de herói quando mato uma barata. Estou pagando essa pequena fortuna para pegar a bola que caiu no terreno do vizinho e ser aplaudido pelas pequenas. Estou pagando para saber tudo, sobre todas as coisas, e ter respostas para todas as perguntas. Estou pagando até barato por isso.
Estou pagando uma pechincha por abraços. Cada abraço de uma menina de três anos me economiza uma fortuna que eu gastaria com psiquiatras. Cada beijo de boa noite me alivia a conta do cardiologista. Cada "eu te amo" me afasta do hospital. É um achado o que estou pagando por tudo isso. Que sorte gigantesca ter achado essa barbada. Que promoção maravilhosa essa de ser pai.