Existe uma ambivalência curiosa na relação entre os leigos e seus médicos. Quando o paciente agenda a primeira consulta, tudo o que ele espera é que este pequeno gênio que atravessou seu caminho seja um legítimo representante de Deus na Terra, e que dessa fusão divina resulte o fim da angústia e a saúde de volta. Quanto maior o susto, maior a gratidão inicial, que tende a se diluir na medida em que o tempo passa, e começa a crescer a convicção interior que, forte como ele sempre foi, a cura era inevitável. Portanto, o médico não tem de ficar se achando muito, porque, na cabeça do ex-paciente, a contribuição médica para o sucesso do seu caso mirrará numa proporção estimada em 20% ao ano. De onde esta cifra? Simples, depois do quinto ano, é normal que o Natal passe em branco, substituído pelo afeto dos agradecidos mais recentes.
Palavra de Médico
J. J. Camargo: Com a ajuda de Deus
Há quem costume esperar que o médico encerre sua angústia, mas esquece a gratidão com o tempo