- Eu não penso em nada. Só na minha meta: largar e chegar - conta a curitibana Zilma Rodrigues da Silva, 41 anos, quando lhe perguntam sobre o que se passa na cabeça de alguém que sai a correr tantos quilômetros por aí.
A ultramaratonista, que hoje mora em São Paulo, assume que não é do tipo que cai da cama com aquele despertador natural: "Puxa, que vontade de treinar hoje".
- Falo até que não gosto de correr - brinca.
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Os treinos de muitas horas não agradam tanto a Zilma porque ela diz ser competitiva. Gosta mesmo é de estar em uma prova de longa distância para vencer seus próprios limites.
- Você se torna mais humilde - explica.
Em 2015, a consultora de marketing se encaminha para a oitava Comrades, uma das provas de longa distância mais famosas por juntar corredores de todo o mundo. A competição ocorre há 90 anos na África do Sul e tem toda a verba revertida para instituições sociais.
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- Ouvi falar da prova quando tinha oito anos. Me apaixonei. Aprendi muita coisa com a Comrades - conta.
Mas aí, algum dia, mandaram o currículo dela para a Spartathlon, prova realizada na Grécia que tem 246 quilômetros. E lá se foi Zilma, confiante, para a disputa em 2012. Desde então, já correu três edições. Nunca conseguiu terminar mas, já na primeira tentativa, parou apenas depois de completar 202 quilômetros, passadas 29 horas de prova:
- Senti muita fome. E estava 49°C ao sol. Depois, nos trechos de montanha, fazia frio.
Ela reconhece que ainda lhe falta experiência. Mas também já aprendeu muito desde a primeira maratona de Curitiba, em 2003, quando terminou a prova mesmo depois de dividir um único carboidrato em gel com uma amiga que corria com ela, em mais de 4h40min.
- Hoje sou uma pessoa bem mais disciplinada. Mas é bom lembrar: não façam como eu! Não é para ninguém começar direto com maratona! - faz questão de ressaltar.
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