Passados dois anos e meio desde o início da pandemia, apenas um entre os 497 municípios do Rio Grande do Sul segue sem nenhuma morte por covid-19: Novo Tiradentes, na região Norte, conforme dados de quarta-feira (13) da Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS) analisados por GZH.
A cidade, localizada a quase 60 quilômetros de Frederico Westphalen, é pequena: são 2,2 mil habitantes, que têm à disposição quatro escolas e uma unidade básica de saúde – quem precisa de hospital precisa ser transferido a Rodeio Bonito, a cerca de 15 quilômetros de distância.
Em toda a pandemia, foram registrados 457 casos em Novo Tiradentes. Destes, apenas dez precisaram de internação, mas nenhum foi entubado. Atualmente, há apenas cinco casos ativos de covid-19 em Novo Tiradentes.
Uma soma de fatores demográficos e geográficos contribuem para fazer da cidade a única sem óbitos por coronavírus. Como o perfil do município é agrícola, a maior parte da população vive espalhada na zona rural, o que faz a covid-19 dispersar menos – em zonas urbanas, a maior densidade populacional favorece a transmissão. Mais de 30% da população é idosa, o que ajuda para um isolamento maior.
Na visão da prefeitura, a intimidade entre a população de Novo Tiradentes faz os vizinhos se conhecerem e zelarem uns pelos outros. Servidores do Sistema Único de Saúde (SUS) sabem o nome de todos os habitantes pelo nome e os visitam em casa, ligam ao telefone e enviam mensagens.
— Claro que o fato de o município ser menor ajuda a ter o controle melhor dos pacientes. Em município pequeno, todo mundo acaba se conhecendo, um vizinho conhece o outro, as pessoas nos ajudavam, falavam (aos servidores do SUS): “ó, vai lá que fulano não tá bem, tá doente”, e a gente acaba indo, fazendo a busca ativa, não deixa os sintomas piorarem — diz Marilia Della Pasqua, secretária da Saúde e Assistência Social de Novo Tiradentes.
Os dados mais recentes, do fim de março, apontam que 85% de toda a população da cidade tomou duas doses da vacina contra a covid-19 e 60% recebeu o reforço, patamares considerados altos. O chamamento para a vacinação ocorreu na rádio local, nas escolas e com servidores do SUS visitando as casas da população.
— A gente realiza testagem e monitora o paciente, liga, escreve pelo WhatsApp, faz o monitoramento diário ou a cada 48 horas, a depender de como ele está. Em cima do que o paciente relata, a gente faz exames complementares, como raio-x ou tomografia. A gente não deixa agravar o sintoma dos pacientes — acrescenta a titular da Saúde municipal.
A técnica em enfermagem aposentada Solange Morlin, 64 anos, teve covid-19 no fim de março. Com três doses, ela disse que ficou bem e já está recuperada. Quando teve o resultado positivo na farmácia, conta, foi ao posto de saúde. Saiu de lá com oxímetro emprestado, dipirona, xarope para tosse e azitromicina, remédio que a ciência não reconhece como eficaz contra a covid-19.
— Fui monitorada todos os dias. Eles me ligavam, perguntando como eu estava. Eu tinha aparelho de pressão e o oxímetro que me emprestaram, aí pediam quais eram os meus sinais (vitais). Minha filha teve covid na época que não tinha vacina e também ligavam todo dia. Aqui a gente é bem atendido — afirma a aposentada.