— Quando eu uso touca, eu me acho estranha.
As palavras acima foram ditas por uma mulher careca que passa pelo tratamento contra o câncer de mama. A afirmação pode surpreender quem imagina que cobrir a cabeça e afastar a imagem de doente seja uma prioridade para as pacientes oncológicas. Entretanto, a produtora e decoradora de bolos Isabel Pires, 56 anos, mostra que isso não é uma regra. Zero Hora conversou com ela durante um atendimento na Clínica Escola de Estética e Cosmética da Fadergs, onde Isabel participou de uma consulta de visagismo, ação alusiva ao mês de outubro.
— Eu não consigo me achar feia sem cabelo. Me acho bonita! Eu sou assim agora. Se eu não me aceitar, como vou querer que os outros me aceitem?
Para ela, o autocuidado em meio às sessões de quimioterapia é sobre respeitar a própria vontade e o momento que está vivendo, ainda que isso signifique assumir as mudanças externas que o câncer provoca no corpo. Mas ela destaca, também, um aprendizado que está sendo essencial na sua trajetória: o poder que há em tomar as próprias decisões.
É por isso que Isabel conta com orgulho de quando raspou a cabeça, mesmo que ainda tivesse uma boa quantidade de cabelo. Ela lembra que, com o início da quimioterapia, no mês de junho, vieram também as dores no couro cabeludo e a gradual queda dos fios. Então, ela fez um corte bem curto. Mas as dores continuaram piorando, e Isabel decidiu que queria parar com o sofrimento. Mais do que isso: ela fez com que a inevitável imagem de sua cabeça sem cabelos viesse a partir de uma escolha sua, e não de uma imposição do tratamento.
— Eu digo que 90% do tratamento oncológico tem que ser direcionado para a mente. Se a pessoa tiver o que fazer, algo que a motive, se tiver onde se basear, ela vai conseguir passar essa atitude para o corpo e deve se tornar mais fácil. A gente ainda é capaz de tomar atitudes — enfatiza.
E é por isso que o conselho que Isabel gostaria de dar para todas as pacientes em tratamento contra o câncer de mama é o de “fechar os ouvidos”. A realidade de cada paciente é individual e a relação de cada uma com a própria imagem também, por isso, o importante é que uma não compare a sua trajetória com a da outra.
"O trabalho do profissional é ouvir o que a paciente quer e personalizar a imagem de quem ela é hoje"
Para Isabel, o autocuidado em meio ao tratamento de câncer significa manter a mente ativa e não tentar mascarar sua condição. Já para outras pacientes, a elevação da autoestima pode estar atrelada a testar perucas e lenços diferentes e investir em maquiagem. Em todos os casos, o importante neste momento é que a vontade da mulher esteja no centro de qualquer decisão.
— É isso que faz a oncoimagem. Esse termo dá nome ao trabalho feito com a imagem de pacientes oncológicos, tratando a autoimagem como um benefício para que se sintam bem. Para isso, se usa o visagismo, que na verdade é uma personalização do cuidado estético. O trabalho do profissional é ouvir o que a paciente quer e personalizar a imagem de quem ela é hoje — explica a professora do curso de Estética e Cosmética da Fadergs Claudete Carvalho.
O cuidado estético durante o período de luta contra o câncer pode ser uma ferramenta para promover bem-estar. A professora explica que as cirurgias e sessões de aplicação da medicação são questões privadas do tratamento, enquanto a queda de cabelo, a retirada da mama e as deformações na pele são facetas sociais, que denunciam a doença, por isso são difíceis de lidar.
Claudete reforça, ainda, que o autocuidado não é apenas uma questão de vaidade. Profissionais da área da beleza podem orientar as pacientes sobre produtos e cuidados com a pele sensibilizada, além de utilizar técnicas de visagismo para basear a escolha do melhor tipo de peruca, chapéu ou lenço.
— A pessoa está passando por um tratamento de câncer e está viva. A estética pode ajudar a passar por isso com mais beleza, seja através da maquiagem, da micropigmentação de reconstrução, do visagismo ou de outras técnicas.
Produção: Caroline Fraga